Capítulo quarenta e cinco

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Capítulo quarenta e cinco: A peça que faltava.

ALEX (2020)

— Muito prazer, Ray. — meu pai aperta a mão de Mr.Reyes. — Entre! Entre!

Ray não hesita e atende o pedido. Já eu, fico por alguns segundos pensando. Aquilo realmente valeria a pena?

Seja corajoso, Alex. 

— Ok, eu consigo. — ponho os pés para dentro daquele casa. O lugar continua tão simples, que mal vejo mudanças. O papel de parede velho, as poltronas, a velha mesa de centro e até a pequena mesinha de retratos perto da escada.

Diana ocupa quase todas as fotos. A filha que deu orgulho aos meus pais. Queria que nós tivéssemos sido mais próximos. Lamento sempre que posso. Qualquer coisa relacionada a minha família é para se lamentar. A única coisa que queria saber é como reagiram ou lidaram com a minha morte.

Talvez nem sentiram minha falta. Me aproximo daquela mesinha e avisto uma foto que me chama bastante atenção.

Abro a boca, chocado. Há uma foto minha e tirada dias antes da minha morte. Foi um photoshoot. Eu e os meninos fizemos várias fotos naquele dia.

A foto na mesa é de um momento espontâneo, onde fomos pegos desprevenidos e rindo uns para os outros. Reggie disse algo engraçado sobre estar com fome. Sorrio. Um sorriso triste. Saudade daquela época.

Por que meu pai tem essa foto? Como ele tem essa foto? Pode ter achado na internet.

Continuo olhando com muita tristeza para aquela pedaço de papel emoldurado. Ele pode ter mudado, não é? As pessoas mudam. Merecem uma segunda chance. Minha irmã pode ter mudado. Minha mãe continuaria a mesma? Cansado das perguntas, giro os calcanhares e sigo em direção a sala, onde Ray está com meu pai.

— No que posso ajuda-lo, Sr.Mercer? — Ray inicia a conversa, ao se acomodarem nas velhas poltronas. — Fui intimado e informado a respeito de um acordo.

— Ray, pode me chamar de John. — meu pai fala pausadamente.

25 anos foram o suficiente para aquele homem perder toda a postura de durão que tinha. Se não fosse meu pai, com aquele mesmo olhar que me traumatizou, provavelmente acharia que é um pobre idoso, abandonado pela família. É perceptível a mudança que John passou. Só não vou depositar expectativas.

Ray assente com a cabeça e velho continua a falar.

— Queria tranquiliza-lo de que não abrirei processo nenhum contra você e sua família. Estamos em posições delicadas. Soube da sua filha e do seu desaparecimento. Imagino a dor que deve estar sentindo. A perda de um filho é complicado. — o homem lamenta com um olhar distante. Cerro meus punhos e começo a sentir o nervoso tomar conta de cada fibra do meu corpo. — Não sei se sabe, mas meu filho é o Alex. O baterista. — meu pai ri. Não sinto uma boa sensação com isso. — Ele era um bom garoto. Teimoso, mas bom. Costumava andar de um lado para outro e sempre procurando aquelas malditas baquetas. Era uma pressa para encontrar aqueles garotos e eu não entendia porque. Até que descobri sobre sua banda e mais outras coisas que me dá desgosto de te falar. Eu sabia que era encrenca. Entende, Mr.Reyes? Sabia que meu filho não estava seguro com aqueles rapazes e logo aconteceu tudo aquilo. Eu sofri demais. Perdi meu emprego, foi tempo depois. Ai perdi minha esposa. Divórcio é uma dor de cabeça e espero que não passe por isso. — Sinto vontade de vomitar ao ouvi-lo. — Minha filha se mudou para longe. Sobrou eu, um velhote pobre e que apodrece. Fiz de tudo pela família e ganhei algo em troca? Não. Então estou disposto em não te prejudicar. — Meu pai consegue dizer tudo calmamente e de maneira bem calculista.

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