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Philip chorava no caixão de Aurora, ainda desacreditado que ela estava mesmo morta. Ele queria ser capaz de acordá-la, queria que ela não estivesse mesmo ali dentro, mas ela estava. Ele via o rosto dela, sem vida, sem cor. Nenhum beijo de amor verdadeiro a faria voltar.

Aurora tinha ido embora para sempre.

John, pai do príncipe, estava arrasado. Aquilo parecia apenas um pesadelo, um pesadelo que logo logo acabaria. Mas não era. Philip, assim como os demais ali presentes, continuou olhando para Aurora deitada naquele leito tão tristonho de dor, esperando que ela fizesse um mínimo movimento sequer que indicasse que estava viva. 

Philip não queria ter que dizer adeus. Ele não queria ter de enterrá-la, pois sabia que depois que a terra cobrisse-a, ele nunca mais a veria outra vez.

—Por que você se foi, por quê? —choramingou o rapaz, tocando no rosto gélido da garota. O reino inteiro estava em luto, pessoas de preto por todo o lado. As fadinhas também não paravam de chorar, aflitas. Knotgrass e Thistlewit deixaram algumas flores nas mãos da menina: margaridas e rosas.

Borra, junto a algumas outras trevosas, também estava presente. Ele não conhecia Aurora tão bem para dizer que estava sofrendo horrores com a perda dela, mas sentia o impacto tanto quanto qualquer um ali presente. Ela era realmente uma garota bem querida. Talvez se ele tivesse a oportunidade de tê-la conhecido melhor, pudesse entender aquele luto.

O que Borra não conseguia acreditar era que Malévola fizera aquilo. Não, ela não seria capaz. Malévola não machucaria a filha que tanto amava, muito menos a mataria.

Isso o intrigava muito. Intrigava demais.

Ele ainda não confiava nos humanos completamente. Perguntava-se se não seria aquilo uma armação, mas até mesmo as próprias fadas diziam ter visto o que aconteceu, elas mesmo eram testemunhas.

Isso não fazia o menor sentido.

Borra procurou por Diaval, que também era um grande amigo de Aurora e sentiu a falta dele no evento. Ele deveria estar lá. Não viu Hannah, Zufar, Udo ou Arabela tampouco. Muitos deveriam estar lá e não estavam. A única ausência justificável era a de Malévola, já que ela se entregara para as autoridades e aceitara ser presa ou até mesmo morta pelo que fez.

O choro continuou, assim como o velório. Borra não aguentava aquele lugar, então decidiu dar uma saída, pedindo licença para as pessoas na multidão, que por um acaso, eram centenas. O palácio estava com bandeiras negras penduradas por toda a fachada, indicando a morte da princesa, e espalhando a notícia por todo o reino.

Por não estar tão habituado com aquele lugar, Borra facilmente se viu perdido. Acabou entrando em uma portinha que deu para alguns corredores mal iluminados do castelo, e bufou ao perceber que não fazia a menor ideia de como voltar.

Acreditando estar sozinho, o fada prosseguiu andando, suas longas e belas asas em tons de marrom arrastando-se pelo chão e soltando penas aqui e ali. Um cheiro estranho perpassou por seu olfato apurado, e só então Borra percebeu que tinha companhia.

Ouviu alguns cochichos, porém não conseguiu decodificar o que eles diziam, já que a sua audição não era assim tão surpreendente como o sentido do faro.  Enrijecendo os músculos, Borra começou a andar na ponta de seus pés, buscando fazer o mínimo possível de barulho. Avançou em direção aos sussurros, até se dar de cara com uma luz vinda da fresta aberta de um quarto.

Encostado na parede, Borra seguiu em direção a porta, e colocou seu ouvido rente a ela.

—Tá, mas e agora? —uma voz feminina, ligeiramente alterada questionou. A dona dela dava passos de um lado para o outro, provavelmente nervosa. Quem não estaria em uma situação daquelas de velório, afinal. —E quanto ao resto? Você prometeu que ajudaria!

DesfechoOnde histórias criam vida. Descubra agora