01.

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- Conheceu meus segredos mais sombrios, conheceu minhas verdades mais dolorosas, conheceu minha face mais desonesta, conheceu minha vida tão real e conheceu minha versão mais odiada, mas não conheceu minha nova versão, minha nova eu, não me permitiu lhe mostrar, não quis que eu entrasse, me afastou dos seus caminhos, e me obrigou a viver com a dor do arrependimento. Por meses tive que respirar sozinha o que por anos respirava com você, por meses tive que dizer que não existia "nós", pois você me afastou. E eu mereço, não? Merecia tanto que não reclamei, eu sofri, como você sofreu, eu chorei, como você chorou, e me levantei, como você levantou, mas não esqueci, como você esqueceu, lutei, mas não foi o suficiente, quebrei a cara outra vez, assim sobram apenas cicatrizes, que provam que houve dor ali um dia, mas que mostra, que um dia aquela dor parou, não por quê eu quis, ou por quê cansei, mas porque um dia teve que se curar, ela não aguentava mais estar ali, infeccionada, dolorida, doía muito ao ser lembrada, ela teve que se curar, e eu não sabia que iria curar, mas curou, e eu não sei se gostei dessa sensação. A sensação de não ter você, de saber que você não me ama e simplesmente me conformar com isso, essa sensação me dá medo, me assusta, mas eu não posso correr. Do que adiantaria fugir, se você está em todos os lugares, no meu vestido favorito, que usava e fazia você sorrir e me elogiar, da maquiagem que você fazia questão de exaltar, até mesmo daquela macarronada que você levava para mim sempre que eu pedia. Isso prova que eu não posso correr de você, teria que me esconder do mundo, mais do que normalmente já me escondo, agora tenho que me conformar com suas risadas longe de mim, com suas vitórias sem poder comemorar com você, só tenho que sorrir de longe e dizer "Mais um sonho nosso que você realizou sozinho". 

Olho para a turma à minha frente e percebo o papel de boba que estou fazendo, seria possível elas acharem mesmo que meu poema não era para alguém específico? 

-... é, parabéns querida, pode se sentar. -Não muito aliviada, quase como um flash, me sento e evito contato visual com qualquer pessoa desta sala. 

A aula se passou, mais demorada do que normalmente, tenho certeza que demorava mais pela minha insistência em olhar o relógio a cada um minuto. Eu tinha certeza que eu apareci em algum assunto desses grupos de pessoas, até porquê, Angelina, talvez a garota mais bonita que eu já pude chegar perto, não parava de me encarar, sorria de canto e falava algo baixinho no ouvido de suas amigas, algo me dizia que mesmo na faculdade, haviam crianças.

E finalmente ouço o tão sonhado "vocês estão liberados".

-Srta Esperanza, poderia aguardar. Quero falar com você. -Odiava quando meu nome era pronunciado, ainda mais quando pronunciavam errado ''Esperança''.

Não digo nada, apenas solto um suspiro e termino de guardar meu material.  

-Posso lhe fazer uma pergunta mais pessoal? -Sra Romana que antes estava na porta da sala, diz se sentando uma cadeira a frente da minha quando finalmente não havia mais ninguém na sala.

-Claro.

-Você tem acompanhamento psicológico? -O que?

-... não. -Mas gostaria.

-Achei seu poema um pouco... não sei como dizer. -Ela parecia nervosa, o que me dava vontade de rir.

-Dramático? -Pergunto.

-Isso. -Ela sorrir.

-Se a sra tem duvidas se eu já passei por algo parecido, a resposta é não. -Digo, até porquê eu tinha exatas 0 experiências amorosas, mas eu sofro escutando Marilia Mendonça pensando nos meus namorados imaginários me traindo. -Mas a proposta da atividade era está, não?

Façam um poema dramático, enfatizando uma realidade já vivida ou apenas presenciada. -Foram as palavras dela.

-Achei forte, apenas. -Ela suspira e até parece menos nervosa. -Fez um bom trabalho. Parabéns Esperança.

𝑶 𝒊𝒎𝒑𝒐𝒔𝒔𝒊́𝒗𝒆𝒍 - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora