A mercê da maldade

Capítulo 8

Ao ter seus olhos penetrantes sobre mim em um curto espaço fez tudo a minha volta parar. Não existia barulho a minha volta, apenas ele. Eu fui puxada da realidade em que estava prestes a ser atropelada e transportada para um universo paralelo em que estou vendo o véu que me esconde deslizando pela minha face, mostrando assim a minha verdadeira face. É isso que os seus olhos tão escuros pela noite fez comigo. Ele me olha de um jeito tão profundo que destrói os murros que criei, descobrindo até o que eu desconheço sobre mim. Como pode um olhar causar tal sensação? Me deixar despida internamente, trazendo a tona minha vulnerabilidade, mostrando todas as minhas cicatrizes.

Olhos que falam sem ter uma voz, olhos que demostra o paraíso e a guerra, olhos que incendeia e refrigera. Uma divergência de camadas tão profundas. Um olhar que combina perfeitamente com cada detalhe do seu rosto. Maxilar bem marcado, barba perfeitamente aparada, cabelos que se camufla com a cor do anoitecer, sobrancelhas cheias e grossas. Tudo nele retrata a masculinidade e a ferocidade, entretanto os poros da sua pele destaca de forma sublinhada, a frieza, a obscuridade e o perigo.

Inspiro... Expiro.

Caos ou Salvação?

Certamente loucura!

Um som sincronizado das buzinas me tira do transe de seu olhar e quando observo tudo ao meu redor só aí percebo onde estou, no meio da rua com carros passando ao meu lado. O que deu em mim, penso. E como ímã minha atenção volta para os olhos obscuros e vejo a forma com eles olham para mim, de forma predatória, calculando todos os meus movimentos, porém dessa vez não deixo que eles me levem a profundeza do meu ser, antes disso desnorteada corro para a calçada do outro lado da rua. Ao chegar segura no local procuro o carro vermelho, encontrando-o no mesmo lugar e com o seu dono com sua atenção fincada em mim.

Será que ele se perdeu em sensações assim como eu?

Sorrio ainda olhando para ele, descartando esse pensamento bobo. A fome está me causando delírios com certeza, penso deixando as sensações vividas a pouco tempo e o rosto que fala tantas palavras com só um olhar para trás, seguindo para o destino que havia em mente a banca de revista. O céu já estava negro, assim como o cabelos do homem do carro. Céus! Tenho que esquecê-lo! Durante o meu caminhar tenho a sensação de estar sendo seguida, olho a rua deserta ao meu redor e não vejo nada. Apenas alguns pontos, onde a escuridão não encontra a luz. Descarto tal instinto de sobrevivência como uma loucura do meu cérebro e volto a caminhar, no entanto dessa vez ouço passos vindo até a minha direção o que me faz olhar para trás e ver uma sombra de uma pessoa, o que me assusta.

Com o meu corpo totamente em alerta, apresso os meus passos e como reação dos meus atos, a sombra desconhecida por mim dá inicio a passadas mais pesadas e ligeiras, que ecoam pela rua silenciosa. A cada contato dos pés dele com o chão, o meu corção acelera as batidas e começo a hiperventilar. Com o medo transbordando pelo o meu corpo, olho para trás e vejo não mais a sombra, mas sim um homem quase corredo em minha direção. Tendo em mente que o meu perseguidor queria fazer algum mal a mim, corro o mais rápido possível, corro com todas as minhas forças, corro até que as minhas pernas e pulmões doam. E só quando eu acho que eu corri o bastante, eu paro controlando a quase não existente respiração. Entretanto essa foi uma mal escolha feita por mim, pois com poucos segundos em de inércia sinto um toque brutal em meus cabelos, me puxando para trás.

—Me solte! — Me debato em seu aperto quando sinto o meu corpo encostar em outro.

— Achou que iria fugir de mim, boneca? — Um homem de voz nojenta fala próximo ao meu ouvido — Você até que corre bem, mas não o sufiiente, delícia — diz lambendo a minha orelha e aansia sobe pelo meu esôfago.

— Socorro! — grito com a esperança de que uma boa alma me ajude.

— Pode gritar a Vontade, ninguém vai te ouvir! —Diz cheirando o meu pescoço -- Você é tão cheirosa!