Quando fechei a porta do meu quarto, esqueci que a Maria estava presente, e sem conseguir mais guardar os meus sentimentos, as lágrimas começaram a cair sem parar pelos meus olhos, a dor que eu estava sentindo era tão imensa que sentia o apertar no meio do meu peito e a dor me fazia tocar o local. Com a dor surgiu também os soluços durante o choro. Eu queria gritar, eu queria fugir, mas não tinha forças. Com o tempo a falta de ar dominou o meu corpo, me deixando nervosa.
— Minha menina, o que você está sentido?— Maria questiona afastando o cabelo do meu rosto. — Por que você está assim? Me conta, estou preocupada com você.— continua a perguntar, no entanto apenas choro.
—Está doendo, Maria— digo chorando, agoniada com o cada apertar da região em que fica o meu coração.
—Onde minha filha?— pergunta em vão limpando as minhas lágrimas.
—Aqui, bem aqui— pego a sua mão e levo até onde fica o meu coração. — Por favor, faça parar.—suplico e ela me abraça fazendo um carinho em minha cabeça.
— O que foi, minha menina?—Assusto a Maria ao me sobressaltar me afastando dela. De repente sinto a minha pele queimar como se estivessem me jogando várias vezes em um vulcão.
— Todo o meu corpo está queimando!— digo olhando para a minha pele e automaticamente lembro do seu toque em minhas bochechas, no meu braço, no meu cabelo, na minha perna e sinto nojo, me sinto suja. E com isso acabo machucando a minha pele de tanto fazer atrito para tentar tirar os resquícios do seu toque.
— Para com isso, Luna. Você está se machucando— diz Maria assustada segurando as minhas mãos.
—Você não está bem querida, vou chamar o Padre Manuel— quando ela insinua o nome dele entro em desespero.
— Não, por favor, não chame ele. Eu não quero ele perto de mim— imploro ajoelhada em seus pés.
— Calma, Luna. Me conta o que está acontecendo? Por que você não quer que eu chame ele?— diz me levantando e me pondo na cama. — O que ele fez com você, meu anjo?— torna a questionar olhando nos meus olhos.
—Por favor, só fica aqui comigo— ela senta ao meu lado e me abraça e em seu colo eu continuo a chorar repassando as terríveis cenas na minha mente.
— Calma, deita aqui— ela diz e o meu corpo escorrega de forma que a minha cabeça fica em suas pernas. E então ela começa a cantar uma música de quando eu era criança e acordava assustada por causa de um pesadelo, e a todo momento durante o ato a sua mão nunca deixou de fazer afagar a minha cabeça.
Não sei em qual momento acabei dormindo, mas ao abrir os olhos a Maria não estava mais no meu quarto. Estou sozinha e machucada, minha alma está machucada. A vontade que eu tenho é de me trancar no quarto e não sair nunca mais, no entanto lembro que a pessoa que me causou tamanha dor está a alguns metros de distância de mim, e que ele voltará a querer se aproximar novamente de mim. Eu poderia esperar mais três dias, que é quando faço 18 anos, mas eu não me sinto mais segura aqui, eu tenho que ir para bem longe dele. Olho para o relógio ao lado da cama e vejo que são seis e meia da manhã, se eu me arrumar posso fingir que vou para escola e nunca mais voltarei para esse inferno.
E assim faço, pego minha mochila retirando todos os livros dentro dele e colocando as poucas peças de roupas que tenho. Me sentindo suja, pego uma calça jeans e uma blusa de manga comprida azul e vou até o banheiro. Durante o banho me esfrego com força até que minha pele fique vermelha, só assim eu sinto que retiro toda a sujeira daquele nojento em mim. Não demora muito e já estou vestida e com o cabelo em um coque, como não tive tempo de lavar o cabelo, e ele tocou e levou até as suas narinas, eu sentia nojo quando o cabelo tocava em minha pele, então decidi prendê-lo de uma forma que isso não voltasse a acontecer, e pensar que o meu cabelo era uma das coisas que eu mais gostava em mim, e só bastou apenas um toque dele para que isso mudasse. Olho no relógio e está no horário da chegada da van, logo desço as escadas e vou em direção a porta... Em breve estarei liberta.
— Luna, para onde você está indo?— pergunta a Irmã Maria me fazendo parar no lugar. Eu não podia contar a ela.
—Para escola, Irmã. Onde mais eu iria?— digo forçando um sorriso para ser o mais convincente possível.
—Mas menina, você não está bem, volte para cama e durma mais um pouco.
—Não se preocupe, Irmã. Eu estou bem, logo estarei de volta.— digo a abraçando e depositando um beijo em sua bochecha. — Obrigada por tudo Maria. Eu sei que nunca te disse isso, mas eu te amo, você é a mãe que eu nunca tive.— Sorrio para ela e dou as costas, andando em direção a van sem esperar a sua resposta. E ao passar pela porta limpo uma lágrima teimosa que cai dos meus olhos... Isso é o melhor para mim, ficar longe dele é o melhor para mim.
A van como sempre me deixa na frente da escola, espero que todas as crianças que veio no automóvel comigo entre no seu pavimento e também que a van desapareça da minha vista para dá início a minha fuga. Como eu não tinha para onde ir e não conhecia nada em Seattle, apenas caminhei entrando em uma rua e saindo em outra, fiquei assim por longas horas, o bastante para que eu estivesse longe o bastante, assim ninguém me acharia. Eu não havia tomado café pela manhã e a minha barriga já roncava de fome, sento no banco de um parque e abro a mochila e pego uma bolsinha onde continha algumas notas de dinheiro e algumas moedas, conto e vejo que apenas tenho 10 reais. É muito pouco para situação em que estou, mas irá servir, pouparei o máximo que der. Levanto e procuro uma padaria por perto, após uns 15 minutos encontro. Ao entrar pego uma garrafa de água de um litro e meio e pego um pacote contendo 8 pães, logo em seguida vou até o caixa, e nesse local deixo 6 reais e me sobra apenas 4 reais.
Volto para o parque e sento debaixo de uma árvore onde faz sombra e observo crianças brincando com os seus pais. E isso me faz pensar que talvez se minha mãe tivesse me aceitado, hoje eu não estaria aqui. Eu não estaria sofrendo e tendo que morar na rua. Meus olhos enchem de lágrimas, mas não me permito chorar, eu já estou longe dele, nunca mais ele irá tocar em mim. Pego o pacote de pão e o abro e como apenas um pão com um pouco de água. Eu tenho que fazer render esses oitos pães. Quando termino guardo tudo em minha mochila e deito abraçada a ela.
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A mercê da maldade
ChickLitLuna é uma jovem que conheceu precocemente a maldade existente no mundo, mas especificamente a crueldade que existe dentro do ser humano. E em um dia comum a sua rotina muda e Luna não só vê como também é vítima da podridão do homem e diante de tal...