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Masmorras do castelo, dias atuais...

Diaval já tinha parado de acreditar em muitas coisas. Finais felizes, por exemplo.

Lera tantas histórias com Malévola e Aurora de príncipes e princesas que sofriam horrores, mas no final ficavam bem, porém elas deixaram de parecer reais para ele. 

Tornara-se descrente de que a luz do sol pudesse brilhar outra vez a seu favor; tornara-se descrente de que um dia poderia novamente sair daquela prisão. Entretanto, Diaval tentava continuar sendo forte. Por ela.

Prometera para Malévola que ela iria ficar bem da última vez que a viu, mesmo que já não visse mais nenhuma esperança de que isso poderia acontecer. Ele bem que gostaria de saber o que fizeram dela, pois já fazia um bom tempo que ela não voltava, e isso o apavorava.

Os pensamentos do homem viajavam para os mais malucos e possíveis fins. Ele não gostava de pensar que aquela altura, sua senhora estaria morta. Ele não aguentaria, se assim fosse.

"Eu teria sentido." murmurava para si mesmo. "Se tivessem-na matado, eu saberia."

Sua ligação com a mulher era forte. Além disso, ele fora deixado como humano —forma esta que ele por alguma razão, começara até a apreciar em determinados momentos. Se Malévola não estivesse mais viva, ele também não estaria mais com um par de pernas, pois o que ainda o mantinha assim era ela.

Sentado no chão, já acostumado com o barulho dos ratinhos que frequentemente passavam para dar um olá, Diaval suspirou, exausto. Não fazia nada, mas ainda assim, estava cansado. Ele precisava de notícias. Sentia estar aos poucos perdendo o juízo.

—Pra onde vocês a levaram? —gritava toda vez que via algum guarda trajado com aquelas vestes avermelhadas de detalhes ferrosos que ele tanto abominava. —Pra onde a levaram? —sua voz esgoelava-se tanto que ele perdera a força dela.

Os homens passavam pelos corredores gargalhando, como se vivessem em uma realidade qualquer em que se podia contar piadas; pareciam deliciar-se com o fato de que todos aqueles presos —principalmente Malévola —teriam um trágico fim, ou sendo condenados, ou definhando ali dentro. 

"Quem entra aqui nunca sai, passarinho. Sua amiguinha já foi condenada." cuspiu um dos prisioneiros certo dia, ao ver Diaval sacudir as grades em uma falha tentativa de escapar. 

Ele recusara acreditar. Era impossível.

—Eu saberia...—sibilou, esfregando as têmporas com as mãos suadas. —Eu saberia... —sua voz falhava. Ele não tinha mais nenhuma certeza, porém agarrava-se a esse pensamento como gatos agarram suas unhas em fios de lã.

O problema era que os fios de lã uma hora fragmentariam.

Diaval ouvira um barulho. Optara por ignorá-lo. Era bem provável que fosse mais um daqueles guardas nojentos que passariam por ele outra vez apenas para zombar de sua dor. O homem ave odiava admitir, mas desejava de todo coração que aqueles humanos sofressem. Algo realmente sombrio invadia-o, e tudo o que ele conseguia sentir por todos ao seu redor —aquele bando de pessoas —era ódio.

Todos os seres humanos eram ruins. Nenhum deles escapava, principalmente agora que Aurora se fora. Malévola sempre teve razão.

—Psiu! —alguém pareceu fazer. —Ei, psiu! Diaval!

Ele continuou paralisado, sem se importar com quem quer que soubesse o seu nome, e estivesse chamando-o naquele momento. Só queria ficar sozinho, remoendo os próprios pensamentos.

—Diaval, aqui! —a voz continuou insistente.

—Vai embora! —gritou ele, ríspido.

Por um momento, pareceu que a pessoa realmente o levara a sério e se fora. Mas ele escutou passos, e percebeu que se enganara.

DesfechoOnde histórias criam vida. Descubra agora