Dias atuais, nos confins do castelo de Ulstead...
Malévola já não aguentava mais.
A morte se aproximava dela. Não, ela não havia sido condenada a morte, porém perder suas asas era tão ruim quanto. Estava tão fraca que tinha certeza que no momento em que aquelas longas camadas de penas escurecidas em suas costas fossem arrancadas pelo tronco de seu corpo, tudo acabaria.
Seus olhos se fechariam —ou talvez nem desse tempo. Seu corpo perderia a consciência. Aos poucos, tudo viraria um vazio, um apagão. As pessoas que com certeza viriam para assisti-la ser torturada em praça pública gritariam de excitação, porém os gritos delas seriam abafados. Malévola sentiria a dor latejante em suas costas, e então daria o seu último suspiro. Um suspiro longo, dolorido e difícil.
Ela lembraria de Aurora, e isso acalentaria a sua dor, mesmo que não fosse lá de tanta ajuda. Ela imaginaria o sorriso dela, e até poderia vê-la a abraçando. Iria encontrar-se com a menina. Viveriam as duas juntas em um paraíso tão lindo como os Moors. Flores que cantam, fadinhas que dançam, todos felizes porque não existia ninguém —absolutamente ninguém —que pudesse ameaçá-los.
Um mundo belo onde não existem inimigos; onde a maldade não existe.
Malévola pediria perdão para Aurora, e a menina aceitaria. Ela lhe daria aquele abraço apertado e sussurraria em seu ouvido: "Está tudo bem, mãe. Eu ainda amo você."
Nenhuma das duas iria preocupar-se em relembrar suas vidas na terra, porque para quê se lembrar de coisas tão terríveis quando se tem algo muito melhor? Aurora e Malévola brincariam o dia inteiro com os passarinhos, rolariam pela grama e estariam sempre juntas.
Isso nunca iria acontecer.
Malévola sabia que o que fizera era imperdoável. Ela matara a própria filha. Como podia viver ao lado dela para sempre depois que fosse punida pelo que fez? A fada não merecia aquilo, de jeito nenhum!
Podia ser que ela nem morresse. Quem sabe viraria apenas cinzas e seria obrigada a retornar outra vez para seu mundo. Como Connal mesmo lhe explicara uma vez, ela era a Fênix. A Fênix não morria. Nunca.
E refletindo melhor sobre isso, Malévola percebeu que viver para sempre não tem lá tantas vantagens assim. Não quando você sabe que um dia será sozinho porque todos os que você ama o deixarão. Diaval um dia partiria, Aurora já partira, as fadas também não eram imortais. Malévola veria os Moors serem extintos, pois a maldade dos humanos cedo ou tarde ficaria tão grande que derrotaria a magia das fadas. Ela veria guerras e mais guerras, ela veria tudo.
Sentada no cantinho da parede de um lugar que Malévola não fazia ideia onde era, ela suspirou. Estava meio tonta, mas não sabia dizer se era por causa da falta de comida ou porque já tinha sido bem maltratada.
Os seus pulsos ainda tinham as cicatrizes das algemas de ferro que eles lhe submeteram alguns dias antes. Seu pescoço também ardia bastante. Se Diaval não tivesse interferido estaria bem pior —se é que havia como piorar.
Malévola tentou ajustar a visão, pois parecia que ela estava vendo alguma coisa na frente de si. Embaçada demais, deve-se dizer. Ela espremeu os olhos, e a cada vez que a visão ficava mais clara, pior era. Parecia que ali na sua frente estava Aurora.
A mulher balançou a cabeça. Não, impossível. Aurora tinha morrido. Seu corpo fora enterrado, como a cerimônia dos humanos ditava, e ela já seria nada mais, nada menos que pó. Não existia mais Aurora. Ela não podia simplesmente estar ali. Malévola só podia estar tendo alucinações. Isso, da mesma maneira que ela vira Arabela na caverna quando fora tentar resgatar Diaval. Era exatamente isso.
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Desfecho
FanfictionEles sabiam que nada durava para sempre. Tanto as coisas ruins como as boas um dia precisavam acabar. Essa era a lei da natureza que ninguém consegue ir contra. O que eles não esperavam era que essa lei os afetaria tão de repente. Apesar do amor e d...