Os Moors costumavam ser um lugar muito bonito. Para todos os lados que se olhava, havia algo vivo e belo marcando presença. As águas das nascentes, rios e lagos eram tão cristalinas que podia-se ver as pedrinhas preciosas que ficavam brilhando no fundo. Todos os dias, fadinhas desenhavam e pintavam os céus com suas mágicas piruetas multicoloridas, e não era raro ver uma delas sendo atingida propositalmente por um Wallerbog com lama na cara.
Atirar lama era a diversão das criaturinhas de olhos arregalados, sorriso banguela e orelhas de elfo. Os Wallerbogs poderiam fazer aquilo o dia inteiro. Malévola se lembrava o como era pega de surpresa quando criança por uma rajada lamacenta bem na sua cara toda vez que passava pelo caminho que cruzava os pequenos seres porquinhos. Não eram muito bonitos de se olhar, mas faziam parte daquela natureza, daquela magia.
Tudo ali era conectado, tudo ali tinha sincronia. As plantações, os animais, as cavernas, as rochas, tudo era lindo —no seu próprio jeitinho, claro. Não havia mais os traços de assombro e terror que um dia abateram aquele lugar, pois ele era dominado por alegria novamente. Aurora dera conta do recado após curar o coração de sua fada madrinha, trazendo luz de volta para ela e para os Moors, por consequência.
Não existiam mais motivos para temer nada na floresta mágica, pois ela tornara-se segura novamente. Não tinha como se machucar. No entanto, Malévola estava com medo.
Encarando a entrada da caverna onde Arabela afirmou ter encontrado Diaval no dia anterior, a trevosa sentiu um arrepio. Não era parecido com nada que ela vira antes —e olha que ela já vira muita coisa.
Teias de aranha encobriam toda a passagem de entrada, o que fazia Malévola se perguntar o como Arabela se enfiara ali dentro sem ser picada por nenhuma. Ao fundo, só se via escuridão, nenhuma faísca de luz sequer. Ali era literalmente um lugar para se ficar quando se está definhando por dentro.
—Você tem certeza? —Malévola se ouviu perguntando, enquanto buscava coragem para dar seu primeiro passo.
—Sim. —respondeu Arabela, convicta. A franjinha em sua testa já estava tão grande que batia em seus olhos verdes. —Ele está aí. —prosseguiu, afastando uma mecha acastanhada para detrás da orelha.
Malévola suspirou. Ela precisava correr aquele risco. Era por Diaval, pela amizade deles, afinal. A propósito, ela nunca tivera medo de aranhas até onde conseguia se lembrar, e se alguma aparecesse, talvez desse tempo transformá-la em uma...uma minhoquinha?
—Quer que eu vá...quer que eu vá lá chamá-lo? —Arabela ofereceu-se prontamente, apesar de saber que seria muito difícil alguém que não fosse a própria Malévola em pessoa tirar aquele homem teimoso dali.
Para o alívio da garota, Malévola negou com a cabeça.
—Apenas quero que me guie. —verbalizou a fada, fitando Arabela com seriedade. A moça sorriu, e tomou a frente do caminho. Juntas, ela e a trevosa atravessaram a parede de teias, uma com mais medo que a outra, porém ambas orgulhosas demais para admitir. Não demorou muito para que tudo ficasse completamente escuro. Tão escuro que Malévola mal podia visualizar as próprias mãos.
Ela se perguntou como Arabela fizera para atravessar todo aquele caminho sem magia, sem luz e principalmente, sozinha. Aquilo mostrava como a garota apreciava Diaval, e como valorizava a sua amizade com ele.
—Então, como Diaval se comportou quando viu você? —a mulher perguntou, apalpando as rochas, que por hora esfarelavam e tornavam-se terra em suas mãos. Parecia que aquele lugar iria desabar. Seria uma boa ideia manter uma conversa com Arabela para afastar esses pensamentos ruins. —Borra me disse que ele foi rude.
—É, é foi... —a voz de Arabela murchou. Malévola buscou ajustar sua visão, tentando encontrar a garota, mas pelo eco, ela não parecia muito distante para que ambas se perdessem. —Quero dizer, Diaval nunca deu a mínima pra mim, não fez tanta diferença que ele tenha agido daquele jeito.
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Desfecho
FanfictionEles sabiam que nada durava para sempre. Tanto as coisas ruins como as boas um dia precisavam acabar. Essa era a lei da natureza que ninguém consegue ir contra. O que eles não esperavam era que essa lei os afetaria tão de repente. Apesar do amor e d...