Se eu soubesse naquele dia o que era injustiça, teria desejado outra coisa ao assoprar as velas. Eu desejei apenas ser a rainha de bateria da Tucanos como faia todos os anos desde os meus quinze anos. Teria desejado que minha mãe estivesse comigo, mais uma vez. Eu ia desejar ter ido com ela e ter a ajudado a sair. Ou ter falado para ela não ir. Nos momentos, mais tristes, penso se eu a ajudasse, talvez os negócios fossem melhores e ela não estaria ali.Talvez, conseguisse pagar uma loja de rua. Estar em outro lugar. Trabalhar menos. Num lugar que lhe desse mais condições de trabalho. Mas, tudo havia ido por água abaixo. Eu não havia feito nada. E por mais que dissessem que não adianta chorar pelo leite derramado, eu chorava. Porque não há quem nesse mundo não fique triste quando perde a própria mãe. Não há como não se arrepender. Quando você perde alguém que ama, você sempre vai querer pensar no e se... Não que isso mude.
Ainda não sabemos voltar no tempo. Se soubéssemos, eu seria a primeira a voltar.
Porém, eu também não era alguém que se deixa consumir pela tristeza. E isso, aprendi com a minha mãe. Porque quem sobrevive é aquele que segue em frente. Se você fica parado vira a presa da situação e é consumido em poucos dias para um buraco difícil de se arrancar. Se você se dá muito tempo livre para pensar em excesso, você não se mexe. Porque pensar é bom, eu deveria pensar mais, mas, só pensar não resolve problema nenhum.
Depois que assoprei as velas, minha mãe me deu uma faca, cortei o bolo de baixo para cima e novamente desejei ser rainha da Tucanos. Eu deveria ter aproveitado um dos desejos. Não aproveitei.
Ao menos, ainda bem, o primeiro pedaço foi para ela. Para minha mãe. Aquele primeiro de junho de dois mil e catorze. Eu deveria saber que seria o último que ela estaria comigo. Eu falaria mais coisas... diria que a amava. Eu diria tudo isso e muito mais. Não disse.
E ela se foi como num piscar de olho.E os meus abriram embaçados. Eram as lágrimas escorrendo. As lágrimas escorreram sem piedade. Eu as limpei, tomei banho e fui para a faculdade. A questão era que meu aniversário estava próximo. E a minha ficha ainda não havia caído. Era a primeira vez que eu iria comemorar o meu aniversário sem minha mãe. Era cruel e dolorido. Eu precisaria de uma ressaca daquelas para sobreviver a esse fato.
Por isso, mandei uma mensagem já comunicando a Patty:
"Porre no meu niver"
Ela respondeu três minutos depois:
"Posso levar o André? Ele curte"
Revirei os olhos antes de responder:"Pls, mas diga que ele volta dirigindo"
Ela estava o namorando! O cara que conheceu na balada e transou na primeira noite, isso é para todos verem que não existe uma regra. Mas, pelo amor de Deus, também, no caso dela foi uma exceção, senão todo mundo que se conhece ia começar a namorar o João baladeiro, e vamos ser sinceras, isso está muito longe de ser realidade. O problema é transformar exceção em regra. Tem exceção para tudo, bem como há regra para tudo.
Fiquei pensando até ir para a faculdade se iria chamar Pedro ou não. Ele nem sabia quando era meu aniversário. Apesar de eu saber o seu.
No fim da aula, resolvi que ele que devia escolher se queria ou não ir para a balada no meu aniversário. – O que acha? – perguntei.
Ele se espreguiçou na carteira, pareceu pensar um pouco, deu um dos seus sorrisinhos preguiçosos, que só ele sabe dar, e acenou que sim junto com um bocejo. Eu acabei bocejando também.
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A Herdeira - Quebrando as regras
Chick-LitCacau está num nova fase de vida: faculdade, trabalho e aulas de etiqueta. Tudo parece certo e encaixado... Se ela não fosse tão fora de si e tivesse disposta a quebrar todas as novas regras que precisa aprender. Ela não só foi presa no primeiro de...