Não me lembro quando foi a última vez que o meu coração bateu tão acelerado como naquele momento. Fiquei estagnada na frente da porta, esperando Ellen tocar a campainha. Aqueles minutos demoraram uma eternidade para passar.
Quando a campainha tocou, percebi que minhas mãos estavam suadas, então passei elas no short antes de ir até a porta para abri-la para Ellen. Olhei pelo olho mágico e era ela mesmo, linda como sempre, pronta para arrasar com qualquer coisa que eu tenha planejado para hoje. Eu precisava me recompor para conseguir falar tudo o que estava sentindo.
Abri a porta e a flagrei mirando o chão, acho que ela também estava bem nervosa com a conversa que teríamos. Fiquei pensando o que se passava na cabeça de Ellen naquele momento, será que ela também tinha um discurso pronto? Será que queria só me ouvir?
— Julie, quanto tempo. — Ela rompeu o silêncio que estava instaurado no ar.
— Entra, Ellen. — Eu disse com um meio sorriso no rosto. Eu estava nervosa de verdade.
Ellen entrou e eu fui nos encaminhando até o sofá, precisávamos de conforto para o que estava por vir. Falei para ela ficar à vontade, indicando que se sentasse, e assim fizemos, nos sentamos de frente uma para outra. Eu sentei sobre minha perna dobrada, esfregava uma mão na outra buscando tranquilidade e coragem para aquela conversa.
— Ellen, eu decidi te chamar aqui porque acho que a gente precisa conversar. — Puxei o assunto, mesmo sem saber direito como chegar onde eu gostaria. No fundo, eu tinha medo de não conseguirmos nos resolver.
— Você está certa, eu também tenho muito a te dizer. — Eu acenei em afirmação com a cabeça e respirei fundo antes de continuar.
— Confesso para você que me senti extremamente mal com o que aconteceu no seu apartamento. Eu nunca precisei me esconder de ninguém por conta da minha sexualidade, Ellen. Nem mesmo da minha família. Sempre prezei por ser honesta comigo mesma e com os outros sobre tudo o que sentia e me senti extremamente mal, de verdade. Era como se alguém tivesse me dado um soco no estômago.
— Eu sinto muito, Julie. Não sei o que pensei quando te fiz fazer aquilo. Na verdade, eu já passei por situações bem chatas por não me assumir para minha família, já perdi alguém que era muito importante para mim, mas nunca tive coragem de contar para os meus pais. Minha mãe que estava na porta naquele dia, eu sabia que era ela porque ela é a única pessoa que tem como subir sem eu permitir. Eu não pensei direito, fiquei apavorada de pensar que ela te veria ali, sei que ela faria muitas perguntas e eu não tinha te preparado para respondê-las. Não estou justificando, Julie, espero que entenda, só estou tentando explicar a razão da minha atitude ridícula.
— Obrigada por isso, Ellen. Mas espero que entenda também que isso me deixou uma marca que vai ser difícil de sumir. Eu tenho medo de me entregar a você e passar por algo assim de novo... não sei como vai ser daqui pra frente, mas também não está sendo fácil ficar longe de você, Ellen, eu acho que me envolvi demais. — Os olhos dela ficaram marejados e eu não sabia o que fazer, não esperava isso de Ellen naquele momento. Ela olhou para baixo, passando uma mão sobre a outra.
— Nem sei o que dizer... é um misto de sentimentos, alívio com medo, felicidade com preocupação. Eu pensei em você o tempo inteiro nesses dias, Julie. Nem acredito que você sente o mesmo, fiquei tão preocupada de não ser recíproco.
— É recíproco. — Eu sorri. — Mas tenho medo de me entregar novamente. Vamos ter que ir devagar, preciso respeitar meus limites. Não consigo ir até sua casa novamente por enquanto, então espero que a gente possa se encontrar aqui no meu apartamento.
— Eu estou à sua disposição, Reeba. Eu farei tudo o que puder para reparar o dano que te causei e conquistar sua confiança.
— Eu agradeço muito por isso. — Sorrio e abro os braços, convidando-a para um abraço. Ellen chega mais perto de mim e me abraça, afundando seu rosto no meu pescoço. Eu senti tanto a falta daquela mulher, aquele cheiro inebriante, o som da sua voz no meu ouvido.
Quando nos desvencilhamos do abraço, ficamos próximas demais, os nossos lábios eram quase como um ímã que se atraem com uma força surreal. Beijar Ellen foi inevitável. Era como se fosse a primeira vez que eu estava experienciando aquela sensação, nosso beijo tinha tanta química, tanta sintonia. Era como se tivéssemos sido feitas uma para a outra, nossas bocas se encaixavam como peças de um quebra-cabeça.
O beijo era carinhoso, singelo, calmo, mas tinha uma urgência de dias de atraso. Eu não aguentava mais ficar longe daquela mulher. As mãos de Ellen passeavam pelo meu corpo e as minhas apertavam sua nuca e sua cintura, tentando trazê-la para mais perto de mim.
Era surreal o quanto eu perdia todos os meus controles quando estava sob efeito dela. Eu não tinha planos de fazer amor naquele dia, muito pelo contrário, eu queria ser difícil dessa vez, mas eu não conseguia ir contra os desejos do meu corpo. Tudo o que ele pedia era que ela o dominasse.
Quando percebi, Ellen estava com as costas apoiadas no encosto do sofá e eu estava sentada em seu colo. Os movimentos de vai e vem eram rápidos, mas certamente aquele era o momento de maior carinho que já tivemos juntas. Trocávamos beijos cheios de desejo, carícias repletas de mensagens subliminares que diziam o quanto sentimos falta uma da outra.
Tínhamos acabado de confessar o sentimento que estávamos nutrindo uma pela outra, as máscaras não existiam mais, não tinham mais barreiras. estávamos completamente entregues uma para a outra, sem se importar com o que viria depois, sem sentir o medo da frustração.
Éramos eu e ela, sob as quatro paredes da minha sala de estar.
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Esse final de ano está voando! Estou feliz por estar conseguindo evoluir bastante com a história. Agradeço demais por estarem aqui, tem chegado gente nova toda semana e isso me anima a continuar. Ellen e Julie permeiam minha mente e sinto que preciso terminar essa história logo de tanto que ouço as vozes delas me dizendo o que fazer kkkkk
Volto logo, já estou trabalhando no próximo capítulo e quero compensar essas quase duas semanas sem postar.
Deixem seus votos pra ajudar a história a crescer. Bjsss, obrigada!
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À sua disposição (Romance sáfico)
ChickLitJulie Rodrigues é uma jovem de 26 anos que é apaixonada por uma marca de sapatos. É formada em Letras e trabalha como revisora de uma editora do Rio de Janeiro. Ellen Gardner é estilista e dona da marca de sapatos que Julie tanto ama. Ellen é determ...