O-O que vo-você?

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Minha cabeça girava. Flashes da noite passada rodavam sobre minha mente me fazendo querer vomitar. Meus sentidos estavam horríveis e o gosto na minha boca era detestável. Minha garganta ardia, pedindo por água. E minha perna esquerda estava dormente por algum motivo

Estiquei meus braços lentamente, tateei a superfície onde eu estava. Era uma cama, muito macia por sinal, acho que era minha. Segui um caminho com minhas mãos até que bati em algo. Algo não, alguém!

Abri os olhos lentamente. Pisquei várias vezes com a luz que atravessava a janela enorme. Era o maldito sol! Bocejei e minha cabeça ardeu. Coloquei a mão sobre a mesma fechando os olhos. Doía muito, eu queria morrer.

– Minha cabeça...Merda!– grunhi.

Encostei a cabeça em minhas mãos e puxei meus cabelos que mais pareciam um ninho azul de pássaros. Fechei os olhos e os abri lentamente. Olhei para o lado e dei um grito agudo.

– Não grita!– ele jogou um travesseiro em mim. Olhei para o gêmeo loiro ali na mesma cama onde eu estava. Ele levou as mãos à cabeça e piscou várias vezes. Havia um corte em sua testa, outro no queixo e um corte na boca.

Me perguntei se o Reyes estava em pior situação.

– O-O que vo-você?... – tentei falar. Ele me olhou confuso. Retribui o olhar. Olhei para minhas roupas. Suspirei. Estava sem camiseta, apenas com meu sutiã do Stich . Ainda me restara a calça jeans, pelo menos. ─ Você caiu por aqui mesmo, Adam?

─ Foi. –ele respondeu, cobrindo a cabeça com um travesseiro – Desculpa, mas eu tava cansado e bêbado...e sangrando. Mas a gente não fez nada, ok?

Isso já me tranquiliza bastante, sério. Ele não parecia estar mentindo.

Mas pra dizer a verdade, eu não lembrava muita coisa além daquele fim desastroso, dele me enfiando num carro, de vagamente ter reclamado que ia morrer o caminho inteiro porque estávamos ambos bêbados...mas depois daí, eu não lembrava de nada.

─ Meu pai não tá sabendo de nada, né? – perguntei, meio preocupada. Meio.

─ Não, se eu me lembro ele tava no quarto quando te arrastei pra dentro...eu acho. – ele deu de ombros – De qualquer jeito foi uma noite divertida.

─ Menos o final. – apontei para os machucados dele – Acho que te devo desculpas por isso aí.

─ Não, a culpa é minha mesmo e da vodka...e em parte do Zach que sabe que não tem uma tolerância muito alta e ainda insiste em fazer merda. – ele riu – Nada demais, sempre acontece.

Eu fiquei encarando-o; esse cara era muito bonito, gentil, fofo, tinha um ótimo gosto musical... Vamos dizer que Adam poderia ser o namorado perfeito, e engraçado que caras assim são tão difíceis de achar que é provável que eles estejam em cidades fim de mundo como Edgewood.

Levantei-me da cama me perguntando o que estávamos fazendo ali ainda. Peguei uma blusa que estava no chão e a primeira calça que eu vi ( eu precisava disfarçar) e me troquei no banheiro. Quando terminei, chamei o loirinho.

─ Vem cá que você não vai enfrentar minha família com essa cara. – justifiquei – Eles vão achar que você é criminoso.

Não que eu pudesse falar alguma coisa, olha quem era o meu pai.

Digamos que eu tive que escutar algumas reclamações por parte do gêmeo loiro. Por sorte, alguém( vulgo minha mãe) tinha lembrado meu pai de deixar uma caixa de primeiros socorros no banheiro. Eu tinha uma tendência a me machucar de vez em quando.

Eu limpei seus machucados e ele soltou um gemido de dor, segurando meu pulso levemente. Enquanto fazia o trabalho eu me perguntava se ele realmente gostava de mim, quer dizer, a briga de ontem tinha sido em parte por minha causa...tudo porque havia me tratado com desdém e isso havia sido o suficiente para ofender o loirinho. Seria um sinal?

─ Terminei.

Trocamos olhares por segundos bem longos. Estava prestes a acontecer alguma coisa ali e eu não sabia bem se queria que acontecesse ou não. Eu gostava dele – talvez não do jeito que eu achava que ele gostava de mim, mas eu gostava.

Não me incomodei quando ele me beijou mais uma vez, até porque eu queria saber a diferença entre eu estar bêbada e sóbria.

Mas ele continuava beijando bem, mesmo com aquele leve gostinho de ferro do machucado dele. Senti o seu corpo quente, contra o meu e um calafrio subiu pelas minhas costas me fazendo soltar um leve e baixo gemido entre os dentes. Ele me prensou contra a parede do banheiro e eu pus minhas mãos em seus cabelos.

Acho que tem karma na minha vida porque ninguém me deixa beijar esse cara.

Ouvi alguém batendo na porta do quarto e ouvi a voz da Mandy do outro lado perguntando se eu queria comer alguma coisa. Me separei dele, nervosa e gritei de volta:

─ Sim! Eu já to indo!

Adam me olhava, com um sorrisinho cheio de significados. Eu querendo voltar pra minha cama e esse cara querendo outras coisas...isso porque ele estava reclamando agora há pouco. Esse cara...

O agarrei pelo pulso e o levei pra fora do quarto, atravessando na maior coragem e descendo as escadas. Estávamos sem sapatos e isso contribuiria para eu expulsa-lo de casa em silencio, caso ninguém estivesse acordado...mas infelizmente todos estavam e era quase hora do almoço. O primeiro a nos receber foi Chief, que soltou um latido direcionado a Adam.

─ Quem é esse bonitinho aí, Aska? - Mandy perguntou, erguendo uma sobrancelha. Ela estava sentada na bancada comendo um pedaço de bolo de chocolate. – Mal chegou e já arranjou namorado?

Essa merda de pergunta fez meu pai – que estava no sofá vendo TV, com uma cara de sono igual a minha mais cedo – olhar para nós dois. Eu não sabia se ele era daquele tipo de pai “não chega perto da minha filha” e eu ia descobrir agora.

•••

─ Não, sério, tá tudo bem. – ele deu de ombros – Seu pai é um cara legal de qualquer jeito.

─ Eu to morrendo de vergonha, você não tem noção. – cobri meu rosto com as mãos – Desculpa, é que eu não conheço muito meu pai e eu não sabia o que ele ia falar.

─ Normal, pais sempre fazem isso...eu acho. - ele retrucou – Esquece isso.

E lá estávamos nós. Dois loucos conversando do lado de fora da minhas casa, debaixo de um céu meio nublado, mas com chance de sol.

Porque meu querido e amado pai tinha falado cada coisa que eu estou sentindo vergonha até agora. Sério, eu não sabia que minha mãe tinha fofocado tanta merda pra ele por telefone, fiquei até assustada quando ele começou a falar enquanto eu e Adam comíamos o bolo de chocolate da Mandy. E eu quase me engasguei e tratei de tirar o loirinho de lá o mais rápido possível.

Acho que meu pai assistia muitas sitcons, porque era desse jeito que os pais faziam para afastar os “pretendentes” da filha, pelo menos nas que eu tinha visto. Aí que vergonha.

Então eu notei que o loirinho aquele sorriso com segundas intensões de novo.

─ Tá pensando em quê, maluco? – resolvi perguntar.

─ Eu podia estar até bêbado, mas é meio difícil esquecer seu Stich. - tá, por que eu não soquei ele naquele momento mesmo? Ah, sim. Estava ocupada demais ficando vermelha. Já era a segunda vez que esse cara via meu sutiã. – De qualquer jeito, eu tenho que ver se o Zach chegou em casa ou foi preso. Até logo, Aska.

Ele me deu um selinho e entrou no carro. E eu fiquei que nem uma retardada, sentindo raiva de mim mesma por ter acordado(por algum motivo misterioso) sem a minha camiseta ou minha jaqueta.

A única coisa boa era que meu pai não sabia que eu tinha bebido até cair na noite passada. Menos mal.

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