Capítulo Quinze: Confissão

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- Nesse momento, - o padre falou. A sua voz era firme e grave. Ele era muito novo para ser um padre. Mas, mesmo assim parecia transmitir muita energia. Deveria ter no máximo 35 anos, mas facilmente eu daria 30. Ele não tinha muitas rugas ou vincos na face. Entretanto, falando parecia um velho. - peço um momento se silêncio para todos os entes queridos que aqui lembramos. Um ano de Selma Almeida (checar), um mês de Bruno Álvares, Gretchen de Lima, Cintia Alves da Silva, sete dias de Antônio Carlos Pereira Gonçalves.

Eu escolhi uma igreja perto da minha antiga casa, porque tinha certeza que era assim que minha mãe gostaria.

- Peço que rezemos às suas almas. Pai nosso, que estais no céu...

Após um minuto de silêncio, o padre puxou a reza e todo mundo acompanhou. Olhei para o lado. Patty e sua família estavam ao meu lado. Na fileira atrás de nós, estava Vera, Jacqueline, Leon, Menezes e Fagundes. Era um momento muito familiar, por isso, não havia chamado muitas pessoas. Muito íntimo.

- Amém.

O padre falou um pouco sobre a vida, depois falou sobre a catequese, crisma e sobre o grupo de jovens. Convidou a todos a participar da quermesse que estava acontecendo nos fins de semana e depois convidou as pessoas da terceira idade a participar de um encontro que aconteceria no próximo sábado.

- Vá em paz e que Deus vos acompanhe. - ele disse e fez o sinal da cruz.

- Amém. - todo mundo respondeu.

A banda começou a tocar e cantar um cântico que eu desconhecia. E as pessoas aos poucos foram saindo da Igreja. Algumas ficavam e cantavam.

Fazia tempo que eu não ia a uma Igreja. De certa forma, eu não era religiosa. Mas, ficava feliz de sentir essa paz dentro de mim. Sentia como se minha mãe estivesse comigo, abraçando - me e me beijando com carinho.

Lembrei que ela sempre tentava ir à Igreja. Também me lembrei de um padre que sempre estava na missa. Mas, não era esse de agora. Resolvi me aproximar desse padre. - Oi. Tudo bem?

- Olá, tudo e você, minha filha? - Era absurdo um cara jovem como esse me chamar de filha.

- Padre Miguel, sou muito nova para me chamar de filha. - resmunguei.

Ele sorriu como se lembrasse de algo e depois voltou o seu olhar para mim. – É, - concordou. – hábito. Está bem?

- Sim. Eu queria saber onde está aquele outro padre, de cabelinho branco.

- Ele se foi.

Fiquei chocada. – Nossa.

- Perdão, quis dizer que ele está em outra paróquia. – ele explicou sorrindo. O sorriso dele era bonito. Era um padre que deveria ser repleto de maria-hóstia.

Eu ri. – Cruzes Padre. – balancei a cabeça. – Eu queria saber se posso me confessar.

- Me dê uns minutos.

Eu não queria propriamente me confessar. Eu não me considerava religiosa. Mas, imaginei que um padre saberia o que me dizer. Ele saberia me pôr no caminho certo. Eu ainda estava pensando no que o Leon falou.

Eu pedi para todos irem, falando que eu precisava de um tempo para mim. Patty me abraçou e disse para eu ligar para ela caso precisasse. Assenti. Acho que todos entenderam que eu precisava ficar só. Afinal, era a minha mãe. E assim, todo mundo foi embora sem me fazer muitas perguntas. Os olhos de Leon me observaram como os de um gato observa uma presa, e ele saiu sem me deixar um sorriso. Os lábios continuaram retos. E eu soube que ele deveria estar lembrando da última vez que nos encontramos sozinhos.

A Herdeira - Quebrando as regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora