Não vou dizer que a “festa da pizza” foi chata por que não foi...excluindo o fato de eu ter que voltar para o colégio com a roupa cheia de ketchup já que rolou uma pequena “guerra” por causa do ultimo pedaço e acabaram nos expulsando de lá – e só pra constar, a Ellie ganhou, porque enquanto eu e o Kurt brigávamos ela deu sumiço no pedaço. Aquela garotinha era totalmente esperta e eu não ia mentir que ela não sabia se aproveitar a das situações... aquela ali tinha seus dons para a maldade.
Bem, vamos dizer que eu fiz uma amiga. E o irmão dela não gostou nada disso.
Mas ao menos ele levou ketchup na cara, o que o deixou parecendo que tinha vindo de uma cena de assassinato. E foi assim que nos arrastamos para a detenção pra pagar nossas dividas com o colégio.
Era uma sala relativamente grande como todas as outras. Já tinha gente ali, não que fosse muita no nível dia de aula normal, e tinham uns exercícios escritos na lousa. Rá, até parece que eu vou fazer.
– Estão atrasados. – O professor Benson falou quando entramos. Ele nos olhou de cima abaixo, provavelmente perguntando o que eram aquelas manchas vermelhas nas roupas dos Reyes e nas minhas, mas não perguntou nada. – Quero uma redação com no mínimo mil palavras sobre o sistema educacional dos EUA.
Eu me sentei na última carteira e resolvi rabiscar no caderno. E pensar no que fazer para passar o tédio por quatro horas seguintes. A Mary tinha me dito que o Sr. Benson sempre começava a ler um livro e acabava dormindo em trinta minutos. O negócio era o seguinte:
1- Eu poderia fazer uma festa na detenção. Às vezes eu fazia isso nos meus colégios antigos.
2- Eu poderia arranjar mais problemas por fazer isso.
Se eu morasse aqui há mais tempo, talvez eu até fizesse, mas eu tinha certeza que meu pai ia ficar muito puto comigo e eu também não queria voltar para a casa da minha mãe. Aí complica, né gente? Poxa, o que eu faço agora? Perturbar o Reyes era meio difícil já que ele tinha feito questão de sentar do outro lado da sala, esse maldito e parecia estar fingindo escrever esperando o Sr. Benson dormir.
No tédio, eu comecei a cantar baixinho e ficar brincando com a minha caneta.
“So I run and hide and tear myself. I'll start again with a brand new name. And eyes that see into infinity…” — A música do 30 Seconds To Mars não saía da minha cabeça e era impossível não cantá-la baixinho. Eram minha segunda banda favorita, fazer o que?
O tempo passou, ou pelos menos eu estava rezando pra que passasse, um cara lá na frente da sala estava roncando, tinha uma menina no celular se aproveitando que o prof estava dormindo, um outro carinha com um videogame portátil e jogando Mario Kart, uns rabiscando no caderno...cara isso é muito chato. E a bosta do ponteiro não se mexia quase nada, mas ao menos o Sr. Benson já estava dormindo.
Decidi acordar o idiota do Reyes. Arranquei uma folha do meu caderno e comecei a escrever:
“Querido idiota...
Acorda! Isso aqui tá muito chato, faz alguma coisa! Você manja que eu sei, levanta essa bunda daí. Ah, desculpa pelo ketchup no olho, mas você mereceu, só pra constar. Sorte sua que não era picante, se não eu ia filmar pra colocar no Youtube e todo mundo ia rir da sua cara. Mas então, que tal fazermos um tratado de paz pelo menos pela detenção? Animar esse lugar, fugir daqui pela janela, sei lá, to topando qualquer coisa pra acabar esse tédio maldito. Não se preocupe, quando sairmos podemos continuar agindo como se quiséssemos cortar as gargantas um do outro. O que eu acho que é você quer fazer mesmo depois da história do ketchup e todas as essas semanas que você vem infernizando minha vida.
Responde logo. “
Amassei o papel e taquei na cabeça dele com força. Ele levantou a cabeça logo em seguida e olhou com uma cara de “Wtf?” para a bola de papel em cima da mesa. Mas pelo menos ele leu e com um cara de quem queria me mandar pastar. Eu só estava me preparando para o festival de xingamentos vindo naquela folha quando ele começou a escrever. Ele tacou o papel em mim e logo abri.
“ Querida (só que não) Beckett...
É por isso que eu estou querendo dormir, ou você é idiota o suficiente pra perceber? Mas de qualquer jeito, concordo. Não vou discordar, fugir daqui parece a melhor ideia do mundo mas pra você jogar ketchup em mim de novo? Não, nem pensar.”
Ai, ele era mal. Mas eu também poderia ser. Não dava para fingir que éramos dois estranhos que acabaram de se conhecer. Assim como também não era possível ficar frente a frente papeando como se não estivéssemos enlouquecendo um ao outro a cada dia. Peguei minha caneta.
“Querido Reyes...
O colégio é UMA DROGA! UMA DROGA! UMA DROGA! Vamos animar isso aqui por favor, só hoje! Já pedi desculpas pelo ketchup. Ofereço uma trégua, mais uma vez. Ou é isso ou ficar no tédio por mais algumas horas e eu sinto que vou me jogar da janela a qualquer momento. Por favor, eu preciso conversar com alguém e você parece a única opção viável.
Se permitir que eu sente na carteira ao seu lado, erga a mão direita. Por favor TT_TT “
Joguei a bola de papel nele e esperei. Ele ergueu uma sobrancelha e leu atentamente – agradeci mentalmente por minha letra não ser tão feia. Eu meio que esperava que ele não me deixasse sentar perto dele, porque aparentemente era rancoroso. Mas eu fiquei realmente surpresa ao vê-lo suspirar e erguer a mão.
Eu praticamente pulei da minha cadeira para a cadeira ao lado dele. Ao encontra-lo, o encarei com a cabeça bem erguida, mas infelizmente ele nada fez ou falou. Então eu peguei meu caderno e fiz um desenho.
— Essa é pra ser você? – ele falou, apontando para o desenho da minha bonequinha segurando uma bandeira onde estava escrito “Paz”.
— Supostamente. – dei de ombros e virei a página – E aqui é você me matando como sei que você sonha.
— Eu nunca disse isso. Mas de qualquer jeito, - ele pegou minha caneta – que tal finalmente fazermos uma parte daquele trabalho chato?
— E desde quando você se importa com isso?
— Desde que eu quero que esse seja meu ultimo ano aqui. – ele rolou os olhos - E então?
— Se é pra fazer, faremos de um jeito divertido. – fechei meu caderno – Vem, vamos lá pra fora.
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Butterflies and Hurricanes
RomanceTudo chega ao limite na vida de Aska Beckett quando é "convidada" á passar um tempo longe do colégio pela "quinta vez" - como se isso não significasse que estava praticamente expulsa. Agora, sendo despachada para morar com seu pai - que por sinal é...