Capítulo 25

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O caminho até o orfanato foi um martírio, a cada quilômetro mais perto da chegada as sensações de medo e desespero me sufocavam. As minhas pernas a todo momento ficaram em agitação. Apesar do silêncio enlouquecedor no carro, os batimentos cardíacos tornaram-se trilha sonora do meu medo. A respiração longa e inter cortada tornou o ambiente mais dramático e assustador. Isso, assustador, essa é a palavra certa para toda essa situação. No entanto, poderia ter sido pior, bem pior, eu poderia ter sido obrigada a dividir o pequeno espaço do carro com o Padre Manuel. O Ethan poderia ter sido insensível a esse ponto, mas ele não foi, mesmo não sabendo da sujeira escondida debaixo do tapete, assim que saímos para o encontro do Padre, ele deixou bem claro que eu ficaria ao seu lado, que ele não me deixaria só e que o Manuel não iria no mesmo carro que a gente.

Quando os meus olhos encontraram o portão de ferro do orfanato com a pintura velha se desfazendo, um nó surgiu em minha garganta impedindo tanto a minha fala quanto a minha respiração que se tornou quase inexistente, a cor preta tomou toda a minha vista, me deixando no escuro. Em um estante eu estava no carro sentada ao lado do Ethan e no outro eu estava sendo sugada pelo pânico que me puxava cada vez mais para o fundo. Essa era a forma do meu cérebro de tentar escapar da realidade, de me fazer não sofrer novamente, de não reviver as cenas que quero esquecer, pois na minha frente estava o gatilho perfeito para os meus pesadelos e para fugir o meu cérebro me trancou no lugar mais profundo da minha mente, um local solitário, frio e escuro. O meu cérebro achava que estava me salvando, mas sua "ajuda" estava me matando, deixando-me nervosa, agitada, com medo, assustada, por fim sem consciência, desmaiada.

Escuridão!

Aos poucos sinto os meus sentidos retornando, sendo o primeiro deles o tato ao sentir minha pele sobre algo áspero, seguido por ele a audição, deixando de ser sons turbulentos e confusos para vozes agudas e grossas aparentemente preocupadas. Com a noção do terceiro sentido algumas barreiras se desfazem, o aroma conhecido muito bem pelo meu cérebro penetra as minhas narinas ativando algumas memórias dela ao meu lado, e naquele exato momento eu experimentei um novo sentimento, a saudade. Meu corpo se agita, ansioso para encontrar a pessoa que cuidou muito bem de mim e até pouco tempo não tinha reconhecimento disso.

— Ela está acordando — ouço ela dizer e o local fica silencioso ao ponto de conseguir ouvir o som das respirações pesadas e profundas — Luna, minha menina — Abro os olhos e ela é a primeira pessoa que vejo, primeiro como um borrão e após alguns segundos a vejo da mesma maneira como a vi pela última vez quando dei as costas a ela dizendo que eu voltaria, uma linda senhora de pele alva, com uma pequena estatura e um pouco acima do peso, mas noto também algumas diferenças na sua face abatida, mais linhas de expressão do que eu me lembrava. Por fim, com a influência de todos os outros sentidos despertados, o último ressurge salgado e molhado, o sabor deixado pelas minhas lágrimas.

— Irmã... Maria — dizer o seu nome nunca foi tão difícil, não quando se está tentando controlar sentimentos que querem vir a superfície. A senhora mais gentil que eu poderia ter conhecido se joga sobre o meu corpo, me abraçando com uma força considerável, mas nada que possa me machucar.

— Eu estava tão preocupada com você. Eu procurei tanto por você, eu pedi incansavelmente à Deus para te proteger... Foi tão difícil não vê todos os dias a minha menina... Meu Deus, eu achei que algo de ruim tinha acontecido a você, eu pensei que nunca... — Sua fala é cortada por um soluço sôfrego. Vê-la assim me causa dor, eu não queria fazer ela sofrer com a minha partida. Choro ao ouvir seu desabafo.

— Ei... — Seguro em seus ombros e delicadamente a afasto, o suficiente para poder olhar o seu rosto — Eu estou bem, não chore, não por mim — digo recolhendo as lágrimas que deslizam pela as suas bochechas.

A mercê da maldadeOnde histórias criam vida. Descubra agora