Negociada🦋

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— Capítulo 10

                              •••

A noite conturbada e desgastante que tive ontem, resultou em um sono profundo que foi interrompido pelos berros estridentes da Larissa.

— Meninas, acordem! Olhem só quem veio nos visitar? — Gritou frenética, com um pequeno pássaro azul na mão.

— Que fofo! É um filhote de andorinha. — Disse a Camila.

— Ele está com as asinhas machucadas! Deve ter caído do ninho.

— Como será que veio parar aqui? — Estranhei.

— Pela claraboia, claro!

— Isso só pode ser um sinal!
Meu falecido avô costumava dizer que pássaros simbolizam liberdade.

— Yuna, você já é bem crescidinha para acreditar nessas crenças, não acha? — Retrucou a Suellen.

— Ai, para de pegar no meu pé, sua estraga prazeres! Você é tão desnecessária. — Bufou.

— Eu vou te colocar bem aquecido no cesto até se recuperar e voltar a voar! — Disse a Sabrina, fazendo vozinha de bebê.

O clima naquele quarto cheirava a paz.
Estávamos bem tranquilas e descontraídas com o nosso pequeno visitante, que esquecemos por um instante de toda pressão e tensão que nos rodeavam.
Entretanto, o Lúcio parecia ser o mensageiro do diabo, quando logo veio dar o seu recado infeliz.

— Jéssica, a dona Morgana pediu para se dirigir a sala, agora! — Avisou e se retirou marchando.

— Nossa, eu não suporto ouvir a voz robótica desse pau-mandado. — Reclamou a Camila.

— Será que esse cachorro de madame não se cansa de fazer tudo que ela ordena?
Eu acredito fielmente que eles se pegam nos momentos de carência. — Alegou a Yuna.

— Estou mais curiosa para saber o que ela quer comigo. Não tenho dúvidas de que já pensou na pior maneira de me castigar. — Falei receosa.

— É melhor você ir depressa! Ela anda estressadinha ultimamente. — Avisou a Larissa.

— Eu não vou! — Afirmei decidida.

— Endoidou? Ela pedirá para te levarem arrastada pelos cabelos. Já não basta a adrenalina que você teve ontem? É melhor evitar provocações. Quem avisa, amigo é. — Alertou.

— Dane-se! Essa vaca pensa que é alguma rainha e somos suas súditas. Além disso, ainda estou exausta de ontem. Então, se ela quer que haja clientes interessados em nós, precisa nos manter belas e descansadas, concordam? — Me mantive deitada calmamente, enrolada no cobertor.

Eu sabia que não podia subestimar a capacidade da Morgana depois dela ter quase me matado.
Mesmo assim, fiz corpo mole para não ir até a sua sala.
No entanto, ela surgiu no quarto possuída de ódio e soltando fogo pelas ventas.

— De onde você tira tanta coragem para me desafiar, garota?
Tá cutucando uma onça com vara curta, sabia? — Me pegou agressivamente pelo braço.

— Só queria dormir mais um pouco. As minhas pernas ainda doem. — Justifiquei.

— Pois acho melhor se recuperar depressa, pois acabei de negociar a sua virgindade com um sheik árabe milionário e ele ofereceu um valor absurdo e indispensável por ela. Amanhã mesmo te levarei para o escritório dele, no centro da cidade.

— Mas...

- Sem mais nem menos. Ou você faz direito dessa vez, ou é isso que acontecerá se tentar criar asas novamente. — Me intimidou pisando na andorinha e esmagando-a igual um tomate.

— Você pagará por tudo isso, sua maldita! Eu te odeio! — Bramir, enquanto ela saía rebolando.

— Não se exalte ainda mais, Jessy. Ela sente prazer nisso. — Disse a Yuna me abraçando.

                               ***

Como de costume, passamos o dia inteiro trancadas no quarto buscando algo para fazer que nos fizesse perder tempo.
A Yuna desdobrava as suas roupas e arrumava novamente pela milésima vez.
A Larissa mostrava para a Camila uns passos de balé que aprendera nas aulas que tinha em sua cidade quando era livre.
A Suellen folheava umas velhas revistas de moda que guardava debaixo do colchão, e eu
era o quadro fiel do enfado: deitada na cama, vendo as nuvens no céu formando desenhos de animais.

Para nossa alegria, o Lúcio nos informou que o bordel não funcionaria durante a noite por alguma razão desconhecida e que supostamente teríamos uma folga.

As meninas suspeitavam que ele e a Morgana queriam aproveitar para saciar a carência um do outro, já que provavelmente mantinham um caso secreto e não tinham tempo para “tirarem o atraso” do tanto que “trabalhavam”.

Os pensamentos agoniantes de ser tocada por algum idoso maníaco, me deixou apreensiva e com insônia. Eu me virava na cama de um lado para o outro, como se realmente tivesse formigas no colchão.

— Não vai conseguir dormir nem tão cedo, não é amiga? — Percebeu a Camila.

— Pois é. Eu estou com muito medo. Preferia que ela me desse algo para tomar que me fizesse encarar esse árabe, totalmente inconsciente. Só assim, eu não precisaria olhar para a cara dele.

— Eu não queria estar na sua pele. Longe de mim te assustar, mas certamente esse árabe será um senhor esquisito, com aproximadamente 70 anos, com aquelas gutra na cabeça e vestindo uma espécie de robe largo.
Bem bizarro!

— Nossa, está ajudando muito me contando isso. Valeu, hein? — Joguei-lhe uma almofada.

— Só estou sendo realista ué. Quer uma dica? Fecha os olhos e imagina ser o seu namorado te fodendo.
Eu fazia sempre essa técnica quando encarava uns clientes não tão adoráveis.

— Impossível! O Gabriel não é impotente para imagina-lo neste momento.

— Como pode ter a comprovação disso se nunca transaram?

— Não mesmo. Mas tenho essa impressão. Ele tem um pintinho bem vivo e fofo, sabia?

— Fofo quer dizer minúsculo? — Mostrou o dedo mindinho.

— Não boba! Na verdade, é enorme e grosso feito aquela banana que comemos hoje no café na manhã.
Sem contar, que tem um cabeção rosinha igual um sorvete de morango... é reto, cheio de veias e...

— Sério que está descrevendo-me a mangueira do seu namorado? — Entortou a boca.

— Desculpa! Me empolguei! — rir.

— Vocês devem formar um belo casal no quesito de beleza, né?

— É o que diziam. Sabe qual é a minha frustração? De não ter me perdido antes com ele. Agora sou obrigada a dar para um suposto velho babão, que certamente ficará registrado na minha memória para sempre.

— Jessy, o que acha que o seu namorado deve estar fazendo agora?

— Pelo que conheço, assistindo a seu jogo de futebol americano. — Falei, com uma ponta de incerteza.

Continua...

Me chame de puta! ( CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora