5º verso

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Changbin encarou o céu, aos poucos o sol ia aparecendo e a lua se indo. Não tinha dormido naquela noite após tudo que aconteceu, tinha passado o restante da noite na varanda do seu quarto, observado o céu. Um costume antigo que o ajudava a pensar em boas letras para seus raps e o acalmar.

O vento gélido da manhã passou por todo seu corpo, um arrepio se fez presente em todo sua pele, abraçou o próprio corpo pequeno e entrou, fechando as portas de arraste da varanda e fechou as cortinas, se deitou e fechou os olhos. Uma estranha sensação ao lembrar das palavras de chan apossou seu coração e mente.

Changbin não queria vê-los novamente, nunca mais. Esperava que eles fossem embora de uma vez, assim poderia seguir sua vida. De certa forma um peso tinha saído das suas costas, ter contado tudo para eles teve sua parte boa. Mas ainda se sentia estranhamente mal com aquilo.

Respirou fundo e fechou os olhos, deixando sua mente vazia e livre de pensamentos para conseguir dormir.

(...)

- você é realmente um vagabundo, hein. - Seungmin disse ao encarar o Seo dos pés a cabeça, fazia nem cinco minutos que o mais velho tinha acordado de um bom descanso de cerca de cinco horas de sono.

Estava precisando daquilo.

- eu sei. - disse, coçando os olhos. - você não deveria estar trabalhando? - encarou o garoto ainda meio sonolento.

- você sumiu e não atendia o celular, pensei que tinha sido sequestrado pelos caras lá, então deixei o bar com o hyun e vim te ver. - explicou, entrando no apartamento do Seo sem ser convidado.

Changbin so fechou a porta, sem forças e nem disposição para discutir. Não fazia ideia que hora era, mas parecia bem tarde já que o sol estava baixo, indicando que o dia estava quase em seu fim. Sentou-se ao lado do Kim, deitando sua cabeça na almofada e encolhendo as pernas em cima do estofado e bosejou.

- como foi ontem, hyung?

- não quero falar sobre isso.

- foi tão ruim assim?

- foi péssimo.

Silêncio.

- está com fome? - Seungmin pôs a mão sobre a perna de Changbin, lhe encarando.

Em um aceno positivo do mais velho, Seungmin se levantou e foi preparar algo para eles.

(...)

Era noite, Changbin estava sozinho. Seungmin tinha feito companhia a ele pelo restante da tarde, mas infelizmente teve que ir trabalhar.

Estava a toa encarando as paredes da sala tingidas de uma cor clara, não sabia o que fazer naquela noite. Queria sair e ficar perambulando pelas ruas, mas estava exausto mentalmente para aguentar qualquer outro ser humano além de si mesmo. Suspirou alto e com tédio.

Dez minutos depois de apenas respirar e encarar o teto, se levantou do sofá, caminhou preguiçosamente até o quarto, abaixou-se em frente a cama, tateando o chão embaixo do móvel até pegar a caixa com seu velho caderno. Pegou o caderno e deixou a caixa antiga em cima da cama. Antes de sair do quarto pegou seu violão e voltou para sala.

Deixou o violão e o caderno em cima do sofá e foi a cozinha, pegou a garrafa de vodka que estava guardado há um bom tempo e encheu um copo, dando um gole grande e sentou no chão da sala.

- vejamos. - deixou o copo e a garrafa que tinha trago junto de lado, pegou o caderno, o folheando.

Tinha tanta coisa nele, letras de raps que nunca pode soltar pois sua antiga empresa nunca deixaria. Músicas sobre amor e sobre o início da sua depressão quando tinha dezenove anos. Foi difícil sair naquela doença que parecia sugar toda a sua força vital, mas o moreno conseguiu, sozinho, é claro.

Escolheu uma letra qualquer que poderia tocar com qualquer acorde no violão e começou a tocar, pouco se importando se o vizinho ao lado fosse lhe dedurar para o síndico.

- percebo que ainda estou longe de manter a minha promessa. - dedilhou os primeiros acordes. - aproveitando a minha luta em um jogo chamado vida. - sorriu, abaixando a cabeça.

Lembrou-se que aquele era uma parte de um rap que estava fazendo para entregar a Christopher anos atrás, deixou o violão de lado e fechou o caderno. Parecia que quanto mais ele queria esquecer os causadores da suas dores de cabeça e insônia, mais lembrava deles.

Metade da garrafa de vodka ja tinha sido bebida pelo moreno, ele se sentia meio tonto e as vezes ria para o nada. Passou sua mão por cima do sofá a procura do celular, desbloqueio depois de duas tentativas falhas, e abriu o aplicativo de ligação, procurou pelo número de Jisung que nunca tinha apagado. Nem o dele, nem o de chan. Era o antigo e provavelmente ele teria trocado, mas mesmo assim algo dentro do Seo o mandou ligar, e assim ele fez.

Ele ja ria para si mesmo, já que aquele número não deveria existir mais. Mas seu coração acelerou quando alguém atendeu e a voz do han saiu pelos fones do aparelho.

- quem é? - parecia que o garoto tinha sido acordado, sua voz estava meio rouca e falha.

- s-sou eu. - Changbin jogou os fios que estavam em sua testa para trás, deitando a cabeça no sofá atrás de si. - estou com saudades.

Um silêncio se fez presente, Changbin estava quase cochilando com o celular perto do ouvido. Estava bêbado e cansado e poderia dormir ali mesmo no carpete da sala.

- Changbin, você está bêbado, não é? - acordou ao ouvir a voz de Jisung.

- eu não bebo. - disse firme, mas riu ao terminar de dizer.

- to percebendo. - suspirou alto. - você está em casa pelo menos?

- obvio que sim! - exclamou. - como posso sair depois de ter meu coração quebrado em dois milhões de pedaços por você e o channie ontem? Aquilo doeu, sabia? Eu disse tudo que aconteceu e mesmo assim vocês foram embora sem nem ligar para mim. Eu queria um abraço pelo menos, quem sabe um beijo, mas nao, fui jogado para os leões. - dramatizou cada palavra, até escutou jisung rir do seu drama.

- seria tudo bem mais fácil se você fosse sincero assim sóbrio.

- mas eu estou sóbrio, cem por cento sóbrio!

- claro, Changbin. Claro.

- eu queria parar de gostar de vocês. - deitou-se no chão. - queria que vocês evaporasem da minha vida, mas ao mesmo tempo não quero porque eu sentiria falta de ter o sentimento que eu tenho sobre vocês dentro de mim. - fechou os olhos. - eu não quero parar de amar vocês por mais dolorido que seja, eu não quero.

- Changbin.

- eu sinto muito por tudo que eu fiz, mas eu não me arrependo de ter ido embora. Única coisa que eu sinto que me faz mal ate hoje é ter sido egoísta com vocês dois, vocês não merecem alguém como eu. E também, nós nunca poderíamos ficar juntos. Somos tachados de errados e impuros por amar, e eu não quero ver você e nem o chris tristes por causa dessa gente.

- acho que isso não é algo que podemos falar por celular, Changbin. - Jisung disse baixo. - você está bêbado, então me prometa que vai tomar um banho e ir dormir, não faça nenhuma besteira.

- eu prometo.

- tenho que desligar.

Changbin mordeu o lábio.

- eu ainda te amo, binnie.

- eu ainda amo vocês.

RESTART | 3RACHAOnde histórias criam vida. Descubra agora