ELENA
Quando abri os olhos, olhando em volta sem mover nenhum músculo sequer, percebo que não estou nos meus aposentos. Tento me mexer, mas todos os meus músculos estão doloridos e minha cabeça parecia prestes a explodir. Além disso, não estou sozinha.
Ao meu lado esquerdo, Marina é iluminada pela luz do amanhecer, com o rosto tão perto do meu que eu conseguia sentir sua respiração regular atingindo minha pele. Suas mãos estavam abraçadas ao meu antebraço, e uma de suas pernas estava entrelaçada à minha. Eu estava convicta de que era a imagem mais plena que já vira. Ela parecia tão tranquila e calma, que nada era capaz de acordá-la.
Logo lembrei-me de tudo que a mulher me dissera ontem, e o quanto me odiava e odiava a vida que vivia. A amargura voltou, a raiva já havia passado por conta da dor de cabeça, não conseguia pensar corretamente neste momento.
Apesar do que eu sentia por causa de ontem a noite, escolhi permanecer alí, apenas observando-a e aproveitando seus toques. Em dado momento, ela começou a ofegar, parecia estar em um pesadelo.- Não, não vai não... – a menina começou a murmurar enquanto dormia. Estava com piedade da (nem um pouco, porém aparente) frágil Marina.
Para tentar acalmá-la, envolvi seus ombros com meu braço e trouxe para mais perto, deixando sua cabeça perfeitamente encaixada em meu ombro. Logo percebi que sua respiração voltou ao ritmo normal, e sua expressão se suavizou novamente.
Foi como mágica.
Pouco tempo depois ela acordou, olhando-me com o típico olhar de preguiça e mostrando um de seus sorrisos tortos.
- Como você está? - eu disse, fazendo carinho em seus cabelos bagunçados que faziam um nó.
- Eu quem deveria perguntar, não é? Está se sentindo melhor? - sua expressão de preocupação foi substituída por uma das sobrancelhas erguidas, num tom provocativo - depois de esvaziar uma garrafa de cachaça pela primeira vez, deve estar morrendo... Ao menos se lembra de algo?
- Estou muito bem, - menti, pois meu corpo latejava de dor, porém não poderia dizer isto a ela - E me lembro perfeitamente de tudo - senti minhas bochechas esquentarem, indicando que estava vermelha, e vendo que Marina já tinha percebido precisei mudar de assunto pra não retomar mais lembranças da noite passada - Sinto muito por tudo que fiz aquele dia, não foi justo de minha parte.
Marina franziu o cenho como quem não se importa muito, mas ainda sim disse:
- Está tudo bem , mas pode me dizer o porquê daquilo tudo?
- Certo... – comecei, como se tentasse encontrar as palavras certas que lhe haviam escapado e olhando para qualquer outra coisa que não fossem os olhos verdes de Marina, se não seria incapaz de falar – Estou indo para a Bahia para encontrar meu noivo, por isto não quero mais problemas, mas tu tens e causado muitas emoções ultimamente. É meu dever como filha casar-me com Marcos, fui prometida a ele quando criança e...
- Um instante, Elena – me interrompeu e olhou em meus olhos, esperando que eu dissesse algo – Marcos? Que mora em Salvador? Marcos dos Reis?
- Isto mesmo, como sabes? – A mulher olhou-me com olhar desconfiado e pouco curioso, quase invasor.
Marina começou a rir incontrolavelmente.
O que acontecera? Quando parou de rir, olhou para mim, e começou a me explicar.
-Marcos é um grande amigo meu, mas nunca imaginei que ele iria gostar de mulheres, muito menos se casar com uma. – disse, parecendo em choque, não poderia acreditar.
- Por que estás a dizer isto? Para ofender-me? – Questionei, me senti mesmo ofendida.
Marina mudou de expressão rapidamente, como quem realmente não entende como poderia ter me ofendido.
- De forma alguma, é que Marcos na verdade gosta de homens, como poderia eu imaginar que iria casar-se contigo? Es uma mulher belíssima, porém nada parecida com um homem.
Fiquei pensando por longos instantes. Fazia mesmo sentido: Marcos nunca tivera uma namorada, nunca me contou sobre nenhum de seus amores e andava sempre com rapazes que dizia serem seus amigos e...
- Como pude não perceber antes?! Estava tão claro! Contudo... – Marina se afastou um pouco, sorrindo de canto ao me ver criando consciência de quem era meu noivo – Como isto é possível? Um homem amar outro homem? Nunca vi nada assim.
- Ah minha querida, há muitas coisas das quais tu não deves saber. Ninguém quer que você saiba de algumas coisas, é quase uma regra. Mas... - ela passou uma mecha de cabelo por trás da minha orelha - dois homens podem se amar assim como eu a amo.
- Sim, mas como...?
- Aguarde e verás, o amor surge de muitas formas, querida.
- Bem, poderei ver assim que o efeito colateral – apontei para meu corpo dolorido e machucado - de sofrer por ti passe.
Soltei uma risada abafada, o que fez Marina também sorrir para mim. Gostaria de ficar assim para sempre. Mas faltavam 5 dias até chegarmos à Bahia...
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Oi oi genteGostaram da capa nova??
O "Marcos" da vida real fez pra mim.Essa é uma boa curiosidade: os personagens da história são inspirados em pessoas reais.
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15 dias de Eros - Sáfico
RomanceElena, uma mulher comum nascida e criada na cidade do Rio de Janeiro, amava sua cidade e sua vida, ao lado de Clarice, sua melhor amiga e a quem confidencia muito mais que apenas seus segredos. A jovem fora prometida em casamento para seu melhor am...