××× Ludmilla Oliveira×××
Quando eu abrir a porta, esperemos até Paty vindo pedir uma xícara de açúcar. Mas eu jamais, na minha mente humilde pensaria, sequer cogitaria, uma ideia de Brunna estar na minha porta. Molhada, arrasada e chorando. Puta merda. Chorando.
-- Bruna? - Foi uma coisa única que eu consegui dizer. Minha expressão deve ser impagável.
-- desculpa. Eu... eu sei... só... desculpa... - Ela fungou, e não colocou as mãos no rosto. Vê-la tão encolhida, vulnerável e triste fez meu coração doer. De alguma forma, alguma coisa nesse estilo. E eu odiei a sensação.
-- Vem, entra. - Abri espaço, e quando vi que ela não se mexia, eu a puxei para dentro. Logo depois fechar uma porta.
Brunna tremia, sem parar. E não me incomodou nada que ela estava ensopando o meu piso que a empregada tinha limpado naquela tarde. A coisa que mais me incomodou foi como ela parecia sozinha. Sozinha e muito vulnerável. Eu não gostava de ver Brunna sozinha e vulnerável. Não gostei nenhum pouco.
-- O que aconteceu? - Falei baixo, através de seus soluços difíceis. O pior som que eu havia escutado em toda a minha vida.
-- Ela fungou e limpou. - Eu... - Seu olhar se prendeu por três segundos no meu e eu sinto a pior coisa do mundo. Brunna parecia quebrada, em cacos, destruída, em pedacinhos. Engoli em seco, dando um passo hesitante em sua direção.
-- Quer um copo d'água? - Consultei baixinho, assistindo Brunna esfregar os olhos e limpar o nariz na manga do moletom encharcado. Ela fungou, tentou dizer algo, mas apenas chorou. - Talvez um... lenço?
Ela assentiu com a cabeça, ainda quietinha, deixando soluços escaparem entre as mãos que tremiam sem parar e cobriam a metade do seu rosto. Peguei um lencinho de papel e entreguei a ela, que assoou o nariz e limpou embaixo dos olhos. Eu peguei e joguei fora. Voltando para onde Brunna estava. Não tinha se mexido. Tremia de frio. E sua boca estava azulada.
-- Brunna... - Ela me olhou, eu nunca vi seu olhar tão perdido assim. Existe uma dor devastadora está presente no seu olhar que tanto me encantava.
-- Eu estou sozinha. - Ela sussurrou. Tão baixinho que eu já li seus lábios. - Totalmente.
-- Não está sozinha. - Me numa distância um pouco dela. - Você tem... - Pensei rapidamente. - Sua mãe. - Os olhos dela se encheram d'água, seus lábios tremam.
-- N-Não. - Gaguejou.
Pisquei várias vezes, e tentei entender, mas antes de algo coerente formar na minha cabeça, Brunna já tinha respondido. Sua voz rouca, baixinha e trêmula.
-- Ela morreu. - Várias, várias e várias perguntas rodaram minha cabeça naquele momento. Mas eu não consegui fazer nenhuma.
-- Eu... eu... - Gaguejei, tentando falar algo inteligente.
-- Eu posso te abraçar? - Ela perguntou. Meu filho abandonado na chuva. - Por favor?
Depois disso, eu só dei mais um passo e envolvi em meus braços. Brunna estava muito gelada, tremia e chorava. Soluçava, falava coisas sem sentido e fungava. Cada um sentiu a perda de uma forma, claro, eu por exemplo, por seis meses fui parar duas vezes no hospital por coma alcoólico, e quatro por quase overdose. Foi foda pra caralho. Foi muita coisa. Foram os piores seis meses da minha vida. E eu consegui me erguer graças a Marcos e Caio. Caio. Arregalei os olhos, e suspirei vendo que ela estava com seu olhar perdido no chão da minha sala.
-- Tudo bem com o Caio? - Eu tinha que perguntar. Ele era o namorado dela. E meu melhor amigo. Mas Brunna estava comigo, e não com Caio. E isso era errado. E também foi estranhamente agradável. Errado, mas satisfatório. Ela engoliu em seco e deu um passo para trás. Se abraçou, me incomodou muito que ela continuasse a tremer.