- Capítulo 20
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Cheguei no bordel pela manhã e logo fui surpreendida com a notícia de que o Gabriel não havia morrido e que tinha fechado um acordo com a Morgana em ser o mais novo gogoboy de uma 'boate' em Las Vegas.
- Quer dizer que eles não o mataram? Ufa! Ainda bem!- Perguntei pasmada e um tanto aliviada.
- Não. Viram que ele poderia ser útil em outro ramo de prostituição e o transferiram ontem mesmo para lá. Convenhamos que ele é um moço bem apresentável e será uma grande fonte de renda nos negócios da chefe. - Contou a Yuna, enquanto esfregava as minhas costas na banheira.
- Concordo! Por um lado, eu estou feliz em saber que ele está vivo, mas não desejo uma vida dessas a ninguém. Apesar dele ter agido daquela forma, imagino a dor que sentirá quando der falta da família. - Fechei os olhos e respirei angustiada.
- Talvez ele nem deteste tanto essa coisa de foder com mulheres diferentes várias vezes em um dia, já que é obcecado por sexo. Ficamos sabendo o que tentou fazer com você. Aliás, está tudo bem, né?
- Sim. Tive uma noite maravilhosa. - Afirmei, com um brilho radiante no olhar.
- Não vai me dizer que...
- Exatamente. Perdi a minha virgindade. - Retruquei soprando uma bolha de espuma.
- Saquei. Mas posso saber que sorriso escancarado é esse?
- Yuna, foi incrível! Nunca imaginei ser tão estupenda a sensação de ter um orgasmo. Ele foi tão gentil e cuidadoso. Estou perdidamente apaixonada! O Felipe é um lorde.
- Felipe? Quem é esse? - Franziu a testa.
- Quis dizer, Kalleb. - Disfarcei rapidamente.
- Se apaixonou por um cliente. Nossa, que calamidade! Acha isso bom para você? Acredita que ele irá te assumir?
Eu sempre fui uma garota de guardar segredos alheios, mas odiava esconder os meus das minhas amigas. Eu me roía para não lhe contar que o Kalleb, ou melhor, o Felipe era um policial disfarçado que nos tiraria dali.
No entanto, tive de me segurar. Ela era ansiosa demais e possivelmente despertaria suspeitas se soubesse que nossos dias ali estavam para acabar.- Claro que não. Que bobagem minha em pensar isso, não é? Talvez tenha sido a tensão de todos esses acontecimentos funestos que está me fazendo falar abobrinhas. - Inventei, me encolhendo na banheira.
***
Em matéria de importunação, a Morgana tirava nota dez.
Eu havia acabado de sair do banho, quando ela entrou no quarto sugerindo que eu me vestisse depressa para atender a um cliente masoquista que apareceu no bordel cheio de "amor para dar".- Eu estou exausta e quero descansar! A senhora já não ganhou o suficiente negociando a minha virgindade com o Mohammed? - Falei calmamente, cutucando uma espinha da testa em frente ao espelho.
- Eu vou fingir que não ouvir isso. Está pensando que puta tira folga? Arrume-se e vá para o salão imediatamente! Não é um pedido, é uma ordem. - Gritou, batendo a porta em seguida.
- Essa mulher é o demônio em pessoa. Custa ser um pouco diplomática? Ah, mas em breve ela terá o que merece! - Esbravejei.
- Fala isso com tanta convicção. O que está escondendo da gente, sua loirinha azeda? - Indagou a Suellen, me fuzilando com o olhar.
- Nada. Eu só me exaltei. - Exclamei nervosa.
- Será mesmo? Percebi que voltou bem estranha desse encontro com o árabe, e não foi só porque ele te proporcionou uma noite mágica, como deu para notar.
Está muito confiante e sossegada, até o semblante mudou. Nesse mato tem coelho! - Disse desconfiada.- Dar um tempo, Suellen. Para de procurar problemas onde não há. - Intercalei dando de ombros e me dirigir ao salão.
O suposto cliente, me esperava na sala de jogos e foi bastante cortês ao me ver entrar. Ele tinha os olhos puxados, bigode bem grosso e parecia um lutador de sumô de tão gordo.
- Bom dia, mademoiselle! - Pegou minha mão e beijou-a.
Soltei apenas um sorriso refreado e me sentei no sofá, me segurando para não sair correndo.
- Quer um charuto? - Ofereceu, tirando um do estojo e acedendo.
- Não, obrigada! Eu não fumo.
- Que moça agradável! Estava pensando seriamente em jogar uma partida de sinuca antes. Mas te vendo desse jeito me deu água na boca. Topa me dar esse rabinho aqui mesmo na mesa, sua gostosa? - Falou, me dando um banho de fumaça.
Eu estava ciente que o Felipe me assistia pela micro câmera instalada em meu colar e torcia para ele aparecer de repente e me livrar da tortura que seria fazer sexo com aquele gorila.
- Não! Eu prefiro algo mais trivial. Que tal subirmos para um dos quartos? A cama lá é macia e confortável. O que me diz? - Me levantei, o puxando.
- Você é quem manda, minha deusa! - Disse animado.
Partimos para o quarto, onde eu tentava o enrolar, até o Felipe aparecer.
- O que você trouxe nessa mochila? - Apontei.
- Alguns brinquedinhos bacanas para usarmos, meu bem! - Mordeu os lábios.
Arregalei os olhos ao abrir e encontrar um par de algemas, chicotes e velas.
- Usará esses apetrechos em mim? - Perguntei assustada.
- Não, pelo contrário, você quem usará em mim.
Quero que seja a minha carcereira perversa e me castigue impiedosamente por ser um menininho malvado. - Deitou-se na cama, esperando que o algemasse.- Credo, esse obeso é mesmo um masoquista! - Falei mentalmente, não hesitando em realizar o seu desejo doentio.
- Agora me açoite e depois derreta uma vela em meu corpo! - Suplicou.
Eu estava imensamente apavorada e não acreditava que existiria gente desse tipo no mundo, que tinha prazer em sentir dor.
Embora, ele tivesse adorando a cera quente pingando sobre sua pele, eu não levava o menor jeito para praticar tamanha barbaridade e fechava os olhos clamando pela chegada do Felipe.- Agora baixe a minha calça e me chupe, sua putinha! - Ordenou aos berros.
- Com licença! Desculpa atrapalhar vocês, mas a Jéssica precisa ser substituída por outra michê. Surgiu outro cliente que ofereceu um valor maior pelo serviço dela. - Falou a Morgana entrando no quarto bruscamente e fazendo jus a expressão "salva pelo gongo".
- Qual é? Eu cheguei primeiro. Avisa que essa vagabunda não está disponível. - Retorquiu.
- Regras da casa: quem paga mais, é que tem preferência.
Não perdi tempo e sair em disparada. Ao entrar no salão, encontrei o Felipe e tive de me controlar para não pular em seus braços e enchê-lo de beijos por ter me salvado mais uma vez.
- Quero a melhor suíte desse lugar. Peça para essa vadia subir e me esperar lá, enquanto termino de tomar o meu whisky. - Falou seriamente, mostrando ser um excelente ator.
- Vejo que gostou mesmo da minha mercadoria, não é, senhor Kalleb? - Disse a Morgana meio antenada.
- Um freguês satisfeito, retorna várias vezes para repetir o prato. - Respondeu serenamente.
- Achei que gostaria de dar uma variada no "cardápio". Tenho outras meninas á disposição. Deveria conhecê-las.
- Não há dúvidas de que sejam belas moças. Você soube selecionar bem as suas michês. Mas ainda não terminei o meu trabalho com a Jéssica.
- Pelo o que me parece, está um tanto enrabichado por ela. Estou errada?
- Se enganou. Eu sou um homem de muitas mulheres e não me deixo iludir por nenhuma. Apenas não concluir o meu serviço, como acabei de explicar. Agora pode me dá licença? - Subiu as escadas.
O aguardei ansiosamente, sedenta de vontade de sentir o seu cheiro, seu toque, o gosto doce dos seus lábios.
Continua...
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Me chame de puta! ( CONCLUÍDO)
Short StoryQuem poderia imaginar que a vida invejável de Jéssica Penclin mudaria da noite para o dia de forma tão brusca? Após ser sequestrada numa esquina deserta e escura enquanto tentava voltar para casa, ela se ver nas mãos de perigosos traficantes de mulh...