Twenty

1.9K 142 110
                                    


A penumbra irritava Soojin. O branco do teto irritava Soojin. O cinza das cortinas irritava Soojin. As paredes claras irritavam Soojin. Por que Hui tinha que gostar tanto da neutralidade quando se tratava de decoração? Não que Soojin fizesse questão de cores berrantes, espalhafatosas ou quentes, mas ela estava irritada com cada aspecto daquele quarto. Principalmente ela.

Não tinha conseguido dormir, sua consciência não deixou, apenas cochilou em intervalos e só porque chorou silenciosamente e o cansaço veio.

De todas as coisas que poderia fazer, Soojin nunca pensou que, o que aconteceu na noite passada entraria na lista. Por conta de uma bobagem, uma idiotice, um truque de sua cabeça. Preferiu ceder do que lutar contra seu gênio ruim, o seu diabinho.

Se ela ao menos ainda sentisse algo por ele, seria mais fácil de entender, mas ela sabia que o sentimento romântico não existia a tempos, não adiantava a tentativa de empurrar alguém para seu coração quando ele já tinha alguém; não existia desculpas, a coreana não terminou por uma insegurança besta e um medo bobo, ao seu próprio ver.

Infelizmente, no jogo da vida, Soojin não conseguia deixar os dados rolarem pela sorte, tudo tinha que estar organizado, planejado. Ceder um pouquinho do controle soava aterrorizante. Aliás, desde que começou a nutrir algo pela taiwanesa que o controle já não era mais o mesmo, ela estava no piloto automático; aí, veio o beijo, um simples encostar de lábios, e então, a cada dia que passava Soojin tentava, no mínimo, recuperar o controle de si, mas o perdia a cada troca de olhares com Shuhua.

Durante a madrugada, Soojin se fantasiou fugindo com a taiwanesa, para longe de todos, vivendo juntas em algum lugar em que ninguém as reconhecessem, de preferência em algum país em que o casamento de pessoas do mesmo sexo fosse legalizado. Ela até imaginou o formato do vestido, imaginou Shuhua nele, sorrindo daquela forma que tanto amava; podia visualizar a si, vestindo algo semelhante a Shuhua, mas chegando na parte do rosto, Soojin lembrou do motivo de estar ali, com Hui dormindo ao seu lado. Garota irritante, pensou ao ver o rosto de Jiwoo ao invés do seu.

Talvez elas estão ficando e daqui a algumas semanas comecem a namorar.

Para o horror de Soojin, essa teoria que surgiu por pura birra a perseguiu toda vez que tentava se fantasiar com Shuhua, jogando um balde de água frio em qualquer expectativa.

Apesar de tudo, incluindo Shuhua, Soojin sabia que podia ser melhor que aquilo, que no fundo ela se amava o suficiente para esquecer de qualquer baboseira relacionada a ‘'ficar sozinha’’; até entrar na empresa ela estava sozinha, sim? E sempre foi muito bem resolvida, sem sentir falta de um namorado. É só trabalhar nisso, não é? Assim ninguém mais ia se machucar por sua causa.
Nem Shuhua. Nem Hui.

Trabalhar nisso. É.

Soojin bufou, enfiando a cara no travesseiro. Era a quinta vez desde que acordou, seu celular tocava e vibrava. Normalmente ela teria respondido no instante em que ocorresse, mas ela imaginava quem era, e não queria ‘’confrontá-la’’ agora. Soojin estava envergonhada e zangada o bastante consigo para ao menos pegar no celular.

Contudo, ela teria que fazer para cancelar o alarme de toque irritante programado para, checando as horas pelo relógio de pulso, daqui a cinco minutos. Esticou o braço e pegou o aparelho, fazendo uma careta pela claridade excessiva, desligou o alarme. Já que estava com ele em mãos, vasculhou as notificações e qual foi a primeira a aparecer?

- Onde você está? - leu, baixinho. Digitou rapidamente dizendo estar em uma amiga. Em questão de segundos, a mensagem foi visualizada e Shuhua mandou outra mensagem.

"Mande o endereço, estou indo te pegar"

Soojin coçou o olho.

Estou de carro.

Speechless. | SooshuOnde histórias criam vida. Descubra agora