Capítulo Oito: Filmagem

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- Até parece que eu ia deixar você atuar sem treinar, querida. – Mel disse rindo, enquanto me via repetir a mesma cena pela quinta vez. Era um workshop. Onde todo mundo que ia participar do clipe tinha que interagir entre si. Menos Leon que deu um jeito de dar no pé com a promessa de que ia fazer um treino antes da cena dele. Meu par era a própria Mel. Primeiro fizemos algumas atividades em grupo, o professor de teatro, um velho careca que eu já havia esquecido o nome, também nos ensinou a mostrar as nossas expressões. E agora íamos fazer um pequeno exercício. Éramos duas amigas que não nos víamos há muito tempo. E eu precisava abraçá-la como se eu não a visse há anos e dizer coisas legais sobre a personalidade dela (1- não há nada de tão incrível na personalidade Mel, 2 – eu não a conheço direito, 3 – tudo o que eu sei é sobre o namoro conturbado dela com Adam).

Mas, eu era dura ao abraçá-la ou exagerada. O professor de teatro insistia. – Imagine uma amiga, uma amiga que você não vê e gosta muito.

- Estou quase desistindo de você... – Mel comentou entredentes. Claramente ela não queria passar mais cinco horas comigo (já era duas da tarde e tudo o que havíamos comido foi um lanchinho que alguém distribuiu). Na verdade, nem eu queria. A sorte era que eu não filmaria com ela, propriamente dito. Eram filmagens separadas. Porque as partes dela eram coreografias e coisas assim.

Eu olhei para Mel, o seu corpo mignon e a sua carinha de anjo disfarçado. Não havia no mundo amiga minha parecida. Pensei em Patty, mas ela era tudo o que havia me sobrado... E era mais presente do que muitas outras pessoas. Mas, então, eu pensei em minha mãe.

E como um milagre, pela sexta vez, já cheia de esperança, eu me vi encarando um personagem pela primeira vez na vida. Eu sorri como sorria para minha mãe, caminhei em passos confiantes e puxei Mel para um abraço. Não era um abraço esmagador ou um de coleguismo. Era um abraço daqueles apertados gostosos. Soltei-a em tempo porque havia a necessidade de encarar o seu rosto.

- Senti sua falta, sua babaca. – YES! Sim, essa era a fala que eu precisava dizer.

Mel, que pelo que vi sabia mais do que rebolar e fazer clipes polêmicos, deu um tapinha no meu ombro. – E eu a sua. Ainda continua a mesma coisa, não mudou nada, não é?

- O tempo passa, mas algumas coisas ficam.

E o professor bateu palma. Pronto, um workshop com uma cena acertada e bastou. Logo fui finalmente para o set de filmagem. Depois de mais vinte e cinco cenas, vinte porque precisei refazer... Não dava para imaginar alguém em todas as cenas. Eram três cenas. Filmamos ao menos vinte a trinta minutos de cada cena, refazendo partes e estendendo mais do que o planejado para entrar. Pelo que entendi posteriormente na edição tudo pode mudar. Filmamos uma cena minha me trocando para trabalhar (Graças a Deus, eu não precisei ficar pelada!). A cena era as roupas caindo no chão e depois eu aparecendo com o uniforme de garçonete. Filmei a cena trabalhando e do chefe brigando comigo. Foi incrível!

Paramos era mais de meia noite. Liguei para Menezes me buscar. Mas, antes dele atender, lá estava o meu priminho me aguardando.

- Alô. – ouvi a voz de Menezes ao fundo, mas por algum motivo não falei nada por alguns segundos. Balancei a cabeça. Eu não podia ficar surpresa. Não era para mim.

- Oi, você vem me buscar? – perguntei.

- O Leon disse que faria isso para mim.

- Traidor. – respondi com raiva.

- Ele insistiu muito.

- Traidor. – e desliguei.

A Herdeira - Quebrando as regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora