Capítulo 18

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O nome do orfanato, é como um gatilho para a minha mente. Com a visão do nome na fachada, começa a passar em minha mente os meus últimos momentos no local que até então era o meu lar, onde eu sempre me isolei após ser humilhada pelos meus colegas de classe. O lugar em que passei horas imersa em uma realidade de vida diferente da qual eu estava, sonhando com alguém entrando em meu quarto e me levando embora para sua casa, para ser a sua família. Sinto dó da minha cama, a minha fiel companheira de choro junto com o meu travesseiro, que já cansaram de amanhecer com várias marcas das gotas de minhas lágrimas, estas decorrentes do entendimento de que eu estava sozinha diante de um mundo com bilhões de pessoas, da noção que dentre esses bilhões nenhuma sequer pessoa me amava, no mínimo sentia compaixão.

Cada detalhe da minha última noite no orfanato passa em uma lenta reprise, o rosto nítido do Padre, o seu olhar nojento para o meu corpo, a sua voz provocando a minha bile, a forma como ele me cercou, tocou e intimidou. O medo, o pavor, o desespero vem junto com o passar das cenas. É como se eu estivesse vivendo tudo novamente, e assim como naquele momento eu não tinha controle sobre a minha vida.

E com todos os sentimentos voltando como uma avalanche, meu corpo reage a eles. O meu coração acelera desenfreadamente como se fosse atravessar a minha caixa torácica, minhas mãos ficam soadas, meus sentidos se reduzem ao pó. É como se eu estivesse dentro de uma bolha, eu não ouvia nada ao meu redor, não conseguia sentir o chão em que pisava e a minha visão se encontrava turva. No entanto um dos meus sentidos, ainda sim fraco, se manteve presente. Um aroma amadeirado, bem distante, como se estivesse sendo levado com o vento para longe de mim é captado pelo minhas narinas e reconhecido pelo meu cérebro. E identificado o dono do perfume, lembro que o Mason está ao meu lado, minha mão em contato ainda com a sua contamina a dele com as gotículas de suor, então a bolha em que eu estava presa explode.

Não desmorone, não aqui, não na frente dele. Só por um momento esconda os seus sentimentos, apenas hoje aprenda a ser forte — digo internamente para mim. Limpo rapidamente a lágrima solitária que desliza pela minha face, não deixando brechas para questionamento.

Apesar de querer reerguer as paredes que caíram internamente, a força da gravidade tenta fazer o que ela sabe fazer de melhor, levar tudo ao chão. No entanto mãos grandes e ágeis me seguram, impedindo que eu desmorone. Seus braços me levam para perto do seu corpo, acalmando as minhas células agitadas que querem fugir. Com o choque da situação ou talvez dos nossos corpos, olho para o seu rosto e flagro o olhar dele em mim... Ele é profundo, penetrante! A medida em que olha diretamente em meus olhos uma camada da minha barreira é destruída e ele fica mais próximo de desvendar os meus segredos, mas a medida que ele a quebra, outras duas é posta como modo de defesa. E como um ato de insistência para a descoberta ele repousa a sua mão na lateral da minha face, olhando diretamente em meus olhos.

— Você está bem, Luna? — pergunta analisando cada detalhe que possa me entregar, no entanto mesmo não sendo uma boa mentirosa, eu finjo. Inspiro e expiro, como forma de relaxar, de esconder o meu nervosismo. Me apego ao fato de que apesar de ter o nome do orfanato em que morei, não é a sua imagem diante de mim e sim de uma casa luxuosa, com luzes que a cercam a deixando chamativa. E também me segurando na hipótese de ser um outro orfanato com esse nome pois, o planeta é imenso, e assim como existe pessoas com nomes iguais, deve ter orfanatos com os mesmos nomes também.

— Sim, não se preocupe. O único problema aqui é que você tem uma acompanhante com duas pernas esquerdas — dou um sorriso sem mostrar os dentes da minha piada, esperando que ele acredite, mas o seu olhar me julga ao mesmo tempo que sua feição se torna impaciente. Ele sabe que esta não é a verdade!

— Você tem certeza? — balanço a cabeça confirmando, mas o meu corpo me trai, mostrando o oposto, derramando outra lágrima solitária — Então me diga o porquê dessas lágrimas.

A mercê da maldadeOnde histórias criam vida. Descubra agora