Catorze

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  Consegui enrolar Jong Wook alguns dias, dizendo que não me lembro direito da história. Ele não pareceu muito convencido, mas não insistiu.

  — Tente lembrar, me avise assim que conseguir — pede numa certa manhã, enquanto nos sentamos para comer.

  Nos últimos dias, ele tem trazido sua comida até minha mesa, para fazermos a refeição juntos. Tento não demonstrar o quanto isso me agrada, afinal, também preciso me fazer de difícil. Mas acontece que é impossível ganhar de Jong Wook nisso.

  — Então, como é sua família? — pergunto, sem tirar os olhos da comida. Mas sou obrigada a encará-lo quando não recebo resposta nenhuma. Jong Wook continua comendo, como se não tivesse me ouvido, o que me faz franzir a testa. — Eu lhe fiz uma pergunta.

  Ele finalmente direciona os olhos escuros para mim, tão sério que engulo em seco.

  — Eu decidi não responder.

  Pisco algumas vezes, enquanto ele volta a comer. Ele disse isso mesmo?
Fico chateada, então decido colocar um acompanhamento no prato dele só para incomodá-lo. O bonito me olha sem entender.

  — E eu decidi te dar isso. Algum problema?

  Fico esperando outra patada, mas ao em vez disso ele sorri, me pegando totalmente desprevenida.

  — Problema nenhum... obrigado.

  Ele volta a comer e eu fico observando, me segurando para não suspirar. Se fazer de difícil é difícil.
 
  Mais tarde, Jong Wook me leva até a pequena área onde jogamos tênis, mas não é uma rede que ele faz surgir dessa vez, e sim uma espécie de palco pequeno.

  — O que é isso?! — indago, confusa.

  — Um jogo de dança.

  Analiso o telão diante do palquinho curiosa, então aparece um avatar com meu rosto dentro dele, me fazendo arfar.

  — Não, não sei dançar, impossível.

  — É exatamente por isso que escolhi esse jogo. Precisamos que passe vergonha lembra?

  Abro a boca indignada.

  — Isso vai ser uma humilhação!

  — Você dança tão mal assim? — Levanta uma sobrancelha, desafiante.

  Esse cientista! Ele vai ver.

  — Eu danço, mas só se você dançar também.

  — O quê? — Arregala os olhos.

  Cruzo os braços teimosamente, segurando o sorriso. Não tem como ele aceitar.

  — Ok. Então vamos dançar juntos.

  A determinação em sua voz me deixa surpresa. Ele está falando sério? Jong Wook se coloca do meu lado e aperta algo no painel, fazendo aparecer seu avatar no telão.

  — Está pronta?

  O encaro embasbacada, não acredito que aceitou fazer isso. Ele se volta para a tela e faz um sinal que faz a sala a nossa volta sumir. Olho para os lados e pisco várias vezes, mas tudo continua branco. De repente o branco se torna preto e luzes coloridas começam a surgir, dando a impressão de que estamos em uma festa. Mal penso nisso e um cenário de festa surge em volta de nós.

  — Você quer plateia?

  — Não!

  Ele sorri com malícia e faz outro gesto com a mão. Então uma multidão aparece em volta de nós. Aish! A realidade virtual do jogo é incrível. Eu acreditaria nela se não soubesse que é falsa. O pior é que ela me faz lembrar da noite que ficamos juntos no karaokê, o que faz meu rosto queimar.

PARADOXOOnde histórias criam vida. Descubra agora