Último Suspiro

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MARINA

Já estava anoitecendo, e confesso que estava com tanta saudade de Elena que tentei decidir cantando "bem me quer, mal me quer" se iria ou não à cabine dela, mas me mantive firme, fiquei mesmo magoada com a forma que ela se referiu a mim e à vida que levava por natureza. Minha família sempre fora assim.

E quando este pensamento ficou pequeno demais se comparado ao pouco tempo que temos juntas, me levantei e fui até a porta, quando ia sair, vi que um bilhete estava em baixo da porta. Tinha uma rosa vermelha desenhada com tinta no canto, e uma letra tão bonita que não poderia ter outro escritor se não Elena.

"Vá até a minha cabine para que eu possa me desculpar devidamente. Não irei aguentar ficar mais tempo longe de ti.
Com amor, E"

Amor. Ela mandou com amor. Banhei-me, vesti meu melhor par de calças e a única camisa que possuía, tentei sem sucesso controlar os cachos de meu cabelo e quando achei que estava no mínimo aceitável, fui correndo até seu quarto.

Abri a porta sem me importar se deveria pedir permissão ou não. E esperava qualquer coisa menos o que vi.

ELENA

Passei a tarde inteira preparando um pedido de desculpas a altura de uma despedida.

Roubei algumas rosas vermelhas de uma senhora que dormia na cabine ao lado, algumas comidas da cozinha e uma garrafa de vinho com taças de vidro.

Para quem se considerava alguém incorrupto, me superei.

Cobri meu baú com um lençol para imitar uma mesa e em cima pus toda a comida. Uma jarra com flores e um lampião para manter a luz baixa. Eu concertaria tudo.

Mas quando escrevi o bilhete e coloquei debaixo da porta da cabine de Marina, meu coração estremecia, e latejava num impulso quase incontrolável de entrar naquele quarto e adiantar os exforços. Mas fui forte.

Banhei-me, vesti o melhor vestido que tinha e esperei que ela chegasse sentada no chão.

E foi o que aconteceu.

Quando Marina entrou, meu coração que estava acelerado a sua espera, se acalmou. Se fosse possível, diria que por um momento ele esqueceu de bater.

Ela estava linda, e como se fosse possível, mais que o habitual. Seus cachos molhados brilhavam à luz fraca, seus olhos brilhavam e estava levemente corada. Irresistível, como sempre.

Ela me olhava nos olhos logo após fechar a porta da cabine, esperando que eu falasse alguma coisa, e então me lembrei do que pensei a tarde toda.

- Me desculpe. - disse, me levantando e indo até ela, e parando a um passo de distância - sei que fui tola quando disse aquilo tudo sobre você e sobre como escolheu levar a vida sem nem mesmo conhecer, não fui justa. - ela parecia paralizada, então continuei - Senti sua falta. Mesmo. Me desculpe, amor.

Só percebi como a tinha chamado quando seus olhos brilharam e suas sobrancelhas se ergueram. Ela sorriu quando seus olhos percorreram minha cabine e pararam nas flores dentro da jarra.

- Para quem condenava atos criminosos, saiu-se uma ótima ladra. Sei de onde vieram as flores. - Marina segurou minha mão direita e deu um beijo de leve, voltando seu olhar para mim - Claro que a desculpo, mas espere.

Então a mulher ergueu minha mão, e por um instante senti seu olhar percorrendo minhas vestes. Eu estava sorrindo, não há razão para estar mais feliz do que eu estava.

- Isto tudo é para mim? - Marina sorriu um de seus sorrisos tortos e convencidos. Senti que morreria a qualquer momento. Por deus, acho que estou apaixonada mesmo.

- Não preciso dizer nada, acho que sabes bem como é se arrumar para alguém. Sinto seu perfume daqui, amor. - retruquei e em meio instante a mão livre dela me puxou pela cintura e me trouxe para um beijo.

Profundo, intenso, feroz e bom, inevitavelmente, já que se tratava de Marina. Minha mão escorregou para debaixo debaixo dos cabelos molhados dela, e trazendo-a para mais perto, senti que se pudesse, viveria para sempre assim.

Saímos do beijo o fegantes e vermelhas, mas nos abraçamos.

- Vamos, antes que a comida esfrie.

Nos sentamos de frente uma para a outra e comemos, rimos, e na verdade quase não bebemos o vinho, não era tão bom quanto eu imaginei que seria, e acho que queríamos passar nossa última noite sóbrias. Algumas vezes Marina segurou minha mão por cima da "mesa" e me olhou profundamente, com amor. Não sei se o que sentia era amor, mas sabia que queria permanecer naquele momento para sempre.

Quando terminamos a refeição, Marina se sentou em minha cama, e eu me sentei ao seu lado. Senti que ela evitava me olhar.

Então toquei em sua mão que estava apoiada sobre a cama, e parece que num susto, ela me olhou. Uma súplica.
Ela não precisava pedir, eu também queria.

Se fosse para ser com alguém, seria com Marina.

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Capítulo com as duas, gostaram?
Hehehe capítulo publicado na hora do recreio.
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15 dias de Eros - SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora