Interlude - uma conversa do Tempo e o Destino

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HANSOL

[MOROS]

Kairós gostava de costurar.

Era um hobby, algo que um deus primordial, como ela, não costuma ter, mas ela o tinha. Ela costurava vestidos longos como os de princesas da Disney, de todos os tamanhos e cores possíveis, uma das vantagens de poder assumir o corpo que quisesse. Toda vez que ela fazia um novo para si mesma, ela fazia um igual para mim também. Era estranho no começo, talvez por eu ainda ter contato com o mundo exterior e homens em vestidos não era algo comum, mas aceitei usá-los, especialmente porque ela ficava feliz quando eu concordava. Provavelmente concordaria de fazer as coisas mais absurdas só para que ela ficasse feliz, e às vezes me questionava em que ponto deixei de querê-la fora da minha casa até estar usando vestidos por ela e tomando chá com biscoitos como se o mundo não estivesse acabando.

— Você se superou nesse — falei, tentando fechar sozinho os botões que ela colocou nas mangas. Parecia um vestido vitoriano, rosa não era mesmo a minha cor, mas K estava feliz, era o que importava — A costura folgou sozinha, eu nem sabia que você podia fazer linhas mágicas.

— Eu usei as suas linhas... — ela disse, se servindo de chá — Linhas de ouro. Foi um rolo só. Eu juro, de coração — suspirei baixo — Sim, sei que você usa pra transformar em tinta e escrever destino, mas! — deu uma pausa dramática — Eu usei do seu estoque de ligações universais, que você nem usa. E tem o bastante para centenas de deuses trocarem de corpos se precisassem...

— Eu devia agradecer por esse ato de consideração?

— Seria legal — sorri, aceitando a xícara de chá que me ofereceu em seguida — Não há mais magia em Seul — acrescentou, no mesmo tom em que disse que usou minhas linhas para os vestidos, sem grandes preocupações — Os cercos de proteção vão começar a cair pelo país todo.

— Quanto tempo?

— Pouco menos de um mês, se algo mudar. Sendo precisa, 23 dias, nove horas, 14 minutos e... 43 segundos.

— Não soa muito oportuno — ela sorriu.

— Não pra nós, mas com certeza é oportuno para Orin e Sarga. E também parece uma ótima oportunidade de você tentar ajudar.

— O Destino não ajuda ninguém.

— Você ajudou Jeongguk — ela sorriu quando eu fiquei sem resposta — Estão todos em Arcádia, todos os deuses.

— Não estão todos, nós não estamos lá.

— Você entendeu — suspirei, mais uma vez — As coisas estão piorando, sem limites de magia-

— Sabemos o que acontece. Os espíritos e deuses estamos equivalentes agora — e eles não tinham limitações, completei para mim mesmo. Eles poderiam exercer mais influência, oferecer proteção, vantagens, bênçãos... nenhum deles se importava com o equilíbrio, com manter as coisas em ordem, eles poderiam ferrar toda a ordem primordial e talvez o próprio Universo sequer fizesse algo a respeito. Toda vez que escrevia um novo destino, com mais um pai de merda que ferrava a vida dos filhos, eu imaginava se o Universo pensava em si mesmo. Se ele me fazia escrever essas histórias como um lembrete de como havia coisas injustas na vida, e seus pais são geralmente a primeira coisa com que você não dá sorte — Eu sei que você é adepta a ver o lado bom das coisas, mas a chance de todo mundo morrer parece bem grande...

Ela não discutiu, somente tomou seu chá, em silêncio.

— Você pensa sobre isso? Como é morrer... pra nós? — era uma boa pergunta.

Sabíamos como era o outro lado para os humanos, graças a nós eles sabiam pra onde suas almas iam..., mas pra onde nós iriamos? Minha alma como Hansol iria para um lugar e a de Moros para outro? As duas deixariam de existir? Eu até imaginei que a morte de Namjoon supriria minha curiosidade, mas só fez as questões aumentarem, já que ninguém sabia o que aconteceu com o que sobrou dele. Talvez estivesse desaparecido para sempre.

— Se eu morrer e você ficar bem, pode procurar minha alma no submundo? — ela falou e depois riu da minha expressão de julgamento — O que? Não iria querer que eu fizesse o mesmo? — Kairós me conhecia muito bem, porque eu pediria o mesmo.

— Eu quero um período de luto antes, ok? Pelo menos dois meses. Aí você começa a procurar — ela riu e estendeu a mão pra mim, a apertei — Por você eu sofreria mais... Já que você é a deusa do tempo, preciso gastar mais tempo com você. Talvez uns oito meses de luto, talvez um ano.

— Parece um período justo — ela se serviu de mais chá, o sorriso em seu rosto se foi. Os olhos de Kairós mudaram dos castanhos tradicionais, para um tom de verde brilhante, para no fim assumir um preto escuro, que parecia deixar seus olhos maiores — É estupido ter medo?

— Claro que não. Seria estranho não ter medo quando tá tudo dando tão errado — ela ainda parecia apreensiva, eu não gostava de ver essa expressão em seu rosto.

— Quando tudo isso acabar, podemos sair de férias. Ir até a... Grécia?

— Grécia? Nossa, que original, K.

— A gente meio que ficou famoso lá, seria legal voltar às raízes.

— Famoso? Quem é que lembrava do deus Moros? Não lembram nem agora! — ela riu, jogando um biscoitinho que bateu na minha testa — Você também não é famosa, Cronos é mais.

— Ele não é um deus!

— Ninguém lembra disso, tá legal?! — Kairós ria baixinho, a risada dela não era alta e quando ria sinceramente, como naquele momento, ficava tão baixo que nem saia som — Mas! Nós vamos à Grécia. Exigir uma estátua pra mim em algum lugar, ou nomear uma cidade em homenagem a mim. Depois podemos seguir disfarçados, porque quando salvarmos o mundo, seremos muito famosos. Paparazzi. Revistas. Pessoas gritando na rua.

— Esse é com certeza seu sonho. Podemos limpar sua imagem fazendo todo mundo entender que não é culpa sua os destinos serem ruins na maioria das vezes — fingi um suspiro esperançoso, colocando as duas mãos sobre o coração e me jogando dramaticamente sobre a toalha do piquenique.

— Finalmente serei amado...

— Você já é — se eu falei aquilo esperando que ela falasse algo assim? Verdade. Se eu esperava que ela fosse mesmo o fazer? Com certeza não. E provavelmente isso ficou bem claro, porque senti meu rosto esquentar e Kairós começou a rir, chegando mais perto e deitando ao meu lado — Quando tudo isso acabar, eu posso me mudar definitivamente pra Casa Azul.

— S-Seria legal — meu rosto parecia queimar.

— Posso continuar no seu quarto? — ela estava fazendo de propósito, dava pra ver na forma que sorria.

— Você sempre foi má assim?

— Só com você — não respondi, K também não disse nada a mais, ficamos no mais confortável dos silêncios. Por um longo tempo, a ponto de precisar se esforçar pra continuar com os olhos abertos. Foi quando resolvi dizer:

— Eu vou procurar o Taehyung. Não sei como vou ajudar, já que estou igualmente perdido! — seu olhar de julgamento não convenceu, porque ela sabia que era verdade. A gente não sabia de nada — Mas se houver algo que posso fazer... vou tentar.

Era o momento de ir com tudo no jogo. E faria o que fosse necessário para vencer.



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Se tudo der certo deve ter capitulo dia 25/02, encerrando essa primeira fase do arco do Arcádia.

Obrigada pelo amor e apoio <33

HAG: The God Killer - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora