Exílio das fadas trevosas, nove anos antes...
Hannah estava empolgada. E claro, tinha seus motivos.
Fazia meses que não recebia notícias da sua mãe. Um aperto em seu peito sempre a incomodava quanto a isso, e ela já passara noites sem dormir, pensando o que estaria acontecendo com Luna naquele instante.
Desde que Hannah tinha cinco anos, Luna fora diagnosticada com aquela doença incurável. Não tinha nem ao menos um nome. Era um mistério.
Quando o papai dizia que ela ficaria boa, Hannah acreditava com todas as forças, mas o tempo foi passando, ela foi crescendo, e a mamãe nunca melhorou. Chegou a idade em que ela começou a entender as coisas, e Zufar já não podia esconder que Luna estava fadada a morrer com aquela loucura, pois nada poderia reverter seu estado degenerativo.
Chegou a um ponto em que Luna precisou ser presa e isolada dos demais, pois ela começou a agredir os seu. Até o marido e a filha não foram poupados. Hannah lembrava de cada detalhe, de Zufar tentando controlá-la, mas não obtendo sucesso. As memórias encravaram-se em sua cabeça como um refrão repetitivo de uma música que vez ou outra nos vemos cantarolando sem querer.
Porém hoje, Hannah poderia ver sua mãe mais perto. Poderia tentar abraçá-la após tanto tempo sendo proibida de fazê-lo a justificativa de "para seu próprio bem". Eles iriam tentar a sorte. Talvez Luna conseguisse se lembrar; e mesmo que não o fizesse, Hannah estava muito feliz pelo simples fato de que a veria, conversaria com ela, mesmo que suas palavras se tornassem um monólogo.
Hannah tinha certeza de que alguma coisa poderia curar sua mãe. Não era possível que algo fosse realmente sem solução em meio a tanta magia. Não é que a cura não existisse, ela só não fora descoberta. E se não o fosse logo, Luna perderia a chance de viver uma vida normal.
Ou melhor, perderia a chance de viver totalmente.
Não se sabia o que machucava mais: ver a mãe sofrendo, ou saber que ela poderia ficar boa, mas a medicina ainda não tinha desvendado a solução.
—Podemos falar com ela, não é pai? —Hannah perguntou ansiosa, enquanto Zufar empacotava uma pequena bolsa marrom surrada com algumas frutas para levar a esposa. —Eu quero muito falar com ela!
O fada trevoso nada respondeu, pois não tinha certeza se queria criar mais expectativas em Hannah além das que ela já estava tendo. Ia ser doloroso decepcioná-la. Continuou extremamente atento as coisas que organizava na sua bolsa, evitando o olhar de sua filha. Hannah percebeu que ele tentava esconder algo, uma navalha.
—Pra quê vai levá-la, pai? —a menina apontou para o objeto cortante nas mãos morenas de Zufar. Ele suspirou fundo, pensando no que responder.
—Pra cortar as frutas, filha. —replicou em uma voz embargada. —Pra cortar elas e dar pra sua mãe.
Apenas assentindo, Hannah sentou-se em uma pedra e comprimiu os lábios, ansiosa. Era bem provável que o pai estivesse mentindo, e ela já não era uma menininha ingênua para acreditar nele. Só que preferiu não discutir.
Começou a bater os pezinhos no chão, impaciente. Queria ir embora logo, queria sair dali e ver sua mãe. Papai parecia estar fazendo hora.
Para o desgosto de Hannah, a visita a Luna ainda demoraria mais um pedaço, pois Borra aparecera na porta da casa, chamando o amigo Zufar para conversar.
—Será que podemos ter uma palavra? —Borra cochichou, como se a menina Hannah não pudesse ouvi-lo da mesma forma. —A sós? —ele apontou para ela.
—Eu já sei, vão adiar a visita a mamãe de novo! —Hannah explodiu, cruzando os braços. Isso era o que sempre acontecia. Em uma cara embirrada, a garotinha retirou-se bufando. —Isso não é justo!
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Desfecho
أدب الهواةEles sabiam que nada durava para sempre. Tanto as coisas ruins como as boas um dia precisavam acabar. Essa era a lei da natureza que ninguém consegue ir contra. O que eles não esperavam era que essa lei os afetaria tão de repente. Apesar do amor e d...