A um passo da morte🦋

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- Capítulo 9

                                 •••

A sensação de estar diante da morte após dar o último suspiro é algo inexplicável.
Eu vi um flashback de tudo que vivi, passando em minha cabeça como relâmpagos.
Todas as conquistas, evoluções e motivações que me tornaram uma mulher decidida, com autonomia e garra, de repente não valiam mais de nada.
Por um triz, aquele planeta não seria mais o meu lugar.

— Senhorita Morgana? Não a mate, por favor! Ela pode ser útil, pois tem algo que lhe interessará muito! — Gritou a Yuna, impedindo o Lúcio de apertar o gatilho.

— Do que está falando? — Enrugou a testa.

— A Jéssica é virgem! — Afirmou em alto e bom som.

— Era só o que me faltava! Não fale asneiras! O Lúcio a viu sair de um motel antes de segui-la e trazê-la para cá. Vai me dizer que ela foi colher maçãs lá? — Ironizou.

— Ela e o namorado não tiveram nada além de uma preliminar. Ela me contou tudo. Foi por isso que resolveu fugir, pois não quis ter a sua primeira vez com um suposto galinha.

— Isso é verdade, garota? — Perguntou, tirando a mordaça da minha boca e segurando em meus cabelos.

— Prefiro que me mate do que te dar o privilégio de ouvir uma notícia boa vinda de mim. Acabe logo comigo! — Falei coberta de ódio, não fazendo questão da minha vida.

— Por via das dúvidas, eu mesma verificarei isso! — Disse, me arrastando à força para o banheiro.

Ela não hesitou em tirar o meu vestido, abrir as minhas penas e inserir o dedo dentro da minha vagina para ter a prova que queria.

— Inacreditável, o hímen não foi roto. Essa vadia é mesmo lacrada! — Falou maravilhada, como se estivesse diante de um baú coberto de ouro.

— Satisfeita, sr° ginecologista? — Debochei.

— Você não imagina o quanto!
Deu sorte dessa vez por me dar esse prêmio. Caso contrário, a terra adoraria devorar esse corpinho lindo. — Exclamou, me devolvendo o meu vestido.

— E agora? O que pretende fazer comigo? — Perguntei receosa.

— Não sei ao certo. Porém, faço questão de avisar que o seu castigo virá a galope.

— O que quer dizer com isso?

— Aguarde e verá! — Saiu gargalhando.

Tranquei a porta, me sentei no vaso sanitário e debulhei em lágrimas, aliviada por ainda estar viva e principalmente por ainda ter a esperança de rever a minha família um dia.

— Jessy? Quero que saiba que eu não tive outra escolha para te livrar da morte, do que contando-lhe o segredo que me confidenciou. De qualquer forma, desculpa tá? Espero que entenda que em outra hipótese eu jamais revelaria. — Explicou a Yuna do lado de fora.

— Eu não estou chateada com você. Na verdade, sou muito grata por ter me salvado. Obrigada! Te devo essa. —Abrir a porta e a abracei emocionada.

Todas chegaram perto e me deram um abraço coletivo, exceto a Suellen que apenas nos assistia encostada na parede roendo as unhas.

— Essa foi por pouco hein, virgem Maria? Parabéns por estar viva! Porém, ainda continua no inferno. — Disse ela, com seu mesmo mau-humor.

Deitadas em nossas camas, começamos a conversar para descontrair e me fazer esquecer daquele trauma.
Falamos sobre as nossas vidas e o que pretendíamos fazer quando fôssemos libertas dali.
A Yuna relatou que a primeira coisa que faria seria abraçar forte os seus pais e depois sair da Coreia para morar no Brasil, onde sempre sonhou em conhecer.
A Larissa afirmou que pregaria uma peça na sua mãe, dizendo que demorou tanto tempo para voltar pra casa porque a fila da padaria estava imensa. (Ela foi sequestrada de manhã quando saía para comprar pão).
A Camila disse que procuraria o seu noivo e perguntaria se ainda estava em tempo de casarem ou se ele já colocara outra em seu lugar.
A Suellen com seu jeitão sério e fechado, narrou que a experiência que estava tendo no bordel só aumentou a sua vontade de se tornar uma policial e levar em cana qualquer indivíduo que infringisse alguma lei.

— E você Jessy o que planeja? — Perguntou a Larissa.

— Primeiramente, pedirei perdão a minha irmã mais velha por eu ter sido imatura e insensível com tudo que eu falava a respeito dos outros.
Ela sempre esteve certa quando me dizia que não devo menosprezar ninguém.
Depois, arrumaria um modo de alertar a sociedade inteira sobre o tráfico de mulheres.
Insistirei em trazer esse assunto em pauta e lutar para pegarem esses mafiosos malditos!

— Qual o nome da sua irmã?

— Bianca. Nós implicávamos muito uma com a outra, mas éramos inseparáveis. Sinto tanta falta dela! — Expressei, enquanto as lágrimas caíam.

— Como você era antes daqui, Jessy? — Quis saber a Camila.

— Eu era uma universitária popular e interativa.
Estava cursando o último ano de Jornalismo. Tinha uma vida perfeita, apartamento e namorado dos sonhos. Perdi a minha mãe aos seis anos, vítima de um câncer cerebral.
O meu pai cuidou de nós duas com o maior apreço e nos cegou de toda maldade que existe no mundo.
A essa altura, eles devem estar pesando que estou morta. — Solucei.

— Nem me fale! A família de todas nós provavelmente estar pensando o mesmo.

— Aguenta mais um pouco, gente! Um dia sairemos daqui. — Nos confortou a Yuna.

— De onde arranca tanto otimismo, Yuna?
Ainda não percebeu que vamos envelhecer aqui dentro até não haver mais clientes interessados em nós e a Morgana ver que não estamos mais lhe dando dinheiro e por fim nos matar?

— Não blefa, Suellen! Existem clientes que sentem atração por mulheres mais velhas, sabia? Há gosto para tudo! — Brincou com a seriedade do caso, tentando acalma-la.

— É Incrível como consegue ser tão desligada das coisas. Eu não sei vocês, mas eu já estou farta de respirar nesse lugar tedioso e ainda por cima de ficar ouvindo as lorotas que vocês falam!

— E o que pretende? Amarrar uma corda no pescoço e se matar? — Indagou a Larissa.

— Não seria uma péssima ideia!

— Não vale à pena pensar sempre o pior. Precisamos uma da outra. Temos que estar unidas como uma irmandade.
Uma por todas e todas por uma. — Questionou a Camila.

— Irmandade? Essa garota estava a um passo de ter a sua "carta de alforria" e você ainda acha que devemos confiar nela? Acredita mesmo que ela ia tentar nos tirar daqui depois que conseguisse chegar no país dela?
Nem a conhecemos direito, e ela mesma admitiu ser uma patricinha egoísta.
Ninguém muda de um dia para o outro, acorda!

— Eu não garanto que sou "a boa samaritana", mas pelo pouco tempo que estou aqui, posso afirmar que aprendi a ter empatia e jamais viraria as costas para nenhuma de vocês, que estão sendo forçadas a se venderem para homens escrotos. — Soltei a voz.

— Sabe de uma coisa? Eu vou dormir que é o melhor a se fazer. Boa noite, Alices! Continuem sonhando com o País das maravilhas. Ficarei por fora disso. — Afirmou, se cobrindo com os lençóis.

Eu sabia que existia uma razão para a Suellen agir daquele jeito.
O seu mal humor exorbitante, vinha de uma certa amargura que ela carregava de alguma coisa que lhe aconteceu no passado. Eu só queria saber o quê.

Continua...

Me chame de puta! ( CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora