Capítulo 12

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Isso não é possível. Como é que eu fui parar aqui e ainda com ele, um estranho que apenas vi duas vezes, penso. Frio, essa é a última coisa que eu lembro. Eu estava ao lado da barraca e nevava muito e a cada floco que caia ao chão, mais frio eu sentia. Lembro também de sentir tudo ficando mais lento, a minha respiração, as batidas do meu coração. Eu tinha certeza que eu iria morrer.

— Como você está se sentindo?— sua voz rouca me tira dos meus pensamentos tomando para si a atenção. Eu olho em seus olhos e as sensações da primeira vez que o vi se fazem presente em meu corpo. E isso me deixa envergonhada, sinto o aquecer das minhas bochechas, provavelmente por conta da minha cor devo estar com as bochechas avermelhadas.

— E-Eu es.... — bufo frustrada. O incômodo na garganta ainda persistia, falar estava sendo um grande esforço. Notando o desconforto, o homem a minha frente vai até ao lado da cama pegando um copo que estava em cima do armário de cabeceira e deposita a água que estava em um pequena jarra.

— Tome, vai melhorar o seu desconforto— diz colocando o copo com água no alcance de minhas mãos. Tento levantar a minha mão para pegar, mas falho miseravelmente. O que aconteceu comigo? Questiono-me. Parecia que eu não movimentava meus braços por meses e ele havia perdido a sua força.

— Posso te ajudar? — olha para mim e após repassar na minha mente que não seria nada demais, permito com um acenar da minha cabeça. Ele se aproxima de mim, sentando ao lado da cama, a centímetros do meu corpo. Com ele tão próximo percebo a cor dos seus olhos, não eram escuros como eu imaginava, ou como eu me recordavam, e sim sutilmente verdes com toques de cinza. Suspiro com ele tão próximo de mim. Seu olhar em mim é pedinte, como se desejassem algo de mim. O que seria? Sua mão toca o meu rosto, e o calor que ela transmite me faz fechar os olhos por alguns segundos, quando retorno a abrir, os seus olhos estão fincados nos meus.

— Você não sabe o quanto esperei para vê-los novamente. São mais lindos do que eu lembrava. — Não sei do que ele se refere, mas o meu corpo parece entender, pois cada pelo do meu corpo se arrepia. Ele afasta uma mecha do meu cabelo que estava em meu rosto, o colocando atrás da minha orelha e desliza o seu dedo indicador pela minha mandíbula — Beba— ele diz olhando para o copo e depois parando em meus lábios. O frio do copo entra em contato com os meus lábios e em cada gole aprecio a calmaria trazida pela água para as minhas cordas vocais.

— Deseja mais água? — pergunta assim que bebo até a última gota. Recuso, mexendo a cabeça de um lado para o outro.

— Por que estou aqui? Onde estou?— pergunto querendo todas as respostas. Eu gostaria de sair do escuro.

— Eu te encontrei quase morta e te trouxe para a minha casa. — diz ao se levantar e colocar as duas mãos nos bolsos da calça.

— Por que para sua casa e não um hospital? — fico confusa, quando eu ficava doente ou sofria algum acidente as irmãs sempre me levava para uma pequena enfermaria. Mas ele me trouxe para a sua casa e não para um hospital, onde há médicos.

— Eu prometi que cuidaria de você e.. — sua frase não termina, ele olha para mim passando seu olhar por todo o meu corpo e depois desvia.

O que ele esconde? Por que eu tenho a sensação de ter algo a mais por trás de seus motivos?

—Na hora certa você saberá de tudo — diz e sabendo pelo seu olhar que mesmo que eu implorasse ele não iria dizer nada, eu me dou por vencida. O importante é que eu estou bem.

— Obrigada— digo olhando para o seu rosto, e vejo um franzir de sobrancelha.

— Por cuidar de mim — ele vem até mim, demora alguns segundos olhando para os meus lábios e em seguida para os meus olhos e fala de uma maneira tão rouca... tão... de forma que não conheço palavras para descrever.

— Se você soubesse, não me agradeceria — Suas palavras me deixam confusas. Não é o certo fazer quando alguém faz um bom ato? — Descanse, pedirei para a Antônia trazer algo para você comer— ele volta a dizer e então os seus lábios tocam a minha testa causando um movimentar estranho em minha barriga. E em seguida ele se afasta e me deixa sozinha no quarto.

Céus o que acontece com o meu corpo quando ele está por perto? É como se eu não conhecesse o meu próprio corpo, bastava um olhar, um toque e algo em mim ascendia. Eu não sei o que é isso, eu nunca senti algo assim quando morava no orfanato. E também nenhuma das irmãs me contaram sobre isso. Eu estava totalmente perdida em minhas sensações.

Repassando a pequena conversando que tivemos, lembro que ele disse que prometeu que cuidaria de mim. Mas quando isso aconteceu? Eu não lembro de nada. E por que ele quer cuidar de mim? Ninguém nunca me quis, a minha mãe me abandonou. E porque ele me quer? Para que? Eu não sei o que eu posso oferecer para ele, olhando para esse quarto, o tamanho enorme desse cômodo e o quão bonito as coisas são aqui, ele já parece ter tudo.

— Trouxe uma sopa para você, como você ficou desacordada por sete dias é melhor ingerir alimentos líquidos — uma senhora simpática diz parada em minha frente com uma bandeja, em qual momento ela entrou eu não sei. No entanto não foco muito nela, meu cérebro parece ter travado ao processar as suas palavras. Uma semana, eu fiquei desacordada por uma semana. Deus!

— O que?— pergunto perplexa.

— Perdão, eu disse algo errado?— ela fala deixando a bandeja em cima de um pequena escrivaninha.

— Não, é que....  Nossa, sete dias?— encosto as minhas costas mais profundamente na cama.

— Desculpe, pensei que já soubesse. O senhor Mason não te contou?— faço que não com a cabeça, ligando o nome que ela disse ao homem que estava aqui antes dela.

Mason, repito em minha mente querendo falar em voz alta para saber como seu nome desliza pela minha língua, mas acredito que deve soar bem melhor do que na minha mente, provavelmente como açúcar derretendo na boca. Mason, combina com ele. Diferente e bonito.

Único!

—Tudo bem, não precisa se preocupar — volto a minha atenção para a senhora de cabelos grisalhos, de pequena estatura e magra.

— O patrão, me disse que a senhorita está fraca, então eu lhe darei a sopa.— pega a sopa e senta ao meu lado na cama.

— Por favor, me chame de Luna, sem senhorita.

— Tudo bem, Luna— ela sorri— Você deu um baita susto na gente— diz quando deposita a primeira colher com a sopa em minha boca.

— Desculpa— digo envergonhada.

— Graças à Deus agora a Senhorita está bem. — ela dar um sorriso mostrando os dentes... Após alguns colheradas termino a sopa.

—Obrigada, senhora Antônia.

— Apenas Antônia, querida. — diz levantando e pegando a bandeja e em seguida caminha em direção a porta.

— Descanse, Luna. Mais tarde volto para lhe ajudar com o banho — diz ao parar e olhar para mim. — Fico muito feliz em te ver acordada, o Senhor Mason estava muito preocupado com você. Estava muito nervoso porque a senhorita não acordava.— ela diz e se vai me deixando com um emaranhando de pensamentos.

Mason estava preocupado comigo. Eu? O que você viu de especial em mim?

— Mason, Mason, Mason — digo o seu nome algumas vezes e como pensei, mesmo soando forte, derrete em minha boca.

— Me chamou, anjo?— diz parado na porta olhando em meus olhos como se fosse me devorar.

A mercê da maldadeOnde histórias criam vida. Descubra agora