RESTART | 3RACHA

37° verso

Era três da madrugada e chan permanecia trancafiado no estúdio.

Changbin perdeu a conta de quantos carneirinho imaginou para conseguir dormir, a falta de chan na cama era algo que tinha começado a incomodar o menor, por mais que nunca fosse assumir isso abertamente. Ele deixou o travesseiro substituir seu lugar dentro dos braços quentes de jisung, pegando a missão de persuadir o australiano a dormir como seu objetivo principal. Sorrateiramente ele saiu do cômodo e deixou a porta meio aberta, como um aviso para caso o han acordasse não ficasse assustado por não vê-lo na cama.

Ele se arrastou descalço pelo corredor, a calça do pijama que usava era bem maior do que seu usual, por ser de chan, então ela arrastava no chão perto do seu calcanhar. Changbin bateu na porta do estúdio que era no final do corredor, esperando chan dizer algo para confirmar sua entrada, mas a única coisa que ouviu foi a melodia de alguma música em um volume consideravelmente baixo e alguns resmungos em inglês, que ele só usava quando estava frustrado. O moreno empurrou a porta e a fechou em seguida, fazendo o mínimo de barulho possível. Chris estava sentado em frente ao computador, sua mesa de produção ao lado, ele se mantinha de fones e tinha a postura torta, aparentava estar irritado com algo pelo jeito que mordia a unha do indicador, um costume que changbin percebeu antes mesmo de começarem a namorar.

— chris tá tarde, vamos pra cama. — suplicou sem realmente sair de perto da porta. O loiro se virou para ele, largando o fone em cima da bancada ao lado do notebook, seus olhos pareciam fundos e cansados. Changbin quis bater nele por ser tão negligente com sua própria saúde.

— vem aqui, amor. — ele puxou o rapaz pelo pulso. Relutante, o moreno se deixou levar.

Ele passou as pernas por cada lado do australiano, sentando em seu colo. Chan segurou em seu rosto usando as duas mãos, sorrindo pela forma adorável que changbin fazia bico por estar sendo contrariado. Sabia que ele perderia a paciência por sua ausência, e talvez tivesse feito aquilo de propósito hoje para vê-lo tão pequeno e adorável indo ao seu encontro no estúdio.

— eu quero dormir. — changbin resmungou.

— e por que o meu príncipe não consegue?

— porque você é um idiota que não gosta de dormir comigo e com o ji. — chan riu brevemente, dando um beijinho na pontinha do nariz do seo.

— prometo que já vou. — garantiu. — você quer me esperar aqui ou vai pra cama primeiro?

— vou ficar aqui.

Ele se encolheu e ficou quieto enquanto o australiano puxou a cadeira para frente, até suas mãos tocarem no notebook. Durou pouco, ele apenas desligou tudo com calma e checou se não tinha esquecido de salvar nenhum arquivo. Changbin esperou pacientemente sentado no colo dele, às vezes brincava com o fiapinho solto da camiseta do maior ou apenas tentava cochilar. Sabia que se dormisse, chan o levaria até a cama.

— sabe o que tá me deixando inquieto? Essa exposição que vocês vão sofrer de novo. — ele iniciou de repente, como se estivesse com aquilo preso na garganta a muito tempo. Changbin despertou para dar atenção ao que o homem mais velho dizia. — sei que é meu dever ficar forte por vocês, mas eu tô bem assustado com isso. — chan riu, como um sopro esganiçado. — na verdade, eu tô com medo de tudo se repetir.

— não vai se repetir. — o moreno se ajeitou, fitando as íris amendoadas do australiano, seus braços deslizando pelos ombros dele. — estamos juntos agora, essa é a diferença. Nada e nem ninguém vai nos separar — chan subiu as mãos pelas coxas do menor, até chegar em sua cintura. Changbin sorriu para tranquilizá-lo. — eu não vou fugir de vocês de novo. Vamos enfrentar isso juntos.

— obrigado por ter deixado a gente te ter novamente. — proferiu puxando o rapaz para perto, o suficiente para seus narizes se encostarem e changbin segurar o ar. — você e o ji são as melhores coisas que aconteceram na minha vida. Vocês são o meu trevo de quatro folhas e eu sou tão grato todos os dias por ter vocês dois só pra mim. Obrigado por ter voltado. Obrigado por ainda nos amar. Obrigado por ser o nosso changbin.

— só de vocês. — sorriu para chan antes de beijá-lo. Seu corpo se entorpecendo pelo calor agradável que crescia no pé da barriga e se espalhava pelos arredores, changbin arfou e gemeu baixinho, quebrando o ósculo vez ou outra para respirar. Chris o puxou para perto e abriu um pouco as pernas, deixando o garoto mais confortável, seus braços deslizaram até as costas dele a fim de abraçá-lo. Ele encarou os olhos expressivos de changbin e sorriu, vê-lo de perto e tão calminho era uma cena que poderia pagar milhões para ter.

— amanhã eu tenho uma coletiva de imprensa para fazer, o certo seria eu e o sung irmos lá nos pronunciar, mas não quero forçar ele a fazer isso, sei que vai ser muito delicado pra ele. Então, você e nem ele precisam se expor assim, o hyung cuida disso. — changbin balançou a cabeça, concordando. — sabe o que eu tava pensando. — ele fez uma breve pausa, ajeitando o moreno no seu colo sem realmente largá-lo. Suas bocas ainda estavam próximas e changbin aparentava estar extasiado pelo momento, tentando prestar atenção ao que o maior falava com seriedade. — se você quiser, podemos manter seu emprego na spread my wings em segredo, assim você pode ter mais privacidade e usar um codinome quando suas músicas forem lançadas por outros artistas. Não seria bom?

— é, talvez. Não sei.

— você tá prestando atenção no que eu to dizendo, changbin? — ele não parecia chateado, talvez um pouco aborrecido. Changbin piscou várias vezes quando o loiro segurou com força seu rosto usando somente uma mão, seu polegar apertando sem delicadeza um lado da bochecha do menino enquanto o indicador e o médio seguravam o outro lado. Não era um toque sutil, mas o moreno gostou.

— não, você pode repetir? — pediu inocente, segurando no pulso dele. Chris estalou a língua no céu da boca, e bufou. Talvez ele tenha ficado um pouco chateado agora. Changbin sorriu e ameaçou levar a mão livre até seu pescoço, mas ele segurou antes que o garoto chegasse lá e olhou sério para ele. — eu escutei o que você disse, e sendo sincero? Pra mim tanto faz. Falei o mesmo pro ji uma vez, se estamos juntos agora, sempre vão se meter no nosso relacionamento de alguma forma, mas eu não me importo. O que podemos fazer? Fugir para sempre? Vai ser pior, então vamos encarar isso de frente. Não me importo se as pessoas me vejam como um traidor ou sei lá o que, não vou sumir de novo e deixar vocês dois aguentando tudo sozinhos. — chan escutou tudo calado, a sombra de um sorriso dançava por sua boca. — tá satisfeito agora, christopher?

— sim. — eles sorriram um para o outro, como uma promessa silenciosa que ficariam juntos por todo aquele temporal. Apenas eles três contra quem fosse vir.

Mesmo assustado, changbin decidiu que não iria mais fugir da sua verdadeira identidade. Ele mostraria um novo lado. Por mais que tenha enterrado Spearb para sempre, ele ainda existia em seu subconsciente, e o moreno estaria pronto para trazê-lo à tona se fosse necessário.