21

78 5 13
                                    

Dias atuais, masmorra de Ulstead...

Tudo parece andar mais devagar quando se está preocupado. Essa era uma lição que Diaval tinha aprendido desde sempre. Não importava a situação, se ele ficasse ansioso ou aflito por respostas, tudo só iria piorar. 

Quando Malévola sumiu depois do jantar de Ingrith, por exemplo. Foram apenas três dias, porém passaram-se lentamente, como lesmas que se arrastam ao chão. Isso porque Diaval ficara apreensivo, remoendo suas unhas, sem conseguir dormir, andando para lá e para cá o dia todo. 

Ficar longe de sua ama sempre foi um pesadelo para ele. Agora não era diferente.

—Já faz tanto tempo... —ele refletia consigo mesmo, sentado no chão, a respiração acelerada, o coração batendo com mais rapidez. —Mais de horas que a levaram, tenho certeza. O que estarão fazendo com ela agora?

—Talvez mandaram matar, né? —um outro prisioneiro gritou, dando uma risadinha sarcástica. Diaval não se deu o trabalho de olhar para o homem. —Uma criatura daquelas merece a morte mesmo. Inclusive depois de matar a própria filha. Que decepção, hein?

Diaval soltou um bufo, engolindo em seco.

—Ela não matou Aurora. —rosnou ele, fechando as duas mãos pronto para socar a cara do indivíduo que lhe falava. Esquecia-se completamente que as celas que os separavam não permitiriam essa briga.

O homem do outro lado gargalhou e junto a ele, seus companheiros fizeram o mesmo, zombando de Diaval, como se ele fosse algum tipo de piada.

Era desconcertante. Diaval só queria sair dali. Ele não tinha feito nada para merecer aquele castigo. Malévola também não. Por que eram acusados? Por que a justiça sempre conseguia ser tão falha?

Tantos homicidas do lado de fora, correndo como corças livres para continuar com seus crimes, tantos ladrões prontos para roubar, pessoas más por todo o lado, dispostas a espalhar o caos. Todas elas soltas, como se nenhuma culpa tivessem. Enquanto isso, inocentes sofriam atrás de grades, dentro de celas nojentas, chorando de saudades de suas casas, famílias, de suas liberdades. Essa era a realidade. 

Diaval sabia que não era apenas só ele que sofria preso por algo que não cometeu. Malévola, outros mais que ele nunca chegaria a conhecer e que apodreceriam sem que fossem libertos. Aquilo era uma lástima. Os seres humanos só cometiam erros.

Ele observou as correntes que estavam agora jogadas no canto da cela, as correntes que Malévola usava no pescoço e nos punhos. Elas estavam manchadas de sangue, e doía em Diaval só imaginar a dor que sua ama sentira nos momentos em que aquelas coisas tocavam-lhe a pele. 

Estava tão absorto em seus próprios pensamentos que nem notou quando um barulho de pessoas levando socos ecoou pela masmorra. Não se atentou para os guardas que gemiam de dor em algum lugar ali próximo porque alguém muito hábil os atacava. Não se atentou para nada disso.

Até o suposto sujeito que causava essa revolta toda aparecer bem de frente para ele, ofegante e cheio de hematomas nos braços musculosos e rosto, como se os guardas o tivessem rasgado antes de serem vencidos por ele.

—Borra? —Diaval levantou-se, surpreso. Estava ele tendo alguma alucinação? —Como você conseguiu passar pela segurança, o que você... —repentinamente, ele parou de falar. As feridas no corpo do fada trevoso, abertas e expostas lhe respondiam o que precisava. —Você lutou. —ele concluiu.

—Preciso muito lhe falar uma coisa. —Borra passou o braço no rosto, tentando limpá-lo. Não adiantou muito. —Olha, eu sei que você pensa que Malévola é inocente, mas...

DesfechoOnde histórias criam vida. Descubra agora