Epílogo - A Desgraça Continua

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E o tempo passou, na verdade um ano e meio.

Eu voltei pra casa da minha mãe por um tempo depois da formatura do colégio e senti falta dos dias nada monótonos que eu tive em Edgewood. Da minha madrasta maluca, do meu pai assustando os caras, das festas, até mesmo do Adam gêmeo loiro filho da puta e o Zack gêmeo moreno.

Eu consegui sentir falta de tudo. E eu senti ainda mais falta de brigar e abraçar o Kurt, meu saco de chatice particular. De implicar com ele, de bater nele, das nossas brigas durante as aulas. Óbvio, tinha Skype e tudo mais, mas tinha vezes que realmente não dava só pra se manter por ali. Por que?

Porque, caralho, eu senti MUITO a falta do Kurt e daquela cidadezinha de bosta. Dos seus olhos, do sorriso sarcástico, de quando o cabelo castanho caia no rosto, das suas roupas, do seu perfume, do seu apartamento, da Ellie ruivinha. E eu ficava lembrando das nossas brigas, de todas as vezes que ele me beijava e de como ele me beijava. Era uma abstinência filha da puta e eu tive que aguentar.

Era bem por isso que eu continuava encalhada. Todo mundo namorando, se amando e eu aqui morrendo de saudades do meu capeta arrogante particular. Deviam inventar um sprayzinho repelente de casais, porque tava foda, em todo lugar que eu olhava tinha um.

Santa Absolut que me ajudasse nessas horas.

— Ah vai, se anima filha, - meu pai disse ao me ver sentada na mesa — bebe alguma coisa, sei lá.

Eu não estava muito afim e estava me questionando porque eu tinha ido naquela festa em primeiro lugar. Só porque eu tinha conseguido uma admissão na New York University — coincidentemente junto com Zack que estava estudando Design assim como eu, mas ele também estava se concentrando em tentar fazer seu relacionamento a distancia com Mary(que tinha ido pra Ilinois) funcionar e ainda focar em sua revista em quadrinhos(ainda sem nome) na qual ia retratar desde o dia que cheguei em Edgewood para “torna-la mais interessante”, segundo ele, até a história com o Kurt — e estava morando lá, meu pai tinha achado que seria uma boa ideia eu ir à festa de casamento de um dos amigos dele, que por sinal minha mãe também estava presente pela noiva ser amiga dela também.

Me fizeram até usar vestido. VESTIDO. Era um vestido rosa fúcsia com mangas compridas de renda da mesma cor e eu estava um salto não muito alto(pois eu ainda não sabia andar direito com essas coisas) além de estar usando maquiagem e de meu cabelo não estar mais aquela coisa arco íris de antes — na verdade agora ele só estava da cor natural, castanho, e com as pontas azuis.

Mas aquilo tava muito chato. Eu já tinha ouvido tanta mulher fofocando sobre o namorado e tanta coisa sobre os noivos que eu já estava era com dor de cabeça, mas talvez fosse por culpa dos drinks que eu tinha bebido escondido ou era porque eu era mal amada mesmo e iria acabar virando uma senhora dos gatos.

— Me deixa comer meu bolinho em paz, pai. – reclamei e ele foi conversar com os amigos dele.

Sim, eu tinha roubado uns docinhos da mesa do bolo e nem sabia mais quantos eu tinha comido. Será que tinha a possibilidade de eu sair dali escondido e voltar para o meu apartamento? Bem, eu tinha dinheiro pro táxi e não era como se fosse muito longe dali. Eu poderia até pegar o metrô se quisesse, mas aí ainda ia ter que andar um pouco e eu queria ir direto, entrar em casa e me jogar na cama. Além do mais eu tinha prova na faculdade em algumas semanas e tinha que começar a estudar.

Não estava em clima de festa definitivamente. Assim que eu acabasse esse prato de doces eu iria embora, estava decidido. Avisaria pro primeiro que encontrasse e ia pegar um taxi lá embaixo.

— A cor do amor são cores florescentes. — alguém puxou uma cadeira do meu lado — Mesmo se você estiver cercado de várias pessoas, a pessoa que você ama vai se destacar.

Eu estava prestes a expulsar o ser humano quando eu vi quem é. E será possível que essa desgraça tenha ficado tão sexy de terno? Era um terno preto comum, totalmente bem passado, com uma blusa branca por baixo e algo que eu acho que era para ser uma gravata borboleta mas 1)ele não tinha conseguido amarra-la e veio com ela assim mesmo ao redor do pescoço e meio que escondendo ela por baixo do blazer ou 2) ela estava arrumada como deveria, mas ele deve ter ficado puto e irritado com aquela coisa e desfeito ela no primeiro instante.

Mas cara, ele estava muito bonito. O cabelo arrumado, meio penteado pro lado, os olhos...ah esse desgraçado. Eu tinha quase vinte e um agora, mas ainda não sabia me controlar muito bem sabe? Fiquei meio nervosa. Kurt Filho da Puta Reyes agora era um homem de vinte um anos lindo pra caralho e quase parecia ser gente usando aquele terno.

— Nunca achei que fosse te ver de vestido, Beckett. – ele deu aquele sorriso maldito —Ainda mais rosa, mas não ficou nada mal.

É, era o Kurt mesmo. E eu dei um soco no braço dele.

— Por que você não disse que vinha?! – bati de novo — Vai tomar no cu!

— Para! – ele segurou meu braço — Minha mãe tá aqui, ela conhece a noiva e como eu não tinha nada pra fazer, resolvi vir.

— Então você arrastou sua bunda lá do Canadá pra vir numa festa? — ergui uma sobrancelha — É sério isso?

Não que eu estivesse realmente com raiva dele, talvez só um pouquinho. Mas, tipo, custava ter avisado? Ele me olhou com uma cara de quem pedia desculpas.

— Bem, eu também vim resolver umas coisas porque eu acho que não vou voltar pra Toronto.

Mesmo ele dizendo isso eu não ia me permitir ter esperança. Nada disso, Aska Beckett.

— Vai fazer o que da vida então? – perguntei como quem não queria nada — Quer dizer, voc-

Ele me beijou, me fazendo calar a boca.

Encostei meus lábios nos seus, notando alguma coisa nova. Claro, aquele era definitivamente o Kurt Reyes filho da puta irritante que eu conhecia, mas alguma coisa diferente estava ali, ah se estava. Sua língua entrou na minha boca e eu deixei, ainda tentando descobrir o que era. Talvez porque ele estivesse um pouco mais velho do que da ultima vez e talvez tenha aprendido alguma coisa pelas ruas canadenses, mas eu que não vou perguntar. Pelo menos ali dava para saber que era eu que importava.

Sabe aquela musica da Rihanna “Only Girl( In The World)”? Pois é, agora a letra faz bastante sentido.

— Vou ficar aqui. – ele disse, separando seus lábios dos meus — Ou em qualquer lugar que você vá. É isso que você queria, Aska?

Era meio constrangedor admitir, mas já que ele estava ali...

— Eu quero - murmurei, tomando cuidado para manter a voz estável. - Eu quero tudo isso.

Ele sorriu.

— Então o que você acha de ter um colega de quarto?

Ah idiota. Nem mesmo nessas horas ele para. Mas o que eu ia dizer, não? Ao menos eu teria alguém pra dividir as contas e com certeza seria divertido. Mas isso não era assunto pra se conversar no casamento dos outros.

— Vamos embora, quero tomar jello shots no TGI Fridays. Esse lugar tá chato.– disse, levantando — No caminho a gente conversa.

Ele me seguiu segurando minha mão. Olhamos para aquilo e sorrimos. Era bem óbvio que a desgraça sabia que a minha resposta era sim, mas fazer o que? Eu não ia deixar tão fácil, afinal tudo o que eu menos quero é que isso fique que nem naqueles filmes. Não que eu nunca tenha querido um romance; eu só não imaginava que começaria numa cidade pequena e com o cara mais chato do universo, Kurt Reyes.

Mas isso foi só a primeira parte. Ainda tem muito lugar pra esse furacão que nós somos passar.E muita merda pra acontecer.

FIM

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