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Não era que Malévola tivesse deixado mesmo de acreditar no amor. Ela não deixara. Um período de sua vida talvez sim, mas não agora. Anos atrás, a mulher tinha virado uma criatura abominável e má, depois de sofrer uma das maiores dores de sua vida: a da traição.

Em sua opinião, nada poderia fazê-la voltar a ser boa outra vez. Isso claro, aconteceu antes de Aurora aparecer e mostrar-lhe que tudo era possível, e que o amor ainda era real e nunca deixara de existir, apenas fora esquecido por ela.

Aurora deu novos nortes e horizontes para a sua fada madrinha, em uma época onde ela não acreditava em si mesma. Existia amor nesse mundo; o amor de uma mãe para com uma filha. E Malévola sabia que era isso que Aurora tornara-se em sua vida.

A sua menina.

Não havia nada que pudesse quebrar o elo conectado entre elas; nem mesmo a distância.

Porém a história tomava outro rumo se o verbo "amar" fosse dirigido a uma outra pessoa. Malévola não permitiria o amor destruí-la mais uma vez, pois ele era uma poderosa força capaz de reerguer, mas também de matar. Para Malévola, estava muito bem amar apenas Aurora. Ela não precisava de mais nada. Já sentira o que era atrair-se por outro alguém — e sabia das consequências disso. 

Ela não queria correr o risco de sofrer tudo aquilo outra vez.

E por essa razão, ela tentou esquecer o rapaz que havia dançado ao seu lado naquela noite. Ela nem mesmo o conhecia —ou buscava enganar a si, fingindo que não. Ela tentou esquecer o como acelerado ficou seu coração quando as mãos dele tocaram as suas, e também a forma que seu rosto queimava por detrás da máscara a cada vez que aqueles olhos negros se encontravam com os seus.

O restante da festa fora demasiadamente normal, tirando o fato de que Malévola resolvera se isolar da multidão, indo para qualquer lugar que pudesse afastá-la de encontrar-se com aquele misterioso homem novamente. 

—Que ridículo. —ela murmurou enquanto andava sem rumo, certa de que mais ninguém estava por perto para ouvi-la balbuciar palavras soltas feito uma maluca. 

Ela não conhecia aquele homem. Como podia então estar tão movida por ele? 

Malévola sentia-se como se tivesse encarnado a sua versão garotinha ingênua de oito anos que um dia vira aquele ladrãozinho humano no poço das joias e se apaixonara. E ela odiava isso.

Suspirando, a mulher levantou o olhar para os céus, procurando consolo para sua aflição no brilho das estrelas, porque geralmente era aquilo que ela fazia. 

A trevosa não tinha a menor ideia de onde se metera, pois não conhecia aquele lugar, aquelas pessoas, aquela cidade. Só sabia que se afastara o suficiente do salão do baile. Afastara-se o bastante para poder tirar sua máscara do rosto e voltar a lidar com sua pior inimiga: ela mesma.

Ela procurou um lugar para se sentar, e por infeliz coincidência, não encontrou nada, o que a obrigou a acomodar-se no chão frio feito de ladrilhos acinzentados e sem graça que com certeza não eram confortáveis como as gramas vivas e macias dos terrenos de Moors. Brincando com a máscara negra em suas mãos, Malévola repensou o que acontecera aquela noite. Ela dançara com um desconhecido que foi capaz de fazer seu coração saltitar outra vez. 

A não ser que aquele desconhecido fosse mesmo...fosse mesmo ele. Talvez ela nunca fosse saber. 

Não tinha como Diaval tratá-la tão bem depois de tudo que acontecera, depois dela o enxotar. A sua decisão tinha sido definitiva daquela vez: o seu servo e amigo deveria deixá-la, e não havia nada que a fizesse voltar atrás.

"Quando ela acordara, após os blocos de terra terem demolido bem em cima de seu corpo, sua cabeça doía, e todos os seus sentidos estavam fracos. Sua visão embaçava e era quase impossível decifrar os rostos de quem a examinava, apesar das sombras serem familiares. Borra, Zufar, Hannah talvez e claro, Diaval. Ele era inconfundível.

DesfechoOnde histórias criam vida. Descubra agora