Saímos da sala sem fazer nenhum barulho, para não acordar nenhum detento como nós ou o professor. Ficamos andando pelo corredor completamente vazio e a expressão de curiosidade misturada com aborrecimento de Kurt era quase hilária.
— Ok, vamos dizer que, hipoteticamente, - ergui um dedo para deixar claro – você fosse me chamar pra sair...o que você faria pra causar uma boa impressão? O que você me mostraria?
— Sei lá. Deixa eu pensar...– ele deu de ombros – Meus talentos talvez?
Aquilo me fez rir.
— Ah vá, que talentos? – ergui uma sobrancelha. Essa era boa.
– Muito obrigado. – Fingiu-se de ofendido. – Para o seu governo, eu tenho muitos.
– É mesmo? – provoquei – Me diga um!
— Ué, eu toco guitarra, sei um pouco de bateria... – ele coçou a nuca – E segundo umas garotas aí eu sou bom em... sexo. E direção perigosa, tipo Velozes e Furiosos.
— Cara, essa é a resposta mais idiota que eu já ouvi. Me recuso a colocar isso no meu trabalho.
– E qual o seu talento? – Virou-se para mim cruzando os braços.
– Acho que não tenho. – Franzi o cenho.
– Não me enrola, você deve saber fazer alguma coisa legal. Não pode ser tão preguiçosa assim, tem que saber fazer alguma coisa.
— Ah cara, sei lá. Eu toco guitarra, um pouquinho de piano, canto, picho muros, manjo de tinta de cabelo, desenho não tão bem como a sua irmã, pinto... – dei de ombros – Mas isso muita gente faz, então sei lá. Acho que ainda não me descobri.
— Ah coitada. – ele riu – Mas ok, que tal fazermos assim: porque não vamos ao nosso lugar predileto e ao menos predileto do mundo? Escola não conta e que esteja ao nosso alcance, claro.
— Ah seu chato. –reclamei – Mas beleza, eu topo já que você está tão desesperado por nota... Quando começamos?
— Sei lá. – ele deu de ombros- Agora? Só vamos ter que tirar no cara ou coroa pra ver quem começa.
Ele tirou uma moeda do bolso e eu escolhi cara. Eu realmente não queria começar porque eu era novata na cidade, não tinha um lugar predileto ainda...aí fica meio difícil, né? Mas como eu já disse, eu sou azarada e a bosta da moeda deu logo cara.
— Vai. – Kurt guardou a moeda no bolso — Lugar preferido. Pra onde me levaria?
— Posso responder depois? – eu fiz cara de inocente.
Ele franziu a testa.
— Por que você fala assim, Beckett?
— Assim como? – mas que porra ele estava falando?
— Meio assim. – ele falou com um tom meio mal humorado.
— E por que você é chato assim ?– rebati.
— Ué, só você que acha isso.
— Então a mesma resposta pra mim. – encostei-me na parede e deslizei até o chão, me sentando – Tá, essa parada dos lugares a gente vê mais tarde. Vamos pra uma coisa que dá pra resolver agora.
— Tipo? – ele perguntou, sentando ao meu lado.
— Humm...coisas que você nunca fez, que tal?
– Você não vai querer saber. – ele disse.
A conversa estava se tornando muito pessoal, mas eu até que estava gostando.
– Insisto!
— Então tá. Eu falo cinco e você cinco, ok? – concordei – Lá vai: nunca viajei pra fora do estado, nunca assisti O Poderoso Chefão, nunca fui num show de uma banda que eu gosto, nunca tomei sorvete de menta , nunca me dei bem com o meu pai.
— Wow, essa lista é interessante, mas como pode ter tomado sorvete de menta? É tipo a oitava maravilha do mundo!
— Nunca me deu vontade. – ele disse, mudando de posição - Mas e você, o que nunca fez?
— Ah, tanta coisa. Tipo, eu nunca viajei pra fora do país, nunca tive um ramster, nunca assisti Psicose, nunca ganhei um show de talentos, nunc-
Sabe quando o universo resolve que ele quer sacanear você? Pois é, e nem deu tempo de eu falar a ultima coisa que eu nunca fiz. Tudo culpa daquela aranha desgraçada.
Pra deixar claro, eu tenho medo de aranhas. Não no nível aracnofobia, mas eu realmente não gosto delas com suas patinhas e aqueles dentes e aqueles olhos...e uma tinha que subir na minha mão logo agora.
As perninhas da aranha me fizeram cocegas que me pegou desprevenida, então me deram um susto. Gritei de susto e tirei as duas mãos do chão para balança-las que nem uma louca. Mas o universo mais uma vez conspirando contra mim, pela minha santa e sagrada Absolut, fez com que eu despencasse em cima de Kurt e agarrasse ele, com medo da porra da aranha.
Mas pelo menos eu não cai de cara no piso, tudo porque ele me segurou antes que alguma coisa tipo eu quebrar meu nariz acontecesse. Já pensou que lindo ir pra aula de nariz quebrado? Não né.
Tudo aconteceu tão rápido, mas na minha mente foi tudo em câmera lenta. E só quando o susto passou que eu fui me tocar que estava abraçando o desgraçado do Kurt Reyes.
E ele correspondeu, por assim dizer.
Não vou dizer que foi ruim, por que não foi, além do quê deu pra dar uma checadinha nos músculos escondidos por baixo da roupa , mas mesmo assim...
— Ok, você tem medo de aranhas. – ele disse enquanto nos afastávamos um do outro – Anotado.
— Por favor não use isso contra mim. – eu disse, tentando me recompor – Sério.
— Não prometo nada. – ele tirou o celular do bolso – Melhor entrarmos, o sinal já vai tocar pra acordar o Sr.Benson.
— Tem razão.
Ele estendeu a mão pra mim e me ajudou a levantar – oh, então ele podia ser educado – e seguimos para a sala, sentando discretamente de volta aos nossos lugares e aguardando os minutos finais para ganharmos liberdade. E foi nesses minutos finais que eu me peguei imaginando ter o Kurt como amigo...
Eca. Não, por todas as coisas boas na vida, não.
Mas então o sinal finalmente chegou e enfim estávamos livres. Eu peguei minhas coisas e me encaminhei para a porta. Quando já estava no corredor, Kurt passou do meu lado e bagunçou meu cabelo todinho e disse:
— Te vejo amanhã, Aska. – e foi embora.
Santa Absolut, que dia bizarro foi esse?
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Butterflies and Hurricanes
RomanceTudo chega ao limite na vida de Aska Beckett quando é "convidada" á passar um tempo longe do colégio pela "quinta vez" - como se isso não significasse que estava praticamente expulsa. Agora, sendo despachada para morar com seu pai - que por sinal é...