Hoje É O Dia de Conhecer Gente Nova?

986 95 5
                                    

Sabe qual a maior sacanagem que uma escola pode fazer? Colocar educação física no primeiro horário num terça feira sendo que tem alguns alunos irresponsáveis (eu) que ficam até de madrugada vendo filmes de terror, comendo Doritos e decidindo qual vai ser a cor de cabelo da próxima semana (eu pinto meu cabelo a cada duas semanas, duas semanas e meia às vezes e eu já estava extrapolando o prazo dessa vez). Isso é total crueldade e eu sou uma total preguiçosa, sedentária e que odeia esportes. Mate-me.

Por sorte eu tinha tido a chance de ter preparado uma roupa de esportes além da que eu estava usando, se não eu estaria ferrada. Quem tem paciência para de manhã cedo se exercitar? Eu que não. E lá estava eu, de shorts, All Stars com taxinhas e uma blusa branca e velha do Mastodon. A professora me odiou de cara, perguntando meu nome e mandando eu entrar em qualquer time. Quando eu percebi, meu time era composto por nerds e garotos com calções gigantes, e a turma do outro lado era composta por meu querido-não-tão –querido Kurt Reyes e mais todo o grupo de esportistas da escola, além da menina louca que me atacou ontem. Ele deu um sorrisinho malvado quando viu isso...Qualquer que fosse o jogo, eu ia morrer.

Todos os meus pertences ficam para o Chief. Descanse em paz, Aska Beckett.

─ O jogo será queimado! – gritou a vaca-mor que chamavam de professora.

A única que me animou foi que eu vi o Adam, gêmeo loiro, e Mary, entrando no meu time. Não sei se ele gostava de mim ou não, mas já era alguma coisa. Dá Mary eu não tinha certeza.

Bom, o jogo começou e eu agradeci pelo gêmeo loiro ser bom naquele jogo e conseguir queimar um monte de gente do time dos psicopatas. Mary também não era a pior jogadora do mundo, na verdade ela até que mandava bem e conseguiu queimar quatro pessoas. Mas como tudo que é bom dura pouco, as duas pessoas que podiam me manter relativamente segura foram queimadas... eu fiquei com medo, o Reyes me olhava com um sorriso totalmente psicopata. Queimada era só um codinome pra homicídio, eu vi isso quando a menina do meu lado jogou a bola em direção a ele e o desgraçado a segurou com força.

Merda.

Eu tentei correr, juro que eu tentei correr, desviar, qualquer coisa que me salvasse da morte. Mas ainda assim, eu senti a bola acertando minha linda cabeça com MUITA força e me jogando no chão, me fazendo bate-la mais ainda. Gente, vocês não tem noção de como doeu!

Eu queria muito ter tido a chance de ver se o Reyes estava feliz ou chocado por quase me matar, mas minha cabeça estava girando, girando, girando... as luzes da quadra sempre foram assim?

─ Kurt é um estupido quando quer, puta merda. - resmungou um garoto que se aproximava e passava os braços por debaixo das minhas pernas, me erguendo em seu colo. Fui reconhecer que ele era o gêmeo loiro, Adam. – Está doendo muito?

Óbvio, meu filho. Experimenta levar uma bolada dessas pra você ver. Controlei meu veneno e apenas assenti com a cabeça.

─ Vou te levar á enfermaria. – ele disse. Ok, ele era forte ou eu que não estava tão gorda quanto pensava.

Eu não sei como ele conseguiu abrir a porta enquanto me carregava, mas de repente estava quente e eu abri os olhos quando já estávamos na enfermaria.

– Meu Deus - eu ouvi uma voz de mulher suspirar.- Ela levou uma bolada do Reyes?

– Pois é.- Adam explicou. – Sempre tem um.

Ele era tão galeroso assim? A enfermeira que tinha cara de vovó, tirou os olhos de um livro, enquanto Adam me carregava pelo quarto e me colocava gentilmente em cima do papel que cobria o colchão de vinil na única cama. Ela me deu uma bolsa de gelo e Adam se sentou num banco bem do lado.

─ Minha madrasta estava certa. – resmunguei.

─Sobre o que em particular? – Adam perguntou, curioso.

─ Faltar aula é saudável. – fechei os olhos e tentei relaxar- Você anda muito com o Reyes?

─ Pode-se dizer que um pouco, sim. – ele disse – Quem se dá mais com ele é o Zach.

─ Acho que eu já sei porque. – olhei pra ele, uma coisa vindo na minha mente – Por que você ainda está aqui? Não devia voltar para a aula?

─ Não sei, tudo é novo pra você, então eu acho que seria melhor, você sabe, nos conhecermos.

Opa, gêmeo loiro! O que você quer dizer, hein?

─ Por que? – eu perguntei inocentemente.

─ Bem, eu não sei. – ele olhou pra mim - Eu só achei que, depois que eu te vi ontem... achei que pudéssemos nos conhecer.

─ Um monte de gente me viu ontem, isso não significa que quero conhece-las. – ele pareceu ficar decepcionado com a minha resposta, me deu pena – Ainda assim vou abrir uma exceção pra você já que você foi umas das únicas pessoas que foi realmente legal comigo até agora.

Ele ficou mais feliz com isso. Não, eu não estava usando ele...até onde eu sabia.

•••

No fim, acabou que esse dia nem foi um inferno se excluir a bolada assassina que eu levei no primeiro horário. Deixei que Adam me “conhecesse” e fizesse “amizade” comigo, fiquei com ele e com o grupo dos rockeiros na hora do almoço, fumando, conversando e comendo embaixo de uma arvore perto do estacionamento – acabei conhecendo umas pessoas bem legais - e prometi que ia ajuda-lo com o trabalho de inglês da turma dele ( ei, eu posso não estudar, mas eu ainda manjo de algumas coisas).

Naquela hora, eu estava na aula de Estudos Humanos com Mary sentada ao meu lado. De fato, eu estava quase dormindo quando o professor chegou e a Mary me deu um tapa na cabeça pra me acordar.

– Bom dia, alunos. - anunciou o professor entrando na sala de aula

Ele fez uma careta quando os seus olhos viram os rostos de todos os alunos da sala. Todos pareciam exaustos, com cara de ontem. Eu não era exceção a regra.

Por que tudo tinha que ser tão chato? Quer dizer, eu começava a considerar a escola verdadeiramente inútil quando se chegava ao primeiro ano do ensino médio, por mim essa parte deveria ser puramente opcional. Até porque desperdiçar anos da sua vida ali, sendo que você nem quer fazer faculdade... é, o sistema educacional não faz sentido.

– Hoje, preparei uma pesquisa. - Ele anunciou e toda a sala vibrou junto, afinal, geralmente as pesquisas eram as melhores desculpa para conversar – Sortearei as duplas e vocês mostrarão para nós quem a pessoa com quem você está fazendo dupla realmente é. Podem usar foto, poesia, desenhos, vídeo. Sejam criativos! Terão de se reunir depois da aula.

E foi arrastar cadeira pra lá e pra cá, gente conversando e gente se enturmando. Fiquei na minha junto com a Mary, com certeza o meu demorou pra sair. O professor ficou anotando os nomes das duplas, sorteando e aquela coisa chata, e enquanto isso acontecia, eu baixei a cabeça e tentei voltar a dormir, nem prestando atenção em quem o professor tinha escolhido pra ser a minha dupla.

Não deu, alguém muito malvado jogou um caderno na minha cabeça. Santa Absolut, não me diga que é...

─ Oi, azulzinha. – ele arrastou a cadeira e sentou do meu lado, no lugar que Mary estivera antes, um sorrisinho cínico no rosto – Acho que estamos juntos nessa.

O que eu fiz para merecer tal castigo? Por que eu não podia ter ficado na mesma turma que o Adam? Seria tudo mais fácil, o Adam é mais simpático... Eu estava com muito medo de o professor ter dado a desculpa perfeita pra ele me incomodar pelo resto dos meus dias em Edgewood.

─ Ainda não te desculpei pela bolada na cara. – resmunguei num tom de “quando sair, apaga a luz”.

─ Desculpa, mas é que às vezes eu me empolgo. – ele se espreguiçou – Não fica com raiva de mim, foi sem querer.

Haha, sei que foi muito sem querer. Mostrei meu dedo do meio pra ele e tentei dormir de novo, pelo menos até o dia em que ele desaparecesse da minha vida de uma vez por todas.

Butterflies and HurricanesOnde histórias criam vida. Descubra agora