Capítulo 67

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As semanas se passaram e Jay e Erin passaram a ter momentos de conversas profundas na hora de dormir. Como ele estava assumindo o cargo dela nesse meio-tempo, o dia para ele era corrido e eles mal tinham tempo quando ele chegava. Aproveitavam os momentos com as crianças e com Samantha quando ela estava por perto e, então, quando iam para a cama, se encontravam conversando sobre coisas mais pessoais.

Depois que acordou, tudo o que aconteceu com Erin, Andrew e Grace ficou esquecido. Ela não se lembrava, só tinha uma sensação de paz em seu peito que não sabia explicar e, depois que acordou, estava mais disposta a se entregar totalmente à maternidade. Sempre pensou que era o medo de morrer e deixar as crianças, mas havia algo nela que sempre dizia um pouco mais e ela não sabia explicar.

O assunto de hoje era ainda mais profundo e intenso, porque ela se interessou pela carteira de Jay. Ela se lembrou da foto na carteira e olhou para as fotos. Eram pequenas, mas tinham muito significado ali. Maya, Jesse e aquela mulher. A sensação de antes de imaginar que era a mãe dele foi diferente dessa vez; Erin sentia que a conhecia, só não sabia por quê.

- A mulher da foto da sua carteira é sua mãe? - Erin pergunta.

- Sim... - ele diz. - O nome dela era Grace Halstead.

- Grace... - Erin diz, e agora o nome com o rosto soa ainda mais familiar para ela, mas ela não consegue se lembrar. - Maya Grace... - Talvez seja por conta disso. Ela pensa.

- Sim, foi uma homenagem para minha mãe.

- Pode parecer bobo, mas acho que o nome se encaixa muito bem com as duas. Mesmo eu não conhecendo sua mãe, pela foto ela transmite graça. - Erin comenta, e Jay assente.

- Ela era. Tenho poucas lembranças dela, mas a maioria são muito boas. - ele diz, e Erin assente.

- O que aconteceu com ela? - Erin cria coragem para perguntar.

- Foi assassinada pelo meu pai. - ele diz, e Erin o encara.

- Jay... - ela sussurra, colocando a mão sobre a dele.

- Eu nunca te contei o que aconteceu, mas eu também não me lembro muito bem de tudo. Eu tinha uns 4 ou 5 anos quando tudo aconteceu, e consigo me lembrar perfeitamente de apenas 3 coisas daquele dia. - ele diz, sua memória voltando para um dia horrível na vida de uma criança. - O sanduíche que minha mãe preparou, meu irmão William me carregando no colo e dizendo para eu fechar os olhos e os sons dos disparos. O resto é vago para mim.

☠️🖤☠️

Chicago, Il - 1995

- Mãe... - William a chama.

- Escuta, eu quero que você cuide do seu irmão, não importa o que aconteça. Eu cuido de vocês, mas se eu não puder, quero que você cuide dele. Quero que você ensine a ele a ser forte e a ser bom, assim como você. Você me entendeu? - ela pergunta a seu filho mais velho, em uma conversa com o garoto um dia antes do fatídico dia, ele nem mesmo imaginando como tudo aconteceria no dia seguinte.

- Eu não quero que nada de ruim aconteça, mãe. - ele diz para ela. Ele podia ter 11 anos, mas já era muito maduro para sua idade e compreendia o que acontecia em casa.

- Eu também não, filho, mas infelizmente as coisas nem sempre saem como o planejado. E eu amo você, não importa o que aconteça. Você me mostrou o que é o amor de verdade. Você é o meu primeiro amor, você tem meu coração. Você e seu irmão são tudo pelo que vale a pena lutar. - ela diz e abraça o garoto.

Os dois estavam no quarto de Will e Jay. Ela estava indo colocar eles para dormir, mas sentia que algo não estava indo bem e sabia que precisava sair de casa. Ela não sabia mais o que fazer ou como fazer. Ela estava tentando, estava lutando para que nada de ruim acontecesse, mas não podia mais viver em um ambiente tóxico e terrível com seus filhos ali. Ela nunca quis isso para eles, nunca quis que se sentissem ameaçados em seu próprio lar, mas infelizmente era essa a realidade em que estavam vivendo.

Linstead - Corações QuebradosWhere stories live. Discover now