- Capítulo 3
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Eu não conhecia nada naquele lugar. Vaguei igual uma desvairada sem rumo e direção.
Dobrei em uma rua deserta e estreita, onde a coloração das luzes dos postes era amarelada e dava um aspecto ainda mais esquisito, próprio de um filme de terror.
Caminhei amedrontada, atravessando uma esquina sem olhar para trás em busca da ajuda de algum morador, mas não havia uma casa acesa naquele local macabro.— O Gabriel me paga! Por causa daquele imbecil vou chegar bem tarde em casa e nem vai dar para estudar para prova de amanhã. Sem contar, que já estou sentindo um inchaço nas pernas de tanto andar. Eu deveria ter aceitado a carona da Bianca. Como fui burra! — Resmunguei tirando os saltos que faziam calos nos meus pés.
Torci para encontrar um telefone público e poder ligar para o meu pai, pedindo que enviasse o exército se necessário fosse para me tirar logo dali. Porém, não existia nada e nem sinal de algum ser vivo com quem eu pudesse contar.
— Droga! Que falta o meu celular faz agora! Tomara que eu não fique perdida nessa viela imunda! — Girei, olhando em volta para uma fileira de barracos de lona, com tênis pendurados nos fios e os muros todos pichados.
Pretendia dar o braço a torcer e voltar para o motel, apelando pela carona do Gabriel. O pior seria permanecer ali e ser confundida com uma mendiga ou coisa pior.
Foi então, que tive a impressão de haver alguém me seguindo.— Biel, é você? — Perguntei assustada, olhando para uma sombra que se escondeu atrás de uma árvore.
Entretanto, não obtive resposta.— Nossa, eu tô ficando neurótica. Deve ter sido um vulto ou só algum gato de rua com fome. — Disse, crendo que não seria nada de mais.
Continuei andando. Desta vez, ouvir o barulho de pisadas nas folhas secas.
— Isso não tem graça, seu doente! Está me assustando. Dar para sair logo daí. Eu já te vi. — Protestei, engolindo em seco.
— Gabriel, não acha que já é um homem feito para agir igual um moleque brincando de pique-esconde? — Falei aflita, com os olhos marejados.
Inesperadamente, um homem robusto, vestido de preto e com um capuz cobrindo o rosto, surgiu caminhando ligeiramente atrás de mim.
— Socorro! — Gritei ao correr.
Sem dificuldade alguma ele me alcançou, me pegando por trás e derrubando-me no chão com uma violência exacerbada.
— Me larga, seu nojento! O que você quer? Isso é um assalto? Tem grana na minha bolsa, pode levar! — Supliquei desesperada, com a cara literalmente no asfalto.
Dava para exalar o mau cheiro de cigarro impregnado em seus dedos enquanto ele tentava me sufocar a todo custo, desejando que eu desmaiasse.
Lutei com todas as minhas forças para conseguir me desprender dos seus braços, mas ele era muito mais forte.— Por favor, não me machuque! — Chorei quase sem ar, demorando para perceber que aquilo não se tratava de um assalto, era um sequestro.
Antes de perder totalmente os sentidos, eu pude ver um carro cinza de vidros fumê se aproximando lentamente de nós com os faróis acesos, e ouvir uma voz maquiavélica dizendo:
— Conseguimos mais uma puta!
Não sabia por quanto tempo apaguei. Entretanto, abrir os olhos lentamente e vi dois homens no banco da frente conversando sobre o que pretendiam fazer comigo.
— Vamos estuprar essa vadia antes de entregá-la a chefe. Tô doido para esvaziar a mamadeira. Será que ela é apertadinha?
— Disse um deles apalpando seu membro.— Ficou maluco? A Morgana nos deixou ciente de que a quer intacta. Mas admito que essa vagabunda é gostosinha pra caralho! — Respondeu o outro.
— Vamos fode-la dormindo mesmo. Nem ela saberá! Além do mais, merecemos esse bônus por termos executado perfeitamente o nosso serviço.
— Segura a onda, pilantrão! No fim das contas teremos a nossa recompensa.
— Sei não! Alguém vai ter que baixar isso aqui. Tô com mó tesão. — baixou o zíper da calça.
— Vira isso pra lá, mermão ou encho tua cara de bala aqui mesmo. — Brincou, exibindo uma pistola.
Eu estava apavorada escutando tudo aquilo. Pus as mãos na boca para que meus soluços de choro não fossem ouvidos.
Não conseguia crer que em meio a tantas pessoas no mundo, aquilo estava acontecendo justo comigo.
Não fazia ideia de para onde eles estavam me levando, mas não pagaria para saber.
Esperei uma oportunidade favorável daqueles abutres pararem o carro para eu sair correndo, mesmo ciente de que seria arriscado levar um tiro.— Mano, tô afim de dar uma mijada. Estaciona ali na frente! — Pediu um deles apontando para uma avenida um pouco movimentada com uma cafeteria em funcionamento.
— Vai lá e ver se não demora ou te deixo aqui! Tô morrendo de sono. — Disse o outro bocejando e se deitando para um rápido cochilo.
— Vou aproveitar e te trazer um café bem forte para não dormires em serviço, boneca!
— Vai tomar no cú, seu folote! — Exclamou bêbado de sono.
Era aquela a minha chance.
Sem hesitar, tentei abrir rapidamente a porta, mas estava travada.
Foi então, que avistei um casal de chineses passando por perto e baixei o vidro.— Socorro! Me ajudem, por favor! Estão me sequestrando. Chamem a polícia! — Gritei, mas eles pareciam não entenderem nada do que eu dizia e me olharam confusos como se eu fosse uma maluca.
— Filha da puta, eu vou te matar! — Disse o outro levantando do banco e tentando me pegar.
Pensei em sair pela janela. Porém, levei uma coronhada forte na nuca que me fez apagar novamente.
Continua...
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Me chame de puta! ( CONCLUÍDO)
Short StoryQuem poderia imaginar que a vida invejável de Jéssica Penclin mudaria da noite para o dia de forma tão brusca? Após ser sequestrada numa esquina deserta e escura enquanto tentava voltar para casa, ela se ver nas mãos de perigosos traficantes de mulh...