Capítulo 20 - Julie Rodrigues

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O encontro com Ellen foi perfeito. A sensação que eu tinha era de que estava vivendo um sonho. Estávamos muito envolvidas, entregues uma para a outra. Os celulares ficaram esquecidos durante todo o encontro, exceto quando tiramos uma foto juntas e vi que ela colocou como protetor de tela.

Fiquei toda boba por tudo ter sido como foi e desejei fortemente que dias como aquele se repetissem com cada vez mais frequência. Eu sei que estou cada dia mais apaixonada por Ellen, mas me sinto com tanto medo de ter alguma decepção. A vida é como uma montanha russa de emoções e disso eu tenho certeza, mas às vezes é difícil controlar o medo. Apesar dele, eu sempre acreditei com potência que quem não se arrisca, não consegue aproveitar as maiores dádivas dessa jornada chamada vida.

Conforme os dias foram passando, nosso envolvimento começou a crescer cada vez mais. Ela me chamava de amor, dizia que queria me ver o tempo inteiro e confessou sentir saudades de mim.

Em um certo dia que estávamos juntas, o celular dela tocou e consegui ver que era sua mãe, ela não atendeu. Aquilo me incomodou um pouco... não sei se eu tinha razão ou se eu estava sendo imatura. Talvez ela não tenha atendido porque não queria interromper nosso momento juntas, mas talvez ela não tenha atendido por medo de que eu ouvisse algo ou a mãe dela desconfiasse.

Eu não queria pressioná-la a contar para a família sobre mim, nem sobre quem ela é, a forma que ela ama. Mas era muito difícil para mim vivenciar essa situação, principalmente porque crescia o medo de ser deixada de lado novamente, como se o que eu estivesse fazendo não fosse certo.

Apesar disso, eu sei a importância de você mesma contar a sua família sobre quem você é de verdade, antes que descubram de outra forma e seja pior. No melhor dos mundos, não precisaríamos dessa etapa, não precisaríamos nos assumir. Realmente, não é fácil, pessoas heterossexuais não precisam disso e nós não devíamos precisar também.

Mas enquanto o mundo não evoluísse, esses processos continuariam sendo necessários. De certa forma, também me senti liberta quando falei para minha mãe que estava apaixonada por outra menina. Esconder quem você é, ter que fingir algo que não existe, é horrível. Não desejo isso a ninguém.

De vez em quando eu tentava conversar com Ellen sobre isso, na tentativa de fazê-la perceber que contar seria melhor para ela. E não tem jeito, eu sei que é muito difícil, mas quando o amor é forte e verdadeiro, o tempo é capaz de tranquilizar as coisas.

Os dias estavam passando cada vez mais depressa, o que eu sentia por aquela mulher estava cada vez mais forte e isso só aumentava também a minha aflição. O medo pode ser paralisante, cabe a nós conseguir seguir mesmo quando ele parece ser maior do que nosso ser.

Eu estava extremamente feliz com o meu trabalho, minha nova função trouxe algumas responsabilidades que estavam me desafiando e eu percebi o quanto sentia falta de desafios no cargo que eu ocupava anteriormente. Com o decorrer do tempo, fui ficando boa e as coisas foram ficando fáceis, mas sempre fui uma pessoa movida a desafios.

Talvez isso tenha deixado meus dias meio corriqueiros e eu agradecia muito ao universo por estar me proporcionando uma evolução quando eu mesma não tinha me diagnosticado ainda que precisava disso.

Durante a semana, Ellen me surpreendeu no meu horário de almoço, me mandando uma mensagem perguntando se eu tinha companhia para comer. Quando desci, ela estava me esperando, linda como sempre.

Coisas pequenas como essa me deixavam sem ar, como se eu estivesse flutuando sobre as nuvens. Essa mulher estava prestes a me deixar doidinha, tanto de amores por ela como de medo de sofrer demais caso algo desse errado.

Como eu era contraditória às vezes, era difícil de entender meus próprios pensamentos. Repetia a mim mesma o tempo inteiro que eu não podia deixar o medo de me machucar impedir que eu vivesse os melhores momentos da minha vida.

— Que surpresa boa é essa, Ellen? — Perguntei dando um beijo rápido em seu rosto. Ela ficou um pouco tímida, mas percebi que não tinha preocupação em seu olhar.

— Pra falar a verdade, Julie, vim aqui por necessidade de te ver. Estava com muita saudade. — Ela falou e puxou minha mão para um abraço. Fiquei completamente sem ação e comecei a sorrir feito boba.

— Eu estava com saudade também. Que bom que conseguiu vir, fico feliz demais. — Ela sorriu, aqueles olhos lindos eram minha perdição.

— Vamos almoçar na steakhouse? Adoro a costelinha com barbecue de lá.

— Eu topo, com certeza deve ser melhor que a salada que eu ia colocar pra dentro hoje. — Respondi rindo e nos encaminhamos para o restaurante.

Indiscutivelmente, a companhia de Ellen era uma das melhores que eu já tinha experimentado na minha vida inteira. O cheiro dela me deixava inebriada às vezes e eu precisava me esforçar para manter o controle ao invés de puxar ela pra perto o tempo inteiro.

Sentamos uma ao lado da outra na poltrona da mesa e ela segurou minha mão por baixo da mesa. É, estava claro para mim que eu já amava aquela mulher, mas não me sentia pronta para dizer isso a ela ainda.

Ellen fez o pedido do nosso almoço e a garçonete trouxe uns pãezinhos para a entrada. Era uma delícia, sempre adorei ir aquele lugar, só não tinha como ir sempre porque não era tão acessível assim.

— Julie, também tem um outro motivo para eu ter vindo te encontrar hoje. Quero conversar com você sobre algo e queria que fosse pessoalmente. — Fiquei nervosa por um momento, limpei minha boca com o guardanapo e assenti para que ela falasse o que precisava. — Já estamos nos conhecendo há algum tempo e eu tenho me sentido cada vez mais envolvida e apaixonada por você. Pensei muito em algumas das nossas conversas e acho que chegou a hora de você conhecer os meus pais. O que você me diz?

— Ellen, nossa, eu não estava esperando por isso. — Falei e puxei algum ar para preencher meus pulmões, que pareciam murchos por um segundo. — Você tem certeza?

— Sim, eu tenho certeza. Sei da importância que você tem na minha vida e quero que eles te conheçam. Não quero contar agora que estamos juntas, porque quero que eles tenham a chance de te conhecer antes de qualquer coisa.

— Se isso é importante pra você, Ellen, eu concordo em almoçar com eles. — Ela sorriu e me abraçou bem forte. Fiquei muito feliz por essa atitude e esperava que ela realmente conseguisse criar coragem.

— Eles me chamaram para almoçar com eles no domingo, falei que eu já tinha um compromisso, mas que eu convidaria a pessoa para o almoço. Minha mãe ficou bem animada de conhecer uma amiga minha, eu quase nunca apresento ninguém pra eles.

— Fico honrada por isso. Espero que tenhamos um almoço agradável e que eles gostem de mim.

— É impossível eles não gostarem de você. — Ellen respondeu, apertando minha mão por baixo da mesa. — Será que depois do almoço conseguimos ir até o meu carro rapidinho? — Ela perguntou e chegou seus lábios perto do pé do meu ouvido para sussurrar — Preciso de um beijo.

Eu me arrepiei toda e balancei a cabeça confirmando enquanto colocava um pedaço do pão na boca. Ellen estava realmente diferente e isso me deixava satisfeita e aliviada. Eu a amava e esperava me sentir bem para contar isso a ela em breve.

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Mais um capítulo fresquinho pra vocês <3 essa história essa semana me ajudou muito a espairecer e me sentir melhor. Espero que gostem do rumo que ela está tomando. Bjssss

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⏰ Última atualização: Mar 09, 2023 ⏰

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