(Leon)
Rosa era uma pessoa diferente de todas as pessoas que eu havia saído anteriormente. Eu já a conhecia há um tempo, pois era amigo de Sebastian, seu irmão. Rosa era como a flor, bela, mas cheia de espinhas. Tinha uma personalidade forte, era ativista, falava com propriedade sobre qualquer assunto, negava-se a seguir o ramo da hotelaria, tinha alma de artista... Gostava de pintar, frequentar cafés filosóficos, participar de passeatas em causas sociais, ambientais e políticas.
Lembro que uma vez trombei com ela no hall do Panthera Hotel. Ela estava ali em prol de alguma causa social, algum seminário que ocorreria no auditório que tínhamos para encontros de empresas. Ela veio me cumprimentar como se fosse uma amiga de longa data, falava com fluidez, usava um black power em uma época que as meninas alisavam os cachos, gostava de usar flores na cabeça e faixas, gostava de usar roupas com estampas africanas de tecidos leves.
Talvez por ser tão diferente de todas as mulheres, eu a quis. Confesso que não precisei de muito esforço para chamá-la para sair. Porque ela era o tipo de mulher que gostava de tomar atitude. Quando percebeu que eu estava interessado, ela mesma me chamou para jantar. Quando percebeu que eu queria transar, ela mesma sugeriu ir para o quarto. Quando percebi, nós dois saíamos com mais frequência do que eu imaginava sair com ela antes. Rosa era tão diferente que pedia para não usar o termo namoro ou namorado. Falava um discurso qualquer sobre liberdade da mulher e liberdade, quando todas as mulheres que eu havia saído falavam em casamento.
Ainda faltavam alguns anos para o empoderamento feminino que existe hoje na década dez dos anos dois mil. Era algo mais tímido. Ela era a frente do seu tempo. Mas, o que as pessoas não sabiam que apesar de ser extremamente forte na frente dos outros, ela também tinha um lado sombrio. Era insegura quando estava em um relacionamento mais sério.
Na verdade, ela era sufocante.
Primeiro, Sebastian aprovou a nossa relação. Ele achava que eu seria capaz de contê-la. Mas, ela era como um furacão destruidor. Não a contive. Ela olhava minhas mensagens, checava meus e-mails, vasculhava os bolsos da minha calça, numa época que vire e mexe alguma fofoca aparecia sobre mim nos jornais do meu tempo de loucura com o irmão dela.
Até que um dia eu não aguente mais. Terminei. Terminei a relação que no fim eu achei que devia começar. Rosa tinha espinhos que eu não era capaz de aguentar. Fomos nos tornando cada vez mais distantes. Tão distantes que antes de acabar, eu já imaginava os meus planos sem ela. Era natural eu planejar sem pensar na pessoa que estava comigo, mas com Rosa, de uma hora para outra, eu parei de vê-la em meu futuro.
Eu a exclui de coisas banais como simplesmente a chamar para ir ver um filme comigo, porque por mais que eu negasse, eu não a mais queria em minha vida. E isso foi péssimo, porque a excluindo sem perceber, eu acabei excluindo Sebastian... E eles perceberam com tristeza esse meu ato.
Não foi de fato intencional que isso ocorresse, mas quando dei por mim, eu já estava o fazendo. Porque continuar amigo de Sebastian significava manter laços com Rosa. E continuar com Rosa significava morrer afogado em mágoas. Ela me oprimia, fazia-me recordar o que eu desejava esquecer... Rosa era artista, mas às vezes julgava-se psicóloga. Queria porque queria atrelar cada ato meu a alguma frustração:
"Você está fazendo isso porque não consegue se desligar de seu pai"
"A dor da perda está sendo expressada por essa atitude infantil"
"Você age desse jeito para evitar que as pessoas se aproximem"
Não que ela estivesse errada, pois em algumas de suas análises sobre mim, ela estava certa. Eu realmente deveria ir em algum psicólogo e tratar todas as dores que eu precisava ocultar. Todo o meu passado... Mas, eu não queria uma namorada ou seja lá o que ela fosse que julgasse cada ato meu...
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A Herdeira - Quebrando as regras
ChickLitCacau está num nova fase de vida: faculdade, trabalho e aulas de etiqueta. Tudo parece certo e encaixado... Se ela não fosse tão fora de si e tivesse disposta a quebrar todas as novas regras que precisa aprender. Ela não só foi presa no primeiro de...