A sala do trono nunca fora um lugar muito amigável, podia-se dizer.
Por mais bela que fosse, com seus adornos dourados enfeitando as paredes vermelhas, não era o melhor ambiente para se estar. Para cada lado que se olhasse, via-se riqueza. Ouro era o que não faltava para se ostentar em Ulstead. Mas assim como o ouro existia em excesso, o ódio e mentiras se faziam sempre presentes naquele lugar.
Em pé, ao lado do pai, o rei John, Philip secava algumas lágrimas que ainda caíam de seu rosto. Seu velho lhe dizia que não precisava escondê-las, não importava o que os demais pensassem. Diferente de sua mãe, Ingrith, que gostava de manter as aparências e exigia escrúpulo na presença dos nobres.
Tudo ainda era muito recente, claro. Porém mesmo que se passassem quinhentos anos, Philip sabia que sua ferida não cicatrizaria jamais. A ausência de Aurora estaria ali, pulsando e ferroando seu peito como o ataques de várias abelhas que reagem à invasão de suas colmeias. Doía, e nada iria aliviar aquela dor; nada e nem ninguém.
Talvez a única coisa que pudesse ajudar fosse castigar o culpado. Sim, isso faria o coração de Philip aquietar-se pelo menos um pouco. Ele se vingaria pelo o que fizeram com a sua princesa, e ele —o rapazinho que nunca desejara mal a nenhum ser humano —tinha sangue nos olhos, e estava disposto a ver o causador da morte de Aurora sofrer até seu último suspiro.
O problema no caso, era que Malévola fora apontada como principal culpada.
Philip não quis acreditar de começo; não quis porque ele podia até não ter lá esses chamegos com sua sogra, mas sabia que Aurora era alguém que ela nunca atacaria. Não quis acreditar porque quando tomou a princesa com vida uma última vez em seus braços, ele enxergou no vazio olhar dela uma simples frase, que clamava e gritava dentro de seu semblante e dizia: não foi ela.
Só que os fatos com certeza contavam muito mais que a emoção naquele instante. E os fatos diziam que a magia de Malévola entrara em descontrole, e Aurora fora a infeliz vítima desse triste acontecimento.
Poderia ter sido proposital ou não.
Assim que Aurora desmaiou e foi levada por Philip e pelos médicos para o quarto onde passou seus últimos dias adormecida, e também onde morreu pouco depois de acordar, o príncipe já deixara o seu veredito:
"Se verem Malévola novamente, prendam-na, e não hesitem em usar a força se necessário for."
Ele não se arrependia. Nem fora necessário caçar a criatura, na realidade. Malévola deixou-se ser encontrada de propósito. Deixou-se ser torturada pelo ferro em sua garganta, em seus pulsos, queimando-a feito brasa. Ela ficou calada, pois a culpa pesava em suas costas, evidente.
—Hoje é o dia do julgamento... —John refletiu, passando a mão em sua barba farta, sentado em seu trono de pedras preciosas. —Não sei se você ou eu estamos preparados para isso, filho.
O rapaz negou com a cabeça. Não sabia quanto ao seu pai, mas ele não estava preparado para aquele dia. Uma luta em seu interior era travada, onde de um lado havia Aurora pedindo por favor que nada fosse feito a sua madrinha amada, e de outro, havia também uma Aurora revoltada exigindo justiça. Era confuso. Philip mal conseguia respirar.
—Espero que tomemos a melhor decisão. —foi tudo o que ele disse, sem virar-se para o pai. Permaneceu frio as batidinhas do homem em sua mão que tentavam consolá-lo.
Conselheiros do reino estavam por toda a parte, amontoados e ansiosos pelo início da audiência. John insistiu que eles eram necessários, pois seriam uma parte neutra no caso de Malévola, já que Philip era genro dela, e John...bom, John não gostava de fazer mal a uma mosca sequer, e isso porque era rei.
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Desfecho
FanfictionEles sabiam que nada durava para sempre. Tanto as coisas ruins como as boas um dia precisavam acabar. Essa era a lei da natureza que ninguém consegue ir contra. O que eles não esperavam era que essa lei os afetaria tão de repente. Apesar do amor e d...