Tentação

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ELENA

Olhei em seus olhos sem entender porque estava tão perplexa. Parecia meio distraída, presa em sua própria consciência. Neste instante – enquanto tentava decifrar os sentimentos dos seus olhos esverdeados – escutei uma porta rangendo. Uma cabine se abriu.

- O que... – tentei dizer, mas a pirata tampou minha boca com uma das mãos, – de novo -  e com a outra me empurrou, e dando passos para trás, encontrei-me em um pequeno compartimento do barco, que me parecia um quarto de dispensa.

O espaço era apertado, e com um movimento rápido intensificado por uma onda do mar que balançou o navio, a mulher foi atirada contra meu corpo, que estava quente e dolorido pela pressão. Nossos lábios estavam separados por poucos milímetros.

Seu corpo estava perfeitamente encaixado ao meu, o quadril, suas pernas entrelaçadas às minhas, mas sua expressão ainda estava alerta, ela parecia inabalável e aquilo não significava nada para ela. Após ser pressionada na parede um lugar pouco iluminado com uma mulher completamente estranha, eu deveria estar com medo –mas não estou.

A respiração acelerada e o tremor de minhas mãos em sua cintura, entregaram-me, e parece que ela também percebeu. Ela soltou uma risada, abafada e curta, num tom de provocação. Senti minhas bochechas arderem, quentes e vermelhas, ao pensar na impressão que ela tem de mim neste momento. Vergonha, pavor, conforto, tudo misturado.

Ao ouvir os passos do marujo se afastarem, ficando mais baixos e desaparecendo de vez, ela olhou em meus olhos, confirmou com a cabeça, recuou alguns centímetros para trás, abrindo espaço. Em seguida abriu a porta lentamente, verificou se não havia ninguém no corredor e fez sinal para que eu saísse da dispensa.

Cautelosamente me dirigi até minha cabine, e quando me virei para agradecer, ela estava apoiada na porta, de braços e pernas cruzados, um sorriso malicioso – que revelava o quanto era desprovida de pudor – e olhos brincalhões. Quase me convenceu de que estava interessada em mim.

- Não vai me convidar para entrar? – Questionou, se referindo a mim desta forma desdenhosa e me olhando cheia de segundas intensões.

- De forma alguma, preciso descansar das emoções de hoje e... – Fui interrompida por uma risada contida.

Ela adora rir das coisas que acontecem comigo.

- Quer dizer que foi emocionante o tempo que passamos juntas? Bom saber. – Novamente, com aquele sorriso besta estampado sem nenhum sinal de cansaço ou preocupação, ela me encarava, olhando no fundo de meus olhos, e depois descendo o olhar para meu vestido: amassado, sujo, um pouco rasgado, que deixava à mostra minha pele e... Céus! Ela estava sorrindo de minha desgraça.

-Chega! – Exclamei, tampando o rasgo que lhe proporcionava aquela visão constrangedora. Entrei no quarto, peguei os sacos de moedas de ouro que eu tinha e lhe entreguei – Isto é para não voltardes de mãos vazias, ou eles suspeitarão de ti.

- Está preocupada comigo? – Indagou ela, arqueando uma das sobrancelhas e abrindo ainda mais o sorriso, provocativa. Aquela mulher me dava nos nervos.

- Tu podes parar de tentar me decifrar? – Disse eu, externalizando, sem querer, meu incômodo - Tire as conclusões que achar pertinentes.

Ela manteve-se parada por 10 segundos me encarando antes de voltar a ficar de pé e dar um paço para trás.

- Quando voltaremos a nos encontrar? – Ela estava com uma expressão descontraída, mas seus olhos transbordavam urgência. É uma boa oportunidade.

- Espero que nunca mais. – Menti. Quando estava prestes a fechar a porta ela exclamou:

- Isso é o que veremos, querida. – Disse de jeito convencido e bobo, mas que me tranquilizou o coração – Bons sonhos!

Eu fechei a porta sem dizer uma só palavra, e escutei seus passos se afastando de minha cabine pelo corredor.

Tem muitas coisas nas quais eu poderia estar pensando neste momento, mas a única pergunta que toma meus pensamentos é: será que vou vê-la novamente?

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Nota da autora

Oiê minha gente, como vcs estão?
Esse sem dúvidas é meu capítulo favorito... O gay panic da Elena pra mim é tudo, e vcs o que acham??
Preciso dizer que tenho um fraco pela Marina??

15 dias de Eros - SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora