Madrugada de sexta pra sábado, 03:46...
Priscila!
Dei um pulo do sofá, assustada após ouvir a porta ser aberta e fechada com brutalidade.
Quando olhei, era só minha mãe. Ela estava com as costas apoiada na porta, os cabelos tudo pra cima, o salto na mão e a cara de assustada.
- Filha do céu, agora é real, eu tô louca!- falou, com os olhos arregalados.
- Oq houve?- perguntei, com o cu na mão.
Não consegui dormir ainda, tô com o cu trancadinho por causa daquele cara que tava escondido na rua me olhando.
Passa nem sinal de wi-fi!
- Eu vi seu pai lá embaixo, no meio da muvuca- jogou os saltos no chão, se aproximando de mim.
Abri maior olhão.
- Q-que? Explica isso, mãe- me arrepiei todinha, sentando novamente no sofá.
- Primeiro eu tava no camarote, olhando o movimento da pista. Aí, eu vi lá no meio da muvuca, um cara de costas, muito parecido com o seu pai. O jeito, sabe? Os ombros largos, jeito de andar. Mas, ele tava com uma roupa bem surradinha e boné, não consegui ver o rosto na hora. Aí eu pensei "será que é um irmão pobre perdido? Vou atrás" e desci pra pista atrás desse menino. O Miguel desceu comigo, acabou que nós ficamos dançando juntos lá embaixo e eu esqueci essa história. Só que aí, eu senti que tinha alguém me observando. Quando eu olho pra cima: pá, tá lá seu pai me encarando- estalou a língua, assustada- o moço que eu tinha visto lá de cima, era ele. Eu acho que ele tá lá embaixo muito incomodado comigo, pq toda hora eu ouço a voz dele e agora até vendo o embuste eu tô. Será que eu tô fazendo alguma coisa de errado, filha? Eu vacilei com o seu pai? Você acha que sim? Fala, pode falar- segurou minhas mãos, com lágrimas nos olhos.
- Ele tá com graça, mãe- neguei com a cabeça- é só pra te assustar, a senhora sabe como o pai é! Deixa ele se revirar no túmulo sozinho, fica em paz- brinquei, a abraçando.
Não contei sobre o moço que estava aqui na rua, já que não queria a preocupar mais ainda. Ela já estava assustada o suficiente!
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