O silêncio, muitas vezes, dói muito mais do que qualquer palavra dita no calor do momento. Digo isso porque era exatamente o que eu sentia naquele momento. Sinceramente, preferia que Julie gritasse e esbravejasse para cima de mim, mas liberasse de vez o que ela estava sentindo para abrir espaço para nossos momentos felizes juntas.
Eu sabia que tinha pisado muito na bola e estava arrependida, não tinha desculpa para isso, mesmo que meus motivos tenham sido compreensíveis, eu não precisava ser grossa e insensível como eu fui.
Pois é, aquela mulher enigmática estava me amolecendo. Depois de Olívia, é claro que eu não imaginei me abrir tão verdadeiramente de novo para alguma mulher. A questão é que não é que eu estivesse me abrindo, mas Julie parecia ter a chave que destrava meus cadeados, então ela começava a entrar no meu coração sem pedir licença, como quem fosse dona dele.
Eu me sentia confusa. Em alguns momentos, não me sentia tão envolvida, buscava acreditar na hipótese de eu estar chateada por simplesmente tê-la disponível para mim em um dia e no outro não a ter mais.
No fundo, eu sabia que isso era uma tremenda mentira. Eu estava caindo na armadilha de me apaixonar por alguém novamente. Eu realmente esperava ser um pouco mais durona em relação a isso, mas pelo que parece, a gente de fato não consegue ter controle quando o assunto é sentimento.
Como sinal de fumaça, já que Julia havia bloqueado meu contato, preparei um pacote bem especial para enviar para ela. Fui à uma papelaria perto do meu escritório e escolhi absolutamente tudo que me fazia lembrar dela, o que foi muita coisa. Escolhi uma caixa bonita para guardar tudo aquilo. Estava bem satisfeita com o que tinha preparado, era um bom presente, e eu só torcia para ser bom o suficiente para que ela voltasse a falar comigo.
Claro que escrevi também uma carta, na qual escrevi o motivo de ter agido daquela forma, sem me justificar, pelo contrário, assumindo meu erro e me desculpando com ela por ter sido tão grosseira, ela não merecia esse tipo de tratamento.
Não sabia o endereço dela e não queria invadir sua privacidade, achei que poderia ser pior para mim caso eu fizesse isso, não podia usar o meu poder para descobrir algo tão particular agora. Então, decidi enviar o pacote para a loja em que nos conhecemos, ela era uma das clientes mais importantes para o nosso faturamento dessa unidade, logo, o pacote chegaria até Julie de forma rápida.
Os dias foram se passando e nada de eu receber um retorno da morena, começava a ficar ansiosa e nervosa, acreditando que tinha perdido qualquer chance que tive com ela algum dia. Estava perdendo todas as minhas esperanças, por mais que eu lutasse contra mim mesma para mantê-las acesas.
No final de uma noite de tédio, em que eu apreciava uma bela taça de vinho e pensava em como daria tudo para estar na companhia da minha própria Reeba, decidi olhar para o céu, admirar as estrelas, a lua que iluminava aquela escuridão, e em um ímpeto de perseverança (ou desespero), pedi aos céus uma segunda chance.
Todos os dias, eu fechava os olhos e tentava lembrar dos detalhes do rosto dela, não tínhamos uma foto juntas no meu telefone, não conseguia acessar a foto do aplicativo de mensagens porque ela havia me bloqueado e com o sobrenome que eu a conhecia, não conseguia encontrá-la em nenhuma rede social.
Sem esperança, abri nossa conversa e fiquei encarando aquela silhueta característica que indicava ausência de foto de perfil... ah, Julie, como eu gostaria de tocar seu rosto com meus dedos e gravar cada um de seus detalhes agora.
Mais um gole de vinho desceu pela garganta e eu já achava que estava começando a alucinar, talvez eu estivesse fraca e o efeito do álcool tenha chegado mais rápido dessa vez, mas eu poderia jurar estar vendo a foto dela no perfil naquele momento. Pisquei algumas vezes e esfreguei os olhos, arregalando-os em seguida, em busca de encontrar maior foco.
Era real. Eu estava vendo a foto de Julie, será que ela havia me desbloqueado? Será que ela me mandaria mensagem? De repente, o "digitando" apareceu abaixo do seu nome e meu coração simplesmente disparou. Eu tinha certeza de que estava prestes a ter um treco. Eu tive frio na barriga e todo meu corpo parecia formigar, que sensação era aquela?
O status de "digitando" ficou por um tempo na tela, mas me surpreendi quando a única coisa que chegou foi um ligeiro "oi". Tudo bem, era a quebra de um silêncio de muitos dias, de uma infinidade de dias, de um tempo que não queria passar. Não perdi tempo, mal li as duas letras e já comecei a escrever minha resposta.
Nem me importava se ela saberia que eu estava com nossa conversa aberta, nem ligava se ficaria na cara o quanto eu sentia a falta dela, o quanto a minha atitude havia me deixado arrependida e quase amargurada.
Com o passar do tempo, aquela euforia foi passando e dando lugar a angústia e ansiedade, ambas espaçosas demais para me permitir sentir outra coisa. A resposta de Julie não veio. Ainda que eu tivesse aberto meu coração, ainda que eu tivesse feito meu melhor para demonstrar meus sentimentos a ela. Eu não tive retorno.
Sim, era estupidamente difícil fracassar, mas eu não conseguia aceitar a derrota, não conseguia pensar em desistir. A cada novo desafio para conquistar aquela mulher de olhos castanhos, maior era minha determinação para tê-la comigo novamente.
Eu estava decidida: no dia seguinte, daria um jeito de encontrar Julie, ela precisava me escutar, eu precisava escutar o que ela tinha a dizer. Eu tinha a necessidade de saber o que ela estava sentindo, o que eu poderia fazer para conseguir seu perdão.
Definitivamente, eu não deixaria aquela mulher escapar pelos meus dedos. Essa possibilidade estava fora de cogitação.
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Estou cada dia mais apaixonada por essas duas. Em pensar que eu comecei a escrever esse livro despretensiosamente, só pra ver no que ia dar, e agora estou amando o processo criativo dele. Obrigada demais pela participação de vcs aqui, eu to amando ler cada comentário e acompanhar cada notificação que chega no wattpad. Cada voto que vcs deixam é uma motivação a mais pra continuar escrevendo essa história.
Até o próximo capítulo e espero que gostem desse! Bjsssss
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À sua disposição (Romance sáfico)
ChickLitJulie Rodrigues é uma jovem de 26 anos que é apaixonada por uma marca de sapatos. É formada em Letras e trabalha como revisora de uma editora do Rio de Janeiro. Ellen Gardner é estilista e dona da marca de sapatos que Julie tanto ama. Ellen é determ...