Capítulo quarenta e dois: La promisse

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Nota da Autora:

Alerta: Nesse Capítulo haverá temas mais fortes como violência doméstica e suicídio. Para alguns leitores pode ser gatilho, o conteúdo não muda o fluxo da história, apesar de explicar uma parte importante. Fique à vontade de não ler. Caso queira me manda uma mensagem que eu faço um resumo. 

Deixo aqui o contato do CVV - Centro de Valorização a Vida: https://www.cvv.org.br/. Ligue para 188.

No mais, desejo uma ótima semana para todos.

Ótima leitura!

Opa, esse capítulo é narrado pelo Leon, estavam com saudade dele por aqui?

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(Leon)

- Você vai querer vê-lo? – Menezes questionou olhando para mim no leito de hospital. Eu estava com machucados por todo o corpo e tudo ainda estava doendo desde a surra que meu pai havia me dado. Eu não conseguia entender como as coisas haviam chegado neste ponto. Tudo ainda era muito confuso em minha mente.

- Non. – Neguei balançando a cabeça.

Eu já sabia de tudo. Minha mãe estava hospitalizada em outro quarto. O estado era crítico. Meu pai havia sofrido um acidente de carro com o tio William e estava em estado ainda mais grave. Eu havia ouvido a conversa de Menezes e Fagundes enquanto eles achavam que eu estava dormindo. Eles cochichavam que a situação era grave. Meu pai havia capotado o carro numa avenida e o carro havia batido numa família que estava na calçada. Alguém da família estava em estado grave. Eu os ouvi conversando, falando que meu pai havia dito que fez tudo aquilo de propósito! Meu coração estava batendo muito forte. A minha boca estava seca, olhei para os machucados na minha mão.

Depois de uma cirurgia complicada, meu pai havia acordado. Ele havia dito que queria me ver. Eu não queria vê-lo. Na verdade, naquele momento eu queria que ele desaparecesse completamente da face da Terra. Sentia-me um pouco travesso e rebelde por desejar isso. Só que ele não era alguém fraterno, era um pai ríspido, rígido e que tratava a gente de forma desrespeitosa e rude.

- Tem certeza? – Menezes insistiu.

Eu assenti com a cabeça. – Je ne veux pas... (eu não quero). – falei olhando para meus joelhos cobertos com o lençol branco do hospital. Aquele lugar tinha um cheiro esquisito. Um cheiro que me lembrava um desinfetante muito forte. Olhei para as minhas mãos arranhadas, havia um roxo no meu punho e eu estava pensando onde que o consegui. Havia sido na queda ou na hora que impedi meu pai de avançar em minha mãe?

- Sabe, Leon, eu sei que você passou por um momento muito difícil, então está tudo bem se você não quiser ir. – Menezes colocou a sua mão sobre a minha. Era áspera e grande. Eu o encarei por alguns segundos antes de desviar o olhar novamente para as nossas mãos. – Porém, eu sei que você é muito pequeno agora e, bem, talvez, seja muito complicado de entender, só que é importante que eu te avise que o seu pai, ele...

- Mon père ira-t-il au paradis? (Meu pai vai para o paraíso/céu?)

Menezes apertou minha mão sobre a dele. – Quem sabe, Leon?

- Tudo bem. – Respondi em português, tão claro e natural quanto o meu francês. – Eu falo com ele, tio Menezes.

- Certo. Eu vou falar com a enfermeira.

Estávamos no mesmo hospital, após a cirurgia e melhora, meu pai havia sido transferido para o mesmo hospital que eu e minha mãe estávamos. Talvez, num futuro, isso não fosse feito, afinal, se estávamos naquele estado, a culpa era apenas dele. Só que naquele dia, deixaram. Eu fui colocado numa cadeira de rodas e fui levado até o quarto dele na UTI. Estava com muito medo, meu coração estava a mil e a minha boca estava seca.

A Herdeira - Quebrando as regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora