Capítulo 24

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Após o Mason ser levado, eu me senti como se estivesse em uma zona de guerra, onde o meu inimigo estava bem diante de mim tentando me atacar enquanto eu estava lutando para sobreviver. Cenário esse, em que o meu aliado foi abatido, sobrando apenas eu com a minha insegurança e principalmente com o medo de dar um passo em falso e causar a minha morte. Pois será assim que irei me sentir se o Padre Manuel conseguir tocar-me novamente, morta emocionalmente, um corpo sem uma alma. Um morto-vivo, fazendo as coisas no automático, apesar de ter o coração batendo.

Eu passei toda uma vida pregando e vivendo a desconfiança, mas eu não sei o que aconteceu ou o que vem acontecendo comigo, que desde o dia que o meu olhar cruzou o do Mason algo em mim mudou. Bem lá no fundo algo gritava por ele, pedia por sua ajuda, implorava para tê-lo, no entanto eu nunca fui de ouvir a minha intuição, então nem sequer passou pela minha mente ceder a ela. E o irônico disso tudo é que em poucos dias ele se instalou em toda parte de mim sem nem ao menos eu perceber, me trazendo a sensação de segurança, proteção, cuidado e o que ninguém foi capaz de ter de mim, a confiança.

Como é possível um estranho me deixar dessa forma? Sim, estranho é o que somos. Eu posso ter estado em sua casa por alguns dias, mas nada sei sobre ele a não ser o seu nome. Entretanto, esse estranho nunca me pareceu tão conhecido, é como se o meu corpo reconhecesse ele a todo instante, o seu toque, o seu beijo, a sua voz e para piorar se entristece quando não pode ter nenhuma dessas coisas.

Eu sei que é loucura, mas o Mason na minha vida é sinônimo de divergência! Divergência de pensamentos, sensações, vontades e desejos.

E agora o que eu faço para poder me curar da doença chamada Mason? Eu não posso ficar dependente dele. E se ele não voltar? E se tudo que a Emily disse for verdade? Ele não vai embarcar em uma confusão por causa de um brinquedo sem valor, se ele pode muito bem pode achar um novo e bem melhor.

A verdade é que mesmo eu confiando nele, uma pequena parte minha que se adaptou a não confiar, esperando tudo de todos, sempre vai desconfiar do Mason, das suas falas e das suas ações, pois é algo tão automático e intrínseco. Um modo de autodefesa muito bem criado e aperfeiçoado a cada dia para não sofrer decepção.

— Luna, o que está acontecendo? —  acordo dos meus pensamentos com Ethan se pronunciando — Por que o Mason bateu no Padre?

—  Eu não sei, talvez para me proteger! — Olho para as minhas mãos, não querendo ter contato com os olhos do Ethan.

— Do que ele tem que te proteger? Do Padre?... Não, o Padre Manuel não faz mal nem a uma mosca — Fico em silêncio, nada adiantaria eu contar se ele já tem uma visão formada  sobre o Padre. Ele não acreditaria em mim, provavelmente pensaria que estou inventando coisas para caluniar o Padre. É a palavra do Padre Manuel, um líder religioso contra a minha, uma órfã rebelde.

— Luna? — ouço a voz da maldade materializado em pessoa. Me encolho com o frio gélido que percorre todo o meu corpo — Criança, venha comigo — meu coração acelera com a sua aproximação. Me ponho atrás do corpo grande do Ethan, me escondendo, levando o meu corpo o mais longe dele para que as suas mãos nojentas não cheguem até mim.

— Não, eu não irei a lugar nenhum com você — digo com a sensação de ter um nó preso na garganta.

— Criança, não seja teimosa, o orfanato é a sua casa — diz caminhando até mim. Eu seguro no paletó do Ethan com força puxando o seu corpo para trás como um escudo.

— O orfanato não é a minha casa, não mais — Ele segura o meu braço — Me solte! Eu já tenho dezoito anos, o orfanato não tem mais direito sobre mim, eu não preciso mais dos seus "Cuidados" — digo a última palavra com nojo ao lembrar das coisas que ele me causou.

— Aí que você se engana, Luna. Eu ainda tenho a sua tutela, quero dizer, o orfanato tem — ele comprime com força o meu braço, causando dor no local.

— Me solte, você está me machucando! — Faço uma careta de dor.

— Você já ouviu a garota. Solte ela, Padre! — ordena o Ethan. O Padre pisca os olhos, em seguida olha para o local onde está a sua mão e percebendo que o seu personagem de boa pessoa está se desfazendo, ele me solta. Olho para o local avermelhado onde ele me tocou, sentindo nojo.

— Me desculpe, Luna. Não foi minha intenção te fazer mal — Se eu não conhecesse quem ele é realmente, eu acreditaria em suas palavras. Sua face estava triste e o tom da sua voz transpassava a decepção — Mas você tem que ir comigo — Segue sendo firme nas sua decisão.

— Não! Se você me obrigar, eu fugirei novamente.

— Deixe-nos a sós, Padre! Eu quero conversar um pouco com a Luna — O Padre suspira, ao olhar para sua mão vejo o seu punho cerrado. Ele nota a direção para onde os meus olhos estão e lentamente abre a sua mão. Ele está com raiva, mas não pode deixar que percebam.

— Mas eu preciso levar ela para o Orfanato.

— Não se preocupe, ela irá...

— Não, eu não vou — Digo afastando as mãos do paletó do Ethan, me sentindo derrotada.

Ele vai me entregar ao lobo! — penso. Ele segura a minha mão, impedindo que eu me afaste dele.

— Me deixe terminar, Luna — seu olhar implora para que eu confie nele, mas eu não confio. Ele tira os seus olhos de cima de mim e volta a olhar para o Padre — Ela irá, mas eu vou junto! A partir de agora eu sou o advogado dela e farei de tudo para que a sua vontade seja feita — Ele diz e então olha para mim como se estivesse validando as suas palavras. Sinto os seus dedos alisarem o dorso da minha mão e isso me deixa estranha, eu não sei o que sentir com esse gesto.

— A vontade dela não está em questão aqui! O orfanato ainda tem direito sobre ela e é o nosso dever cuidar dela.

— Ela já completou dezoito anos, Padre. Em tese ela já é independente e não precisa mais dos cuidados do orfanato. No entanto iremos ao Orfanato para saber mais sobre a situação da minha cliente e resolvê-la da melhor forma... Agora deixe-me conversar com ela, por favor! — E sem poder rebater o Ethan o Padre se vai, mas não sem antes me mostrar em seu olhar que isso não ficaria barato.

— Seja sincera comigo, Luna. Só assim poderei te ajudar... Por que ele insiste em te levar? você já deveria ter sido liberada da guarda do orfanato. Você mesmo disse que já tem dezoito anos, com a sua idade essa situação não deveria está acontecendo — diz segurando em meus ombros, olhando diretamente para os meus olhos. Ele espera toda a verdade, mas darei uma parte dela.

— Eu fugi antes de completar dezoito anos — envergonhada olho para os meus pés.

— Ei — ele pega em meu queixo, deixando o seu rosto em meu campo de visão — Essa não é a história completa, não é mesmo?— fico em silêncio — Por que você fugiu? — Mais uma vez o silêncio como resposta— Tudo bem, não precisa me contar se não quiser.

— Por favor, Ethan. Só faça o que o Mason lhe pediu, não saia de perto de mim, não enquanto eu estiver no orfanato — Ele leva a sua mão até a minha bochecha, limpando uma lágrima que nem percebi que rolava pela minha face.

— Eu não vou! — sua voz é profunda, escondendo muito mais do que as suas palavras dizem — O Mason me mataria — ele sorri sem mostrar o dente, mas o seu sorriso é falso.

— Vamos?

— E eu tenho outra opção? — minha voz soa um pouco irritada.

— Não!

— Assim como eu imaginava — Suspiro. Ele começa a dar alguns passos, mas eu não o sigo paralisada pelo medo.

— Eu estou com você, Luna — Ele volta para onde estou e me oferece a sua mão— Prometo que será rápido! — Ele pisca para mim e mesmo não querendo ir, eu cedo, apoiando a minha mão na sua.

Eu gostaria que fosse o Mason ali ao meu lado!

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A mercê da maldadeOnde histórias criam vida. Descubra agora