Capítulo Dois

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Capítulo dois: Perda de memória.

JULIE

Como ele me escutou?

— Hã... — abro a boca tentando pensar em qualquer desculpa que venha na cabeça — Você é da Sunset Swerve, certo? — digo o nome propositalmente errado.

— Curve. — ele disfarça com uma tosse. — Sim, sou eu. Quer um autógrafo? — ele abre um sorriso.

Cruzo os braços indignada e balanço a cabeça negando. Até em 1995 ele é convencido, óbvio.

— Não. — respondo cortando o barato dele.

Luke não perde sua postura e continua me olhando firmemente. Seu corpo se inclina um pouco para frente e ele parece me analisar.

— Luke! — o grito de Alex me assusta. — Vamos? Reggie precisa ir.

— Hm... — ele pensa em como me dispensar de um jeito educado, então levanto a mão dando um pequeno tchau. — Foi um prazer. — Luke fala antes de ser puxado por Alex e ser arrastado pela saída principal.

Eles não lembram de mim.

É claro, Julie. Você ao menos existe nesse ano.

Bufo frustrada e ando sem rumo no The Orpheum. Caminho lentamente em direção ao lugar que se tornou meu maior ato de coragem: O palco. Aquela noite que mudou tudo para mim e para os meninos.

Sempre fui motivada desde criança pelos meus pais a ser um pouco mais corajosa. Sempre tive muito medo de me arriscar. Posso escutar as palavras da minha mãe nesse exato momento escoarem na minha cabeça: "Arrisque-se mais Julie!". Aquela noite, as dálias foram um pequeno sinal dela. Sei que foi.

Sinto uma única lágrima descer de maneira solitária pelo meu rosto. Me aproximo do palco e encaro o teto do local. Um Flashback passa pela minha cabeça:

Dou um discurso bonito e consigo até me lembrar do olhar orgulhoso que recebi do papai na plateia. Me lembro de estar tremendo quando comecei o primeiro verso de Stand Tall, mas a cada nota, apenas sentia que estava berrando todo aquele medo que eu tinha para fora. Eu ergui minha cabeça e consegui, assim como o Luke disse.

Me lembro de Alex aparecendo com a bateria e meu coração podia até acompanhar as batidas exatas. O alívio tomou conta do meu rosto. Eles estavam bem. Meu sorriso surgiu ao ver Reggie aparecendo com sua clássica roupa vermelha. E o Luke... eu prendi todo meu ar por alguns segundos, mas vê-lo aparecer de uma forma tão brilhante... Uau! Foi emocionante.

Cada detalhe desse dia é uma memória guardada com muito carinho. Eu pensava que era meu último show com os meninos, porque eles iriam embora. Só não esperava que isso se tornasse ao contrário.

Respiro fundo e ergo a cabeça. Não posso me render a essa dor. Não agora pelo menos. Não sem lutar antes. 

— Ei, garota! Estamos fechando! Posso ajudar em alguma coisa? — uma senhora que aparentemente deve ter 75 anos passa por mim com uma bolsa enorme pendurada no braço.

— Hã... Tudo bem. Sabe me dizer se tem algum hotel aqui por perto? — minha voz está trêmula.

Eu não sei exatamente como vou pagar para dormir em um hotel. Nem sei se sou permitida a ficar em um sozinha. Quando achar um, eu imploro para dormir até no sofá do saguão.

— O que? Você não é muito nova para ir a um lugar desses sozinha? — a mulher me questiona.

— É que... e-eu... eu... — uma dor aperta meu peito. Eu não percebo que estou quase chorando até a senhora abrir os braços para me abraçar.

Remember [Juke]Onde histórias criam vida. Descubra agora