Ellie, A Ruivinha

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– Isso é muito estúpido. – eu disse. Ainda dava para ouvir o barulho do avião que tinha passado por cima da gente há poucos minutos.

– O que? – Reyes perguntou, acendendo outro cigarro.

– Sabe por que eles colocam máscaras de oxigênio nos aviões?

– Para que possamos respirar. – ele deu de ombros como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Oxigênio te deixa chapado. Numa emergência catastrófica, você inspira doses gigantes por causa do pânico. De repente você fica eufórico, dócil. Você aceita o seu destino. Está tudo bem aqui. Pouso de emergência na água ,600 milhas por hora, talvez até uma explosão. Rostos inexpressivos, calmos como vacas Hindus. – eu ri, deitando no banco e usando minha mochila como travesseiro improvisado.

– Essa é, hum... Essa é uma teoria interessante, Beckett.

– É só a verdade, vamos lá tenho certeza que você deve ter uma teoria boa pra alguma coisa. – eu sorri, desafiando-o – Não é possível que você seja tão burro.

– Auto aperfeiçoamento é masturbação. Agora, autodestruição...

Eu acabei rindo dessa coisa sem querer.

– Essa também é uma teoria interessante, parece que você a pratica muito, não é mesmo Kurt?

– Haha, muito engraçada você. – ele rolou os olhos – Aprendeu com quem seu pai?

– É, pode ser que sim. – dei de ombros – E você, aprendeu a ser chato com o seu pai?

Ele pareceu ficar incomodado quando eu disse isso.

– Não, nem um pouco. –então o celular dele tocou – Espera aí.

Ele tirou o celular do bolso e se levantou para ir atender longe de mim, indo até a ponta daquele banco. E eu me perguntei por que eu estava ali com ele. No fim das contas, ele me odiava e eu o odiava no mesmo nível. Talvez isso era o que eu chamava de falta de gente pra conversar...já que ele era o único fora da sala comigo.

E eu não estava planejando nem um pouco ficar para o intervalo.

─ Então, Beckett, eu tenho que ir. – ele voltou, pegando a mochila e o violão – Ligaram da escola da minha irmã, vou busca-la.

─ Você tem irmã? – não que eu já não soubesse.

─ Irmã mais nova, sim. – ele começou a descer.

Eu estava meio louca esse dia, eu só acho.

─ Posso ir junto?

Ele me olhou com a maior cara de “WTF?” do mundo.

─ Vai cara, eu não tenho nada pra fazer. – eu levantei e peguei minha mochila – E eu não vou voltar pra casa pra levar esporro.

─ Não, eu não vou te levar junto. Meu carro vai explodir assim.

─ Nem se eu pagar uma pizza depois? – ele ergueu uma sobrancelha – Vai, Reyes a gente vai ter que voltar de qualquer jeito, estamos na detenção mesmo...

Ok, eu tinha um ponto. E um ponto muito bom com direito a pizza de graça. E eu ainda tinha que colher informações, então...

─ Tá, vem então. – ele disse, mas antes que eu pudesse dar um passo ele me apontou um dedo – Mas vai ter que realmente pagar a pizza pra gente. Minha irmã também vai querer.

•••

Ok, era hora de descobrir se eu tinha jeito com crianças. Não tínhamos trocado muitas palavras a não ser a discursão sobre as músicas da radio que quase ocasionou uma batida. Então finalmente ele parou o carro em frente a um prédio não tão grande como a nossa escola, ao menos de frente já que ele era bem mais extenso se você olhasse pelos lados. Parou no estacionamento quase vazio.

─ Você fica aqui que eu já volto. – ele disse e saiu.

Eu aproveitei pra colocar The Offspring no volume mais alto e baixei o vidro para poder fumar um cigarro. Vi o Reyes entrar em uma porta dupla e sumir lá dentro daquele colégio, seja ele qual fosse( eu nem tinha visto o nome).

Acho, só acho que a falta de uma boa noite de sono estava me afetando, eu ainda iria passar a noite me questionando qual foi a ideia que me deu de querer ir com ele. Tudo bem, ele ia ter que ficar na detenção a tarde comigo também, mas...cara, na boa, eu odeio esse cara. Vou matar o Reyes. Eu tinha que me concentrar.

Lista de coisas não muito legais em Edgewood:

1- Kurt Reyes ser um idiota, egocêntrico e chato.

2- Ele ser filho do melhor amigo do meu pai.

3 - Eu ter sido a desgraçada que ele escolheu pra infernizar sendo que tem várias outras pessoas com quem ele pode fazer isso.

4- Eu ainda ter a possibilidade de ser presa por assassinato e ter que me conter pra não mata-lo.

É, acho que é isso que eu tenho me lembrar.

Alguns minutos depois, ele apareceu acompanhado da mesma garotinha ruiva que eu tinha visto naquele dia. Ela estava usando um vestido azul e aqueles Vans sem cadarço que eu adorava. E lá estava a mochila de bichinho de novo.

Joguei o cigarro fora na hora, baixei o som e me recompus. Sei lá né, não sei se ela é influenciável...

─ Você sabe que isso é meio errado, Ellie. – o Reyes disse, entrando no banco do motorista – Se fizer isso o tempo todo vão suspeitar.

─ Eu não vou fazer o tempo todo, prometo. – a ruivinha sentou no banco de trás e bateu a porta – E essa aí, é a sua namorada?

─ Nem pensar! – eu e o Reyes dissemos em uníssono e depois nos olhamos.

─ Essa é a Aska, uma chata babaca, mas ela falou que vai pagar pizza pra gente. – ele foi logo concertando as coisas – É o mínimo que ela pode fazer por quase me fazer bater o carro.

─ Já falei que a culpa foi sua, cabeçudo. – respondi, a delicadeza em pessoa – Por sinal, prazer Ellie.

O legal era simpática, bem diferente do irmão mais velho. Ela não parava de falar das coisas que fazia na escola, pelo menos das coisas boas, de me contar dos professores... crianças adoram falar né? Mas pelo menos eu não estava entediada, aquela menina tinha cada história...e eu acho que ela não era nem um pouco antissocial, só acho. Ou não tinha a mesma sociopatia do Kurt, sei lá.

─ Cara, eu queria saber desenhar assim. – ela tinha me passado o caderno de desenho pra eu dar uma olhada – Isso aqui devia estar num museu, sei lá.

─ É eu faço essas coisas quando estou entediada. – ela disse, pondo a cabeça por cima do encosto do banco para olhar – Eu gosto.

Eu passei as páginas e encontrei dois desenhos muito interessantes, eles mostravam a mesma pessoa. No primeiro era o Reyes sentado no capô do carro, de costas e em algum lugar alto que permitia ver Edgewood lá embaixo. E no segundo ele estava sentado naquela mesma estatua do parque, acendendo um cigarro. Mesmo que eles não fossem coloridos, eles eram fodas.

Mas o meu lado responsável ( e em parte eu queria provocar o cara) falou mais alto.

─ Eu não acredito que ele fuma na sua frente. – olhei pra ele – Coisa feia, cara.

─ Cala a boca. – ele respondeu – A Ellie não é tão facilmente influenciada, né Ellie?

─ É, relaxa. – a ruivinha disse – Vou querer pizza de mozzarella.

Ah é já tinha quase me esquecido da pizza.

Butterflies and HurricanesOnde histórias criam vida. Descubra agora