Diaval aprendera a seguir Malévola por onde quer que ela fosse. No começo, era uma árdua tarefa para ele. Ter de ficar voando pra lá e pra cá, obedecendo ordens de uma mulher que ele mal conhecia—e que por sua vez, era bem ríspida e desagradável—não era lá a mais divertida das tarefas.
Ele se via remoendo e indagando suas atitudes todas as noites quando estava indo dormir, a única hora que ele literalmente "se separava" da trevosa e tinha tempo para pensar.
O homem reconsiderava a decisão que tomara ao prometer aquela mulher que seria seu servo por toda a vida, já que ela o salvara da morte. Não parecia que valera a pena decidir viver ao lado de Malévola, quando ele podia muito bem ter fugido dela, ignorando o seu ato de salvação. Claro, não seria tão fácil naquele corpo humano estranho e diferente. Ela tinha o controle, afinal de contas.
Talvez, Diaval não tivera lá tanta escolha assim.
Ele começara a andar ao lado de Malévola forçado. Sentia-se como um bichinho de estimação que precisava seguir o dono para ter certeza que ele o alimentaria e lhe daria amor e carinho. Malévola não se dava ao trabalho de fazer nenhuma dessas coisas por Diaval, claro. Entretanto, ele era um "corvo" de palavra; e dera sua palavra para a mulher de que estaria com ela para o que desse e viesse.
Assim ele o fez.
Só que o tempo passou, e a obrigação deixou de ser vista dessa forma. Diaval começou a acostumar-se com a presença de sua ama; apreciá-la até. Ele aprendeu a entendê-la, e lidar com o comportamento "temperamental" dela. Ele aprendeu a vê-la com outros olhos.
Malévola transformou-se de ama em melhor amiga. E isso os tornou ainda mais inseparáveis do que naturalmente já eram.
Por essa razão, era tão estranho ver Diaval sozinho. Logo ele, que nunca se separava dela, e que em qualquer reunião entre os Moors ou missões que envolvessem humanos fazia questão de estar do lado de Malévola para acalmá-la —para indiretamente ser as suas asas.
Ele olhava de um lado para o outro, deslocado naquela festa tão tumultuada. Abraçava o próprio corpo com frio, a falta das asas de Malévola para aquecê-lo ainda mais evidente. Era como se Diaval estivesse sem roupa, apesar de estar bem trajado —e mascarado, como pedia a ocasião.
Se ela estivesse ali, seria mais fácil para Diaval se sentir a vontade. Ela seria sua companhia para aquela noite, alguém que ele podia conversar. Talvez entre as palavras trocadas faiscassem algumas farpas, mas nada tão relevante. Diaval lhe diria que o seu traje era um dos piores e ela em resposta o mandaria tomar conta de sua vida.
Só que conversas como esta não iriam acontecer. Não naquela noite. Não mais.
Apesar de Diaval sempre ter sido o extrovertido da história, que ajudava Malévola a se expressar, ele agora encontrava-se tímido e retraído. Tão preso dentro de si mesmo que chegava a sufocar.
Ele não entendia o porquê a ausência de Malévola o afetava tanto. Entendia menos ainda o porquê a última conversa que eles tiveram ainda lhe causava pancadas no estômago.
Malévola tinha se ferido em busca de encontrá-lo dentro daquela caverna pré-histórica. Ela arriscou a própria vida e quase a perdera, literalmente. Só que ela não perdeu, e assim que recuperou os sentidos, as primeiras palavras que dissera foram flechadas, flechadas dolorosas demais para se sararem depressa. Diaval ainda remoía todas elas, ressentido.
Talvez, ela nem se importasse tanto assim. Talvez ela fora atrás dele por uma mera conveniência, para mostrar para os demais um alguém que ela não era de verdade; para se exibir.
—Diaval! —Aurora gritou de longe, tirando o homem ave dos seus devaneios. Ela levantava um pouco a saia de seu vestido, os passos apressados em direção ao amigo. —Diaval, que bom que você veio! —continuou a garota, dando um forte abraço nele, que por sua vez, retribuiu.
Ele sentira tantas saudades daqueles abraços.
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Desfecho
FanfictionEles sabiam que nada durava para sempre. Tanto as coisas ruins como as boas um dia precisavam acabar. Essa era a lei da natureza que ninguém consegue ir contra. O que eles não esperavam era que essa lei os afetaria tão de repente. Apesar do amor e d...