Capítulo Dezenove: Recomeçando

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As palavras não vieram com a facilidade que imaginei que viriam. – Desculpe. Era tudo o que pensei em dizer. Mas, lá na garganta estava entalada mais palavras. Queria dizer: "Por favor, Pedro me desculpa. Eu não queria que fosse desse jeito. Eu queria que as coisas fossem de outra forma." Mas, nenhuma dessas palavras saíram da minha boca. Fiquei o encarando como um peixinho dourado que ficava abrindo e fechando a boca sem parar.

- Ok. – ele disse por fim. – Sem problemas.

Estávamos num café no centro da cidade. Era domingo e foi o único dia que conseguimos nos ver. Era minha folga e eu não sabia se existia um lugar para terminar algo que nem começou.

Ele segurou a minha mão com ternura. – Olha, não se preocupa, somos amigos, não somos?

Fiquei admirada com ele sendo mais adulto do que eu, que era anos mais velha que ele, porém, que estava prestes a chorar por tomar uma das atitudes mais adultas na vida.

- Sim. – assenti e me debulhei em lágrimas gordas que rolavam pela minha bochecha.

Ele beijou meu rosto. – Relaxa, relaxa, de boas... – disse num tom de voz amigo.

Eu assenti. Terminamos o café e depois cada um foi para um canto. Voltei no ônibus pensando se essa seria a atitude mais certa a se tomar. Era algo que pensei que faria apenas lá para agosto... Mas, Leon estava tão certo, não estava? A gente precisava começar sem amarras. Não namorar assim... Começar de novo de um jeito simples e comum.

Por isso, quando cheguei no Hotel e fui correndo para o escritório do Leon, quase caí dura quando me dei conta de que ele não estava lá. Então, não me contive, corri para a rua e peguei o primeiro ônibus que eu sabia que me levava para o apartamento dele.

Quando pedi para o porteiro chamá-lo, eu não imaginei que a porta se abriria e que eu entraria pela porta da frente no apartamento dele... Quando minha memória mais marcante havia sido sair pela porta dos fundos, como uma fugitiva...

- Olá. – ele me disse assim que abriu a porta do apartamento. Estava vestindo uma calça moletom cinza e uma camiseta branca. Um verdadeiro traje de domingo.

- Oi. – a minha voz saiu tímida.

- Hmm... priminha, devo dizer que estou um pouco curioso para saber o que te traz aqui em pleno domingo, - ele olhou o relógio no pulso. – às 17h. Isso tudo é saudades?

- Quem disse que sinto saudade?

- Achei que sentisse.

- Não vai me dizer: entre, por favor?

- Entre, por favor. Gostaria de uma xícara de chá? – ele me deu espaço para entrar.

- Você está vendo Chaves demais. – falei entrando no apartamento. Fazia um tempo que não pisava ali, por isso, estranhei um pouco. O cheiro daquele lugar era todo do Leon do hall ao banheiro. Tudo parecia ser de um jeito dele mesmo.

- E o que faz você aqui, professor Girafales? – ele perguntou rindo e entrando na brincadeira.

- Nada, só estava passando por aqui.

- E por isso resolveu vir me visitar? Em um domingo?

- É, isso mesmo.

- Pode se sentar. – apontou para o sofá.

Obedientemente eu fiz o que ele apontou. Sentei e fiquei olhando para ele. Leon fechou a porta e foi para a cozinha. – Quer chá?

Agora a pergunta era séria. – De camomila.

Eu sentia que precisaria de um chazinho de camomila para acalmar os meus ânimos.

- OK. – ele disse e colocou água numa chaleira, depois a colocou no fogão. – Enquanto, a água ferve você pode me dizer porque está aqui de verdade. Duvido que veio porque passou por aqui. Ainda mais no seu dia de folga.

A Herdeira - Quebrando as regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora