Capítulo 8 - Ellen Gardner

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Eu estava finalmente lançando um novo modelo de sapato. Este, em particular, foi o que mais me deu trabalho para ser lançado no mercado. A criação dele foi um tanto complexa, porque quando comecei o desenho, imaginava que ele se encaixaria perfeitamente nos pés de Olívia.

Eu estava apaixonada e, pela primeira vez, estava inspirada a criar um modelo para alguém. Essa mulher não era só dona de uma beleza extraordinária, como também era de uma inteligência surpreendente. Conversar com ela me fazia perder a noção do tempo.

Sua companhia passou a ser a minha favorita em pouco tempo de conversa e em menos de dois meses, nós já estávamos quase namorando. Nos víamos toda semana e eu estava praticamente morando no Rio de Janeiro, só porque sentia falta de sua companhia.

Nesse tempo, eu era adepta do máximo de reuniões on-line que fosse possível porque me doía só pensar em ter que ir para São Paulo e deixá-la sozinha no Rio. A saudade que eu sentia era de outro mundo. Esse sentimento era novidade pra mim.

Apesar de eu sempre saber que tinha algo de diferente em mim, eu nunca tinha me arriscado a ficar com uma mulher. A sensação que eu tive quando me apaixonei por Olívia era de que ninguém no mundo inteiro me faria sentir tudo isso novamente.

Era como se só fizesse sentido pra mim estar com alguém se esse alguém fosse Olívia. A mulher tinha cabelos cacheados longos e pretos, seus lábios eram irresistivelmente carnudos e seus olhos eram bem redondos e pretos. Ela era a mulher mais linda que eu já tinha visto na vida, e olha que eu vi muitas modelos famosas e consideradas as mulheres mais bonitas do Brasil ou do mundo.

Mas como nada na vida são flores, não conseguimos ficar juntas, mesmo que o meu amor por ela fosse enorme, ela me exigia coisas impossíveis de eu oferecer. Então, terminamos pouco antes de completarmos um ano juntas. Além de tudo, ela era bem determinada e teve pulso firme para terminar comigo.

Ela disse que faria de tudo para não precisarmos nos esbarrar nunca mais e que estava terminando enquanto ainda me amava porque não queria que aquele sentimento se tornasse algo ruim. Não tive forças para rebater, tudo o que eu conseguia era sentir que ela estava arrancando um pedaço do meu coração e levando junto, como se meu corpo fosse um açougue e meu coração, só um pedaço de carne.

Depois de Olívia, não dormi mais com muitas mulheres porque não sentia que valia a pena arriscar minha paz e meu sossego por qualquer uma. Sim, ser lésbica em uma família tradicional e conservadora é muito difícil e mesmo que eu não dependesse dos meus pais para nada, não conseguia nem pensar como seria se eles me negassem.

Não posso reclamar de nunca ter recebido amor porque muitas vezes me senti sufocada de tanto que minha mãe me protegia e se preocupava. Ela sempre foi do tipo que diz que ama o tempo inteiro, que gosta de beijos e abraços a cada hora, então eu realmente sempre me senti amada.

Talvez eu tenha me acostumado a receber tanto amor, carinho e atenção dela e por isso não consigo nem pensar em ficar sem ela. Além do mais, ela é minha mãe, ela sempre estaria ali para mim, mas não posso dizer a mesma coisa de Olívia ou de qualquer outra mulher. Tudo é muito incerto, inclusive o amor de uma mulher para outra e eu não estive, nem estou disposta a correr esse risco.

Na época em que estava apaixonada, minha mãe começou a desconfiar de algumas coisas, principalmente porque eu estava quase morando no Rio de Janeiro, sem um motivo racional para isso. Além do mais, sem que eu percebesse, comecei a falar muito de Olívia e estava com ela a maior parte do tempo. Em alguns momentos na minha casa, minha mãe chegou a nos ver juntas.

Isso foi motivo para me dar dor de cabeça, porque ela começou a me questionar algumas coisas que eu, claramente, não soube responder de forma convincente e, a partir daí, ela passou a controlar meus passos e a fazer da minha vida um inferno, já que eu não tinha mais privacidade. Ela queria estar em todos os lugares que eu estava, queria me fazer companhia nas reuniões e até segurava minha bolsa quando eu ia ao banheiro.

Olívia não entendia que eu não podia simplesmente assumir que era lésbica e correr o risco de meus pais nunca mais quererem me ver e, por isso, se separou de mim. Era demais para ela. Ela dizia que não permitiria que eu a enfiasse em um armário de novo, ainda mais porque foi muito difícil para ela sair do seu próprio.

Eu tentava de tudo para mostrar a ela que não precisávamos que o mundo soubesse do amor, bastava nós sabermos do nosso sentimento e eu acreditava firmemente que o que ninguém sabia, ninguém estragava.

Eu sabia que a havia magoado bastante, mas tive bastante esperança de tê-la de volta durante um tempo. Eu esperava que ela fosse voltar, que conseguiríamos conversar para chegar a um acordo, mas isso nunca aconteceu e, desde então, fiquei com apenas algumas mulheres que eu garanti que não faziam ideia de quem eu era.

Também dei um jeito de as manter longe do meu apartamento, de jeito nenhum queria que minha mãe voltasse a desconfiar que minha heterossexualidade era mais falsa do que nota de três reais, então cheguei a pagar algumas diárias de hotel para ter privacidade com minhas "amantes".

Quando fui até uma das minhas lojas para uma visita rotineira, conheci uma cliente que, segundo a gerente e as funcionárias do estabelecimento, era uma grande fã do meu trabalho. Julie era mesmo uma mulher linda e algo dentro de mim ardeu em desejo quando nossos olhos se encontraram.

Uma corrente quente percorreu todo meu corpo quando nossas mãos se tocaram e eu a convidei para um café em um impulso. Quer dizer, não faria mal nos encontrarmos para um café, mas eu sabia lá no fundo que se nos encontrássemos novamente eu não teria o menor controle sobre meus instintos.

Saí da loja em um dilema de emoções, parte de mim queria que ela entrasse em contato comigo para marcarmos o tal café, mas outra parte desejava que ela nunca me mandasse uma mensagem, pois dessa forma eu conseguiria assumir o controle dos meu desejo incontrolável.

Entrei no carro e apertei o cinto de segurança, sentindo minha intimidade pulsar ao lembrar daquela mulher e pensar no que poderíamos fazer juntas. Uau... me arrepiava toda só de pensar.

Eu não tinha muito tempo para ficar em meus devaneios, então liguei o carro e dei partida finalmente para seguir os planos que tinha para continuar aquele dia. Em muitos momentos, foi inevitável pensar em Julie Rodrigues, mas era como um sonho distante, algo quase impossível de acontecer.

Pelo menos era o que eu pensava, já que realmente acreditei que ela não teria coragem de entrar em contato comigo. Se fosse mesmo verdade o que me contaram, ela era uma grande fã do meu trabalho e talvez não se sentisse à vontade para me encontrar, ou não.

Surpreendi-me quando vi uma mensagem de um número desconhecido no meu celular e constatei que era Julie. A vontade de prová-la era enorme e, de repente, me vi sem saída, precisava encontrar aquela mulher mais uma vez, precisava conhecê-la um pouco melhor para torná-la real e parar de sonhar com seu corpo em minha cama.

Desmarquei uma reunião que não era tão importante e a convidei para um café, se ela aceitasse, eu faria de tudo para que passasse a noite comigo, eu precisava provar a mim mesma que era capaz de seduzir Julie.

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Bora começar a conhecer Ellen? Seu ponto de vista? Estou ansiosa para saber o que acharão dessa mulher. 

À sua disposição (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora