Capítulo 11 - Julie Rodrigues

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Achei que encontraria Erica com as roupas que sempre a vejo vestindo na loja, mas me surpreendi quando a encontrei usando um short jeans desfiado, bata ciganinha preta, acessórios super ousados no pescoço, nos dedos e nas orelhas e, claro, uma belíssima sandália preta fechada com detalhes metálicos da Ellen Shoes.

A maquiagem que ela usava também estava completamente fora do padrão que eu costumava ver na loja, onde ela sempre usava tons nudes e discretos. Erica estava com os olhos bem marcados com lápis de olho preto e os cílios extremamente volumosos com o uso do rímel. Os lábios estavam pintados com um batom vermelho fechado e davam um ar de rebeldia a ela.

-Erica, uau! Confesso que não estava esperando mesmo esse visual arrasador! - Confessei boquiaberta.

-Pois é, Ju. Estava mesmo na hora de nos conhecermos de verdade. Vamos? - Ela respondeu, me convidando pra seguirmos caminho até o local que escolhemos para passar um tempo juntas.

Fiquei realmente surpresa com o estilo original de Julie, mas perceber que eu não a conhecia nem um pouco também foi bem frustrante, já que ela era uma das pessoas mais próximas que eu tinha naquele momento. Felizmente, estávamos ali para mudar isso e eu tinha esperança de que aquele fosse apenas o primeiro de muitos momentos em que passaríamos juntas.

O caminho não era longo, muito pelo contrário, andamos cerca de 5 minutos e logo chegamos ao local. Escolhemos uma mesa no lado de dentro do bar, já que não queríamos ficar muito perto da música para que pudéssemos conversar com tranquilidade. Um garçom veio até a nossa mesa e deixou dois cardápios para que escolhêssemos o que queríamos comer e beber e eu comecei a me sentir insegura com os assuntos que poderia abordar com Erica.

Queria tanto falar sobre Ellen, mas tinha medo de que ela achasse que eu estava ali só pra isso, o que não era verdade. Fiquei olhando para o cardápio por mais tempo do que o normal até finalmente decidir pedir um chá gelado de blueberry e uma porção de pastéis de queijo.

-Me conte, Ju, você trabalha com o que exatamente? - Erica perguntou.

-Eu trabalho fazendo revisão de livros na editora. Me formei há alguns anos e esse sempre foi meu sonho, apesar de eu saber que seria difícil me tornar rica com essa profissão. A língua portuguesa sempre me encantou e eu nem conseguia me imaginar em outra função.

-Legal, Ju, fico feliz que trabalhe com o que você gosta.

-Mas e você? Gosta do faz? - Perguntei curiosa.

-Eu gosto sim, gosto de lidar com pessoas, mas não quero ser vendedora para sempre. Eu faço faculdade de moda, confesso que trabalhar na Ellen Shoes foi uma estratégia mesmo, um dia quero poder pleitear um cargo mais alto.

-Isso é definitivamente uma coisa que eu nunca imaginei. Não sei porque demoramos tanto para marcar esse encontro, Erica. é ótimo poder te conhecer melhor.

-Eu digo o mesmo, Ju. E você mora sozinha?

-Sim, moro sozinha há alguns anos. Confesso que gosto da minha própria companhia, poder tomar todas as decisões, lavar a louça a hora que eu quiser e ninguém reclamar caso eu esqueça a toalha em cima da cama depois do banho. - Respondi, rindo um pouco.

-Imagino que deva ser libertador mesmo. Eu moro em uma república, divido um apartamento grande com mais duas meninas. Elas são bem legais, mas não são minhas amigas, sabe? Mas a gente conversa e curte o tempo juntas de vez em quando, a convivência é harmoniosa, então funciona bem para mim.

Eu e Erica conversamos tanto que perdemos a noção do tempo. Conforme o papo foi desenrolando, fomos perdendo os dedos uma com a outra e nos soltamos mais um pouco, rimos muito e foi uma noite extremamente divertida e agradável. Era realmente bom estar com alguém tão legal como ela e poder dizer que agora sim estávamos evoluindo para uma amizade.

Por incrível que pareça, a vontade que eu tinha de falar de Ellen desapareceu enquanto conhecia as particularidades de Erica. Naquele momento, eu consegui ficar muito mais interessada em saber mais sobre a mulher à minha frente do que falar sobre minhas lamentações. Decidi curtir o momento.

É claro que o sentimento de falta que eu tinha de Ellen não sumiu, pelo contrário, ele estava cada vez mais forte. Quando cheguei em casa, tirei minha roupa e fui direto tomar uma ducha de água morna para relaxar e me jogar na cama, eu só queria descansar, dormir e quem sabe ter bons sonhos com a mulher que roubava meus pensamentos todas as vezes que eu não tinha mais o que pensar.

A curiosidade sobre o pacote que Erica me entregou a pedido de Ellen começou a crescer e me dominar... uma coisa muito esquisita, porque quando o vi, a primeira coisa que senti foi um pouco de irritação pela insistência de Ellen, mas ao mesmo tempo, não tive coragem de rejeitar ou jogar fora. Deixei a caixa em cima da minha cômoda, um lugar visível o suficiente para não esquecer que ela estava ali.

Peguei a caixa de uma vez, sentei na minha cama e comecei a descolar a fita adesiva que a fechava nas laterais. Meu coração começava a ficar mais agitado a cada segundo e um frio percorria minha espinha só de me perguntar o que seria que tinha dentro daquele pacote.

Quando tirei a tampa, a primeira coisa que vi foi um envelope, que imaginei ter algum tipo de recado dentro. O conteúdo do pacote estava embalado por papel de seda branco e um cheirinho suave subia até minhas narinas.

Abri o envelope e retirei o papel dobrado de dentro, curiosa para saber o que Ellen havia escrito para mim. Seria um pedido de desculpas? Seria uma forma de me enrolar e fingir que nada daquilo havia acontecido? Eu estava prestes a descobrir.

"Julie,

Espero que não seja tarde demais para me explicar e pedir aos céus que você aceite minhas desculpas pelo que te fiz passar na nossa última vez juntas.

Não espero que entenda, sei que você é uma mulher livre, que preza pela sua liberdade, mas nem tudo é tão fácil quanto parece.

Na maior parte do tempo, tento transmitir uma imagem de poder, de elegância, como se eu fosse inabalável e nada pudesse me atingir, mas a verdade não é essa... venho me escondendo desde que entendo quem eu sou de verdade.

Simplesmente, não tenho ainda um caminho para compartilhar meu verdadeiro eu com meus pais e com o mundo, tenho medo de perder a admiração e o amor das pessoas que mais importam para mim, que são aqueles que me colocaram no mundo.

Não estou pedindo para que aceite essa situação, que me aceite dessa forma, às escondidas, mas que, por favor, não me odeie, não me tire da sua vida como se eu nunca tivesse acontecido.

Espero que goste do conteúdo desta caixa. Escolhi pessoalmente todos os itens, porque imaginei que você gosta de escrever e utilizar esses acessórios meigos de papelaria.

De verdade, estou ansiosa pelo seu retorno.

Com carinho,

Ellen Garner."

Meus olhos estavam um pouco ardidos, as lágrimas não vieram, mas pareciam presas, lutando para sair. Eu estava realmente apaixonada por aquela mulher, aquelas palavras provaram isso, a forma com que me sentia ao imaginá-la escrevendo para mim, escolhendo cada item para compor aquele presente.

Eu sinceramente não sabia se estava pronta para enfrentar todos os desafios que essa paixão me faria enfrentar, mas eu tinha certeza de que estava pronta para arriscar. Peguei o meu celular e desbloqueei o contato dela enquanto sentia meu coração palpitando mais forte do que o normal.

Enviei um simples "oi" e em um piscar de olhos, ela já estava digitando uma resposta para mim... é, talvez eu não estivesse sentindo tudo isso sozinha.

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Lindezaaaaaaas, estou amando escrever para vocês! O livro já está quase todo encaminhado, mas essa Julie tem vontade própria e as vezes, ela muda meus planos sem pedir licença.

Troquei a capa do livro e as capas dos capitulos pra gente dar uma arejada nessa história gostosa, espero que tenham gostado! 

Não esqueçam de deixar o voto e o comentário de vcs aqui. Bjjjjjssss e até o próximo capítulo.

À sua disposição (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora